Capítulo 13

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Ludwig massageou a bochecha, cuspindo uma bolha de sangue no carro. Ao vê-lo fazer isso, a mulher enorme sentada ao seu lado lhe deu um murro: —Idiota!

Se encolheu de dor. Queria que seu tio estivesse ali, ou Otto. Passavam por ruas desconhecidas, achou até que estivessem em outra cidade. Tentava identificar qualquer coisa familiar, mas só via vidraças e janelas quebradas, onde haviam escrito "Ratos judeus", junto com aquelas cruzes retorcidas. Lembrou-se daquele dia na padaria, de Klaudia ferida e daquele guarda mau. Seu tio parecia bravo, mas não fez nada no fim das contas. E depois aquele mesmo guarda e aqueles homens vestidos de preto os prenderam e ali estava agora. Como ele o encontraria?

Algumas lágrimas lhe desceram pelo rosto. A mulher de terninho agarrou seu braço: —Chore por esses judeus imundos e eu arranco sua orelha! — Conteve-se.

Pararam em frente a um prédio feio e estreito; parecia a casa mal-assombrada do filme que vira com Gretel uma vez. Entraram numa sala. Uma senhora mais calma mandou que estendesse a mão e mergulhou seus dedos na espoja com tinta, carimbando-os num papel cheio de coisas escritas.

O guarda que os acompanhava telefonou: —Capitão Herman, Wenner falando, senhor! O garotinho daquela prisão já está entregue. Isso, daqueles depravados... —Não gostou do risinho dele. Não entendia por que os chamavam assim.

O homem fez um cafuné em sua cabeça, para seu desgosto: —Está no abrigo da rua Wolfgang, será que o senhor poderia...—Ditou à secretária: — "Ludwig Kaufman, com um "n" só. Idade: nove anos. Ascendência: Klara Kaufman, falecida; pai: desconhecido. Natural de Graz."

Arregalou os olhos: sabiam tudo sobre ele. Será que eram espiões também, como Otto? Talvez tivessem sido descobertos, como seu tio temia...

A mulher sentada a frente dele carimbou o documento, guardando-o numa pasta: — Pobrezinho ... Deve ter sofrido demais nas mãos deles. — Ela suspirava.

Não respondeu: ou eram todos loucos, ou estavam todos contra seu tio e Otto.

—Vamos, garoto! —O forçaram a adentrar o prédio mofado. Era como o laboratório da Rainha Má da Branca de Neve, com a enorme diferença de que não estava sentado numa poltrona com Gretel atirando pipoca nas pessoas. Dentro dos quartos via bebês seminus com lençóis amarelados estendidos no meio dos cômodos, crianças pequenas brincando com penicos sujos. O cheiro era insuportável. Ela o empurrou dizendo "Fique aí!" e foi embora. Suspirou. Ao menos não a tinha mais sobre seu cangote.

Outros meninos se aproximaram: —Você é o violentado, né?

Não respondeu. Primeiro, porque o menino era mais alto e mais forte que ele; segundo, porque não sabia bem o que ele queria dizer com "violentado". Se o que ele queria dizer era ter a família levada à força dele e tomar uma bofetada e um murro, então, a resposta seria sim.

—Entendi. —ele disse frente ao silêncio.

"Não, você não entendeu", queria dizer. "Nem eu entendo o que aconteceu, que dirá você". O garoto continuava a encará-lo, e Ludwig reparou que a orelha esquerda dele tinha um pedaço faltando. Desviou o olhar, com medo.

—Qual o seu nome?

—Ludwig. — respondeu, ainda desconfiado.

O menino sorriu: —Eu sou Aksel — E se dirigiu aos outros: —Se alguém aqui implicar com ele, vai apanhar! —Aksel lhe mostrou as dependências do lugar e ensinou como roubar biscoitos da cozinha. Sentiu-se sortudo por ter despertado a simpatia dele, mas pensava muito mais em sua casa.

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