Capítulo 10 - A melhor noite

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Marcelo

--- Chega. --- Digo para mim mesmo, exausto. Jogo minha mochila no sofá e me deito no mesmo, apoiando meu braço sobre os meus olhos, em uma tentativa de sumir do mundo, obviamente, sem sucesso.

--- O que foi agora, Marcelo? --- Débora me pergunta. Posso ouvir sua voz irritante num tom terrivelmente ignorante ecoando pela sala.

--- Débora, dá um tempo, por favor. --- Peço, quase implorando.

--- Sua reunião com a Luísa D'Ávilla não deu certo? --- Ela diz em um tom provocante e cruza os braços.

--- Não, Débora, não deu. --- Digo, retirando o braço de meus olhos, encarando o teto.

--- Mas, sabe... foi até bom ela não ter aceitado ser sua colega, amiga, o que quer que seja. --- Ela diz e eu franzo o cenho. --- Porque talvez o Afonso não iria gostar nadinha da reaproximação de vocês, e nem eu, é claro. --- Me conserto no sofá, olhando fixamente pra Débora. A sigo com o olhar quando ela se movimenta para se sentar ao meu lado.

--- Afonso? --- Pergunto a ela. Quem é esse?

--- Sim, Afonso. --- Ela diz, como se eu já conhecesse o cara.

--- Quem é esse?

--- Luísa não te contou? Bem a cara dela mesmo. --- Ela enrola e não fala.

--- Quem é esse, Débora? --- Repito minha pergunta, já impaciente.

--- O noivo da Luísa. --- Ela responde e eu paraliso. --- E antes que você duvide de mim, ela mesma que me contou que estava noiva, se quiser pode até mesmo perguntar a ela. Ela está noiva do cara que trabalha na casa de carnes ali do lado, tem coisa mais hilária do que essa?

--- N-Noivo... --- Digo a mim mesmo, em meio a um sussurro. --- T-Tá... quem se importa com noivo de Luísa, agora? --- Pergunto, me deitando novamente no sofá, e colocando o braço em cima de meus olhos, novamente. --- Eu só queria me resolver com ela, na verdade, me resolver comigo mesmo, isso sim. E pra sua informação, ela me perdoou, mas cortou qualquer tipo de relação que nós tínhamos.

--- Ainda bem. --- Ela diz.

Nós dois ficamos calados por um tempo, talvez pensando em tudo.

--- Vou tomar um banho. --- Digo e vou até o banheiro do meu quarto. Tranco a porta do mesmo, tiro minhas vestes e entro debaixo do chuveiro.

"Gostaria de poder ficar aqui por horas." --- Penso.

Me lembro de hoje mais cedo na escola. Me lembro de quando cheguei perto de Luísa, de quando toquei seu rosto e de quando ficamos tão próximos que a nossa respiração passou a ser uma só. Me lembro de seus olhos esverdeados e misteriosos me encarando, me lembro de cada expressão de reprovação que ela fez pra mim. Deixo escapar um sorriso ao lembrar de tudo, até mesmo das coisas ruins.

Vê se pode.

"O tempo passa e ela continua linda." --- Penso. Espera, o quê?

Saio do chuveiro. Após me enxugar, enrolo a toalha em minha cintura e me olho no espelho.

Estou corado.

O Sonho e o Futuro (Lucelo)Onde histórias criam vida. Descubra agora