Capítulo 17

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Alois encarava as paredes lamacentas, sem saber desde quando fazia aquilo. Apesar do frio do lado de fora, sentia-se em um banho turco. Umedecia os lábios, imaginando quanto demoraria para começar a ver aquela água escura sobre seus pés como potável. Descobria o significado do desespero a que eles se referiam ao falar do poço. O lodo gelado cobria seus tornozelos, o fedor insuportável subindo cada vez que se movia. Se recostava na parede úmida e grudenta, a mistura confusa de barulhos externos e sua respiração ofegante sendo suas únicas companhias. Sobre si a escuridão, densa como o piche que Yvette atirou no rosto do estuprador. Ao menos eles tiveram o que mereciam.

Tocou a ferida em seu ombro, franzindo o rosto; o comandante falara uma semana. Riu desesperado: uma semana e estaria morto. Seus sapatos começavam a grudar na pele murcha dos pés. Tateava, procurando uma pedra solta ou um relevo onde pudesse subir e se afastar da água, mas era em vão. O máximo que podia era revezar, ora levantando um pé, ora o outro, a lama escorrendo cada vez que o fazia.

Despertou com alguma coisa passeando sobre si. Chutou-a e ouviu um guincho. Um rato, com certeza. Ouvira centenas deles guinchando nas trincheiras, nunca mais confundiria aquele som com outra coisa na vida. Se tivesse a chance, o maldito não tardaria a roê-lo enquanto dormisse. Acordado, aguçava os ouvidos, mas pouco podia fazer no escuro. Como queria Barão ali agora...

O cansaço somou-se à fome e à sede. Precisava beber alguma coisa, qualquer coisa. Começava a se imaginar bebendo a própria urina, quando escutou a tampa tamborilando de leve, seguida por uma queda súbita de temperatura. O cheiro de umidade chegou doce ao seu nariz: chuva. Depressa, juntou as mãos, aparando a água que pingava da tampa. Saciada a sede, o medo permanecia.

A chuva aumentava. Podia ouvir um ruído distante se amplificando. A água escorria aos cântaros para dentro do poço. Já batia em suas canelas, cobrindo-as pouco tempo depois. Tentava afastar aquela preocupação quando ratos caíram em cima dele, tentando escalar a parede. Considerou se aquela também devia ser sua reação.

Berrou o mais alto que podia: ―SOCORRO! ―Já não temia os guardas, apenas pensava na água sobre seus joelhos: ―Pelo amor de Deus, me tirem daqui! Me tirem daqui, desgraçados! ― seus gritos ecoavam, sem resposta.

Tentava escalar as paredes, mas só deslizava e parava no mesmo lugar, a água na cintura. Um rato nadava ao seu redor, tentando escalá-lo com seus pezinhos repugnantes. Arremessou-o longe, ouvindo a tampa balançar acima de si. Devia haver um cadeado impedindo que se abrisse. Segurou o crucifixo, o ronco da água sobre a tampa aumentando assim como os guinchos desesperados do roedor. "Por favor, Deus, não me deixe morrer afogado aqui!"

A tampa cedeu com um estrondo. Gritou antes que a água o cobrisse. Atirado contra a parede, batia braços e pernas, tentando não se desesperar. Subia em tal velocidade que não tardou a esticar a mão e sentir a tampa a menos de dois palmos de sua cabeça. Ela deslizara um pouco para fora, deixando entrar aquela enchente, mas uma corrente ainda a segurava no lugar. Parou de socá-la, vendo o céu enevoado pela fresta, o espaço pequeno demais para que ele passasse. Era isso, concluiu: nunca mais veria Ludwig ou Otto, nem poderia pedir desculpas por todo o mal que lhes causara. Largou a tampa, boiando na imundície. O rato escalava a parede de pedra a sua frente, a cauda balançando conforme desaparecia parede adentro.

Apertou os olhos: havia uma fenda entre as pedras, por onde podia vê-lo sentado do outro lado. Pensava estar delirando, mas assim que seus dedos entraram no vão, viu que era real! Esmurrou a parede com força, depois com raiva e desespero. Continuou socando até que ela finalmente cedeu.

Batia contra as rochas, tentando apalpar o vazio que havia entre o chão e o ar... ah, como era bom voltar a sentir o ar no rosto! Caíra dentro de uma espécie de caverna. E lá estava seu colega de confinamento sobre a pedra, limpando o focinho com as patas. Murmurou um "obrigado" ao passar por ele. O que pensara ser uma caverna era na verdade uma mina abandonada, com três enormes túneis no paredão rochoso. Decidiu explorá-los.

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