Capítulo 15

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A imponente fazenda que Klaus comprara fazia jus à descrição: "lar dos sonhos". Sigrid rezava para que fosse um lar para aquele garotinho também. Os olhos dele eram tão tristes, como se tivessem visto coisas que uma criança não deveria ver. Encurvou-se.

Klaus sempre quisera um filho. Queria ensiná-lo a caçar, a amar a pátria e ao Führer, as coisas próprias de um homem alemão. Entretanto, quis Deus que fracassasse em todas as tentativas de lhe dar esse presente. Tinham quatro filhas lindas e saudáveis, mas sentia-se mal por ele, especialmente depois do doutor ter-lhe dito que uma quinta gravidez seria "arriscada". Ficara arrasada e incapaz de encarar as esposas dos outros oficiais, até ele sugerir que adotassem um.

― Um menino de Graz, a sua cidade Natal. ― Os olhos dele brilhavam na ocasião. Perguntou às filhas o que achavam, mas Klaus não prestou muita atenção à resposta delas.

Um filho, para ser amado e admirado. Aquela fagulha de esperança apagou-se assim que entraram naquele lugar decadente: ele era lindo sim, mas faltava-lhe o encanto. Talvez fosse só uma impressão tola. O que poderiam esperar naquelas circunstâncias?

Estacionaram. Ele desceu, encarando o chão. Se ao menos as meninas estivessem ali poderiam recebe-lo, mas estavam todas na escola. Quer dizer, todas menos Lisle. Desde que anunciaram a adoção, ela começara a ter dores de cabeça, enjoos... Provavelmente sentia-se deixada de lado. Precisavam conversar sobre isto.

Seu marido abriu um enorme sorriso: ―Sua nova casa! ― O garoto mal reagia, apenas mirava-os com aquele olhar vago. Se perguntava se tinham mesmo tomado a decisão certa.

―Herta, sirva o almoço, quero tudo perfeito! ― ordenou ele à velha empregada: ― Preciso agradecer ao Herman pela recomendação. Com licença, Lothar!

Ludwig ou melhor, Lothar. Parecia que o nome antigo dele se entranhara em seu cérebro e não queria desgrudar tão cedo. Achava que ao menos agora ele esboçaria um sorriso, vendo-se num lugar agradável, mas ele mal levantara o rosto. Talvez não tivesse gostado do nome escolhido. Murmurou: ―Ludwig?

Ele ergueu os olhos de súbito, mas nada lhe saía dos lábios.

Sorriu: ―Gosta do seu nome antigo? Pode mantê-lo se quiser, eu falarei com Klaus. Ele quer muito ser o seu pai. ― Ele voltou a encarar o chão.

Tocou o rostinho dele: ―E eu quero ser a sua mãe. E você, quer ser o meu filho? — perguntou, em expectativa.

O menino negou com a cabeça.

―Por que não? ― Ele subiu depressa as escadas.

Klaus voltou à sala: ―Conversando?

―Um pouco... ― Desamassava o vestido de linho florido.

― Aonde ele foi? ― seu marido perguntou, com a testa franzida: ―Ele disse alguma coisa?

―Deve ter ido ver o quarto. ― Passava a mão de leve pelo rosto, certificando-se de esconder as lágrimas.


~~***~~

O lugar mais se parecia mais com uma loja, de tão abarrotado de brinquedos. Pela janela via a imensidão dos campos cercados por florestas e montanhas. Vacas eram uma novidade, ainda que detestável. Se curvou, visualizando o espaço entre uma meia-água e outra, imaginando o quanto doeria pular dali. Pegou um dos vasos de flores no peitoril e fez um teste: ele se espatifou, cacos rolando pela neve. Suspirou; se ao menos pudesse voar para longe... As palavras da mulher ecoavam em sua cabeça: "Ele quer muito ser seu pai."

Lembrou das mãos pressionando sua garganta. Abraçou o travesseiro. Não entendia como podiam achar que estaria mais seguro ali do que com seu tio. Por mais nervoso que ele fosse, nunca o esganaria.

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