Capítulo 11

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Ficou em silêncio durante todo o jantar, ouvindo Ludwig tagarelar sobre o que faria em Yorkshire, enquanto Otto descrevia a paisagem da região:

—Vai ver quando chegarmos! Tem um lago cheio de patinhos, é uma coisa muito fofa! Quer dizer, minha sobrinha acha fofos...Não é, Al?

—Quê? Ah, sim... — Se limitou a concordar, distraído; só conseguia pensar naquela maldita ameaça. Apertou o garfo com força sobre as batatas no prato.

—Tudo bem, tio?

—Sim... — Soltou o garfo, olhando o sobrinho. Em parte, Herman estava certo: não poderiam enganar Ludwig para sempre. Partiria o coração dele saber o quanto mentira por todo aquele tempo, e justo ele, em quem o menino mais confiava. Por outro lado, não conseguia imaginar sua vida sem Otto nela.

Seu companheiro se inclinou, cutucando-o: —Você parece pálido, voltou a fumar? Está me ouvindo? Hum?

Bateu na mesa: —Desgraçado!

—Nossa, o que deu em você? —O encaravam, confusos.

Se levantou: —Me desculpem, só preciso de um tempo.

Saía da cozinha quando Otto o pegou pelo braço: —O que há? Aconteceu alguma coisa...

Não fazia sentido fingir que estava tudo bem. Esperava que o perdoasse: —Aconteceu: o Herman, ele sabe.

—Como assim? ―murmurou, como se ainda houvesse dúvida.

Tudo. De nós, do meu passado... Ele descobriu de algum modo e... —hesitou, num misto de culpa e derrota: — me deu até amanhã pra te mandar embora. — Aquelas palavras arranharam sua garganta como se fossem feitas de areia.

O companheiro baixou o rosto, perplexo. Deixaram o menino jantando e se trancaram no quarto, onde explicou o ocorrido.

Ele balançava a cabeça, em negação: — Como ele descobriu?

—Ele é o chefe da polícia secreta daqui, deve ter dezenas de informantes. Devia ter suspeitado quando o vi tão cheio de amigos...— Otto se calou, assombrado. Continuou: —Eu fui fichado durante a guerra. Sabe, aquela coisinha pela qual eu passei seis meses numa prisão nojenta? Se você mata um homem, ganha uma medalha, mas se é pego beijando um, vai pra cadeia. Naturalmente, ele encontrou esses arquivos.

Seu companheiro permanecia em silêncio, como que processando aquele golpe: —Então é isso. Eu tenho que ir. —Os olhos dele tremeluziam, lacrimejando.

—Não. É claro que não. —Coçou a nuca, andando de um lado para o outro do quarto: —Ele me deu um prazo, disse que não queria me denunciar. Tenho até o meio-dia de amanhã, do contrário, ele leva toda a papelada pra delegacia.

—Então vamos embora agora mesmo! —Otto o agarrava pelo braço e Alois teve raiva de vê-lo sendo tão ingênuo:

—Esqueceu, está cheio de soldados por aí! Ele veria o seu carro e suspeitaria que estamos fugindo.

—E o que fazemos? — Se encaravam, sem respostas, quando escutaram algo se quebrando no andar de baixo. Encontraram o menino chorando, com a garrafa de ketchup espatifada no chão.

Tirou-o de perto dos cacos: — Deixa pra lá —falava, e uma ideia reluziu em sua mente: —Escuta, que tal uma visitinha a sua família, Otto? Acho que o Ludwig adoraria brincar com os seus sobrinhos.

—Vamos passear? Oba!

O companheiro o mirava, pasmo: —O que está planejando? Eles partem amanhã...

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