Capítulo 5

180 26 23
                                    


Ao longo da primeira semana de janeiro, nevou em Graz de um jeito que Alois nunca tinha visto. Cercada por um vale, a cidade que normalmente se conservava mais ensolarada que as outras, ficara por fim com a mesma aparência das demais.

Nas ruas, crianças brincavam de fazer bonecos com neve suja, enquanto os adultos (incluindo ele) se descabelavam para limpar as calçadas. Raspava a soleira da porta, os dedos enregelados debaixo das luvas, mas ainda faltava um bom pedaço. A ajuda de Otto viria a calhar naquele momento.

Era sábado e ele ainda dormia, deitado no colchão do quarto. Ludwig mexia no nariz dele com uma pena: —Olha, tio! Nem se move...

Alois sacudiu-o: — Anda, Otto! É mais do que hora de... Quê isso, você está ardendo!

Ele entreabriu os olhos: —T-tá quente... Abra a janela...

—Eu já abri, tio. —Ludwig respondeu, assustado.

—Não é o quarto que está quente, é você! Vamos, levanta! — Começou a puxá-lo pelo pijama, flexionando os joelhos, mas Otto mal respondia. Abaixo, podiam ver uma mancha enorme de suor. Correu ao telefone. O irmão de Otto era a melhor escolha numa situação como aquela.

Voltou ao quarto. Sem que tivesse pedido, Ludwig colocara um pano úmido sobre a testa do enfermo.

—Muito bem, Lud. —Fez um cafuné nele.

—Ele vai morrer?

—Claro que não! Não seja bobo.

Quinze minutos depois Wilhelm apareceu, levemente perturbado. Após o exame, deu o diagnóstico: —Parece uma gripe. Vou passar alguns medicamentos, estes são para aliviar a febre. —Deram a Otto os comprimidos com um copo de água.

Ele entregou a receita: —Estes você terá que comprar. Repouso absoluto, bastante água e principalmente evitar oscilação de temperatura. — ele disse, mirando o colchão. —Ele tem que ficar abrigado do vento e da umidade.

—Sim, vou cuidar disso.

—Vamos colocá-lo na cama, seria o ideal. —Após acomodarem-no, a expressão dele pareceu serenar.

Agradecia mais uma vez ao cunhado, quando Ludwig o interrompeu:

—Vocês são irmãos? Por que é que ele não mora com o senhor?

Wilhelm baixou o rosto, sorrindo: —Ludwig, não é? Meu irmão falou de você. Gosta da coleção dele?

Ele confirmou, entusiasmado.

Seu cunhado se despediu então, apertando-lhe a mão como se quisesse quebrar seus dedos: —Qualquer problema, ligue pra minha casa ou pro meu consultório. — Confirmou, querendo se ver livre o mais rápido possível.

Fechou a porta, imaginando o que a adorável família de seu companheiro pensaria. O menino molhava a cama quase toda noite, o que mais poderiam fazer? Também tinha dormido no colchão e nem por isso adoecera. Voltou a atenção para Ludwig: Otto estava de volta à cama deles e isso ele não discutiria, mas precisava que o sobrinho continuasse de boca fechada.

Puxou-o até um canto: —Escuta Lud, não fale com ninguém sobre o Otto e eu dividirmos a mesma cama, entendido?

O menino franziu a testa: —Por quê?

Arqueou os ombros, disfarçando o constrangimento: —Ora, porque ele ficaria chateado que mais alguém soubesse! Dois homens, na mesma cama... Ririam dele e de mim também, ora!

—E por que isso é engraçado?

—Ora, você também não ficaria chateado se não tivesse a sua própria cama?

Dois PaisOnde histórias criam vida. Descubra agora