O automóvel cruzou o portão de pedra com uma águia enorme. Uma série de cercas terminavam em torres dispostas de cada lado. Seguiram em linha reta até um grande pátio enlameado, onde uma multidão enfileirada parecia esperar muito pacientemente por alguma coisa.
Foram recebidos por outro oficial, o homem mais baixinho que Ludwig já vira. Eles se cumprimentaram, erguendo as mãos. ―Lothar, cumprimente Ernest Brunner, o subcomandante daqui. Ele cuida das coisas na minha ausência.
O oficial apontou para seu braço: ―Que foi isso?
Ele se adiantou: ―Um incidente, mas está tudo bem.
―Parabéns, Klaus! Parece um jovenzinho promissor. Então, filho, vai se inscrever na Juventude?
Baixou a cabeça, em silêncio. Klaus se tornou sério, puxando-o: ―Quando lhe perguntarem, deve responder em voz alta e clara. Responda "sim, senhor", agora!
―Sim, senhor. ― respondeu, de má vontade.
―Excelente! ―ele exclamou, antes de um soldado vir, fazendo a saudação e se abaixando para cochichar algo. O homem se voltou para Klaus, parecendo perturbado.
―Algum problema?
―Parece que há uma pequena tentativa de fuga ocorrendo neste momento. Não se preocupe, o seu primo Hans já destacou um grupo para averiguar.
―Ah, e não vão acionar as sirenes?
―Não, quero pegá-los desprevenidos.
~~***~~
Distante das fileiras, Irmã Maria e a família de Klaudia o esperavam bem atrás do galpão de ferramentas. Um a um, Alois os ajudou a passar, primeiro os irmãos, e depois o senhor Becker. Irmã Maria foi por último, murmurando:
― Abençoado seja, senhor Kaufman! Abençoado seja!
―Não desça de boca aberta, Irmã. ―disse a ela, pouco antes de também se esgueirar por dentro da carroça e cair direto na lama.
Yvette lhe estendeu a mão, puxando-o. Em poucos minutos, alcançavam a galeria dos túneis. A natureza fora do campo reverberava em seus ouvidos. Esquilo e Beleza ajudavam o senhor Becker a escalar, enquanto Klaudia carregava o irmãozinho com Maria. As roupas grudavam no corpo conforme ganhavam distância pela paisagem gelada.
De repente, um estrondo. O silêncio que se fez a seguir penetrava como uma faca enquanto encaravam o vazio branco da campina.
―Fujam! ― Esquilo gritou, pouco antes de ser atingido na cabeça e tombar na neve. Disparos vinham de todos os lados e ninguém conseguia decidir para onde correr. Beleza caiu logo depois, com a mão no peito ao mesmo tempo em que Aaron Becker também tombava. Klaudia quis correr até ele, mas Yvette a segurou a tempo. Jogaram-se na neve, onde permaneceram até que os tiros cessassem.
O grupo de guardas emergiu das sombras da floresta, rendendo-os. Zoller apontou o revólver em sua direção: ―Pensaram que podiam enganar a gente, Schwuler?
Os encaravam, mortificados. O filhinho de Aaron começou a chorar alto.
― Quieto, seu fedelho! ― O guarda o arrancou dos braços de Klaudia. Gritaram quando ele pôs o revólver na cabeça do menino e abriu fogo. A garota se debatia, quase enlouquecida enquanto Irmã Maria e Yvette tentavam ampará-la.
Alois baixou o rosto, recebendo um soco na barriga. Caiu sem fôlego, choro e os lamentos ao redor. Não podia acreditar... Fitava aquele horror indescritível. Deus, por quê?
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Dois Pais
Historical FictionÉ 1938 e a Áustria está prestes a se unir à Alemanha nazista em sua cruzada odiosa. Em meio a isso, Alois Kaufman, um barman veterano de guerra, guarda de todos um enorme segredo: seu relacionamento de dez anos com outro homem, Otto Vandenburg, um s...