Capítulo 46 - Pesar

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Marcelo

E foi a partir dele.

Foi a partir daquele disparo que Débora travou uma verdadeira guerra, arma contra arma, com os policiais que estavam presentes. Até mesmo Fix se envolveu nisso. Mas eu só pensava em uma coisa:

Luísa e as crianças.

Onde eles estavam, afinal? Fix os levou para algum lugar mas quem garante que estão a salvo? Preciso ver como estão.

Fiquei paralisado por alguns segundos dentro de meus próprios pensamentos. É muita informação. Quando me dei conta, já estava me movendo para ir até a enorme árvore onde, teoricamente, estaria Luísa e as crianças.

— Marcelo, nem se atreva a sair daí! É perigoso. — Fix grita.

— Mas eu preciso ver onde está Luísa e as crianças. Eles estão sozinhos! Não vou ficar aqui parado enquanto vocês brincam de arminha. — Fix chega perto de mim e dá leves batidas em meu peito.

— Ficou louco? Por acaso já olhou para a situação do ambiente?

— Eu morro por eles, se for preciso. — Vendo que Fix não responderá mais nada, saio de perto e vou à procura de Luísa e as crianças.

Por um momento eu achei que fosse morrer enquanto passava por aquele tiroteio.

Passo por algumas árvores e encontro a que eles estavam escondidos. Vou até atrás dela mas...

eles não estão aqui.

Meu coração falha uma batida ao não ver ninguém ali. Volto até o local onde estava acontecendo a confusão e encontro Fix se defendendo de um dos capangas de Débora. Quando ele consegue ferir o homem e o joga no chão, vou até ele.

— Cara, você sabe onde estão as crianças e a Luísa?! — Pergunto, preocupado.

— Eles não estavam atrás daquela árvore escondidos?

— Não estão mais! — Os barulhos de tiro se intensificam e chamam nossa atenção. Dois policiais foram mortos.

— A situação está se agravando.

— Eu estou começando a ficar desesperado.

— Já olhou dentro dos carros?

— Os carros estão muito próximos daqui, eles não estariam lá pela facilidade que a Débora teria de achá-los.

— Falando nela... — Fix percorre seu olhar por todas as pessoas que estavam dentro do tiroteio. — O-Onde a Débora está? — Tento achá-la com os olhos, mas sem sucesso.

— Por acaso estão procurando isso? — Uma voz um tanto familiar surge atrás de nós. Ela fala alto o suficiente para que todos a parassem o que estavam fazendo para vê-la. Os capangas que sobraram em meio àquela "guerra" vão até ela e ficam do seu lado.

Covardes.

— Débora... solta ela. — Fix pede, com calma, para que Débora soltasse Luísa. Ela estava a segurando e com uma arma apontada para sua cabeça. Ela gargalha.

— Você acha que eu sou idiota?

— Eu nunca vou te perdoar se algo acontecer com Luísa por sua culpa. — Com os olhos cheios de água, eu digo.

— E se algo acontecer mas não por minha culpa? Você me perdoaria, baby?

— Você é podre, D-Débora. — Luísa diz com dificuldade. Débora deve ter a agredido o suficiente para que ela ficasse fraca como está.

— Calada!

— Não fale assim com ela! — Eu digo.

— Você não está em condições de exigir nada. Luísa está na palma da minha mão e, até segunda ordem, eu faço o que eu bem entender com ela.

— Se você acha que eu me entregarei pra você, está enganada. Ou você vai soltá-la por bem, ou vai soltá-la por mal. — Débora gargalha.

— E o que você espera que eu queira em troca da vida de Luísa? Você? Meu amor, você só pra mim eu já aceitei que não vou ter. O fato é que, se eu não ter, ela também não vai, e ninguém mais vai. — Débora aperta o braço de Luísa e a mesma pressiona seus olhos. — Eu não tenho mais nada a perder nessa vida, não tenho ninguém, e não faço questão da sobrevivência de nenhum ser humano sequer nessa terra... nem mesmo da sua.

— Você é completamente louca. — Nego com a cabeça.

— Por você. Completamente louca por você, Marcelo. E eu odeio te amar. Ah, como odeio! Você poderia só não ter atravessado o meu caminho, mas já que atravessou, esse é o preço a ser pago. — Enquanto ela gargalha, uma bala acerta seu braço, fazendo Luísa se soltar de seus braços. Luísa corre em minha direção desesperadamente.

Por um momento eu senti que a paz estaria prestes a voltar. Estaria a um milímetro de distância de mim novamente.

Isso, se não fosse por um detalhe.

Um detalhe horrendo.

— Idiota! — Débora berra e aponta a arma para Luísa que ainda estava correndo para perto de mim.

— Cuidado! — Empurro Luísa e ela cai no chão.

— NÃO!!! — Luísa grita.

Sinto um pesar na região do meu peitoral. Olho para baixo e vejo meu peito estourado pela bala e sangue para todos os lados.

E, de repente, tudo fica preto.

O Sonho e o Futuro (Lucelo)Onde histórias criam vida. Descubra agora