Capítulo 28

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Já era noite. Passara a viagem testando a resistência das algemas contra o metal da carroceria, mas só o que conseguiu foram golpes de baioneta dos três guardas que o vigiavam. O que Herman queria afinal? Ia executá-lo, mas não o fez. Talvez o quisesse cara a cara com seus superiores. Os guardas o fitavam silenciosos, mas não menos ameaçadores. Baixava os olhos para o fundo da carga, quando o caminhão parou.

Tentou ver onde estavam, mas a portinhola já tinha se fechado. Os guardas recomeçaram a rir. Pensava em como o matariam: enforcamento, talvez? Não, o mais provável era uma bala na cabeça, como Beleza e Esquilo, ou seu pai.

O empurraram para fora, mas não havia nenhuma corte marcial ali, nem campo, nem muro de fuzilamento, nem comandante. Apenas os alpes ao fundo e um chalé.

Cães latiam quando Herman estendeu os braços: ―Bem-vindo à nossa casinha dos prazeres! Você é nosso convidado de honra!

Não conseguia reagir. Soldados o cercaram, xingando-o. Tropeçava, desorientado. O puxaram pelas algemas. Fincou os pés na terra, tentando atrasar seus passos. Um deles pulou em suas costas, tombando-o no chão. Rasgaram a batina que vestia. Desesperado, Alois tentou mordê-lo, mas ele se esquivou. Um outro o acertou com um soco. Quando deu por si, já estava nu. Tornaram a puxá-lo, arrastando-o até o chalé.

O chefe da tropa sorriu. Seguravam-no rente ao chão quando Herman se aproximou, com uma mordaça: ―Você vai gostar disso. ― "Malditos", era só o que conseguia pensar. Amarraram-no pelos pés e mãos, suspendendo-o. Mal podia erguer a cabeça quando eles se aproximaram. Tremeu, desejando em vão que tudo terminasse o mais rápido possível.

Herman ria: ― Quando a gente acabar, não vai sobrar nada...

Mordeu a tira de pano: queria gritar, precisava gritar, mas não podia. Só conseguia gerar os sons de alguém incapaz de se defender, incapaz de qualquer coisa. Fechava os olhos, mas eles continuavam ali, os cheiros e toques horrendos. Não havia escapatória, não havia clemência, sua vontade não valia nada; ele não valia nada.

O atiraram num porão. Se apoiou no chão de terra, sem forças.

―Vejam como ele sangra! ―Herman gargalhava. Virou o rosto a tempo de ver a porta fechando. Não tinha mais a venda, mas isso já não fazia diferença. Aquele grito nunca mais sairia de dentro dele.


~~***~~

Acordou com a porta rangendo. Se arrastou, tentando se esconder. Era ele.

—Pronto para o seu primeiro passeio, Cachorrinho?

Franzia as sobrancelhas, confuso, quando ele o laçou com um cinto em volta do pescoço. Tentava se livrar, mas Herman começou a arrastá-lo pelo piso, rindo: —Vamos! Não me diga que se cansou da farra de ontem! — Alois levava as mãos à garganta, mas algemado, era impossível lutar. Chegou quase sufocado à cozinha, onde ele o soltou.

Se curvou sem ar, os ombros trêmulos. Ergueu o rosto: —Toque em mim de novo e eu te mato, desgraçado! — disse, mas pouco pode fazer quando ele o chutou à altura do pulmão. Encolhido, só lhe restou deixar que Herman se aproximasse, sussurrando: — Aceite, Alois: você é meu.

Ele se afastou e retornou depois, com uma caixa. —Um presentinho pra você. —Ele levantou a tampa. Para sua surpresa, era apenas uma torta.

Strudel! Você gosta, não? Eu me lembro, você comia como um cavalo, menos antes de voar. Faz mal voar de barriga cheia, você dizia...

Encarou-o, perplexo demais para reagir. Ele sorria: —Vai me dizer que aquele gordo imbecil nunca te comprou uma? Vamos, sei que você tem fome. — dizia, colocando-a bem à frente dele.

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