Capítulo 1

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- Salvador, Bahia -

Eram seis e meia da manhã quando Carolina entrou no hall do prédio, toda suada e ainda sentindo os efeitos da endorfina que a corrida matinal lhe proporcionava. Olhou pra escada e depois para o elevador, numa dúvida cruel. Sentia-se cansada e ao mesmo tempo sabia que a maratona do seu dia mal tinha começado, mas mesmo assim, obrigou o corpo a subir pelas escadas, no mesmo ritmo da caminhada e respirando fundo.

Uma garrafa de água e um banho tomado depois, andou pelo corredor e entrou lentamente pela porta entreaberta do quarto mais colorido que conhecia. Teve 5 segundos de dúvida e pânico ao ver a cama vazia, e no momento em que ia se virar pra questionar a diarista, sentiu algo gritar e pular em seu colo.
_Bu!! - Certamente a menina cairia no chão, não fosse o reflexo que Carolina teve ao segurá-la. Ao perceber o susto da mãe, gargalhou estridente jogando a cabeça para trás.

_ Que susto, Amora! Quer matar sua mãe do coração, sua maluquete? - Carolina agora também ria, a adrenalina do susto indo embora no sorriso de dentes de leite da filha.
_Desculpe, mamãe, mas a sua cara foi muito engraçada! - Respondeu sem parar de rir. Amora surpreendia Carolina cada dia mais, e era assim há sete anos. Ela não queria que mudasse nunca.
_Sei, engraçadinha. Vamos tomar um café e depois tirar esse pijama? Último dia de aula no primeiro ano hoje, minha neném tá crescendo. - Fingiu um choro exagerado, mas realmente estava apreensiva. Crianças cresciam rápido demais e ela tinha orgulho da sua menina, mas as vezes só queria que ela ficasse pequenininha daquele jeito, pra sempre.
_Pare, minha mãe. - A pequena repreendeu num sotaque baiano carregado, o que fez Carolina se derreter e enchê-la de beijos no caminho até a cozinha. Era bom ver Amora se conectando às suas raízes, mesmo depois de toda sua primeira infância vivida no Canadá. Fazia três anos que elas tinham voltado a morar em Salvador, e aos poucos o inglês ia parando de se misturar com o português e o "baianês" ia tomando seu devido lugar.

_Bom dia, Jéssica! - As duas disseram quase em uníssono, chegando na cozinha.

_Bom dia, meninas! Amorinha, tá pronta pro último dia de aula? - a pergunta da diarista foi seguida de um "Siiiiim" muito entusiasmado de Amora. - Dona Carol, sua irmã ligou enquanto a senhora estava na rua. Eu deixei tocar, mas acho melhor ligar pra ela.
_Mulher, eu nem vi que tinha deixado o celular em casa, mana deve estar querendo me matar. Deixe que depois eu ligo. Primeiro o café da manhã, né, Pituca? - Amora assentiu, já pegando um pedaço de ricota e enfiando na boca. Carolina agora pegava o liquidificador para fazer um suco.

Agora elas corriam para atravessar a rua, Carolina com Amora pela mão e a menina de uniforme puxando a mochila de rodinhas. Na porta da escola, podiam ver que Clarisse e Sérgio as esperavam, enquanto Davi brincava por ali com uns amiguinhos.

_Quem é vivo sempre aparece, né não, Carulina? - Clarisse brincou - Amora também enrolou pra sair da cama, é? Porque Davizinho fez um drama danado.

_Davi é um preguiçoso. - Amora insistia em implicar com o primo. A relação deles era muito parecida com a de Carolina e Clarisse: Viviam se implicando, mas não se desgrudavam. Costumavam dizer que eram "primos gêmeos", já que nasceram com três meses de diferença. Amora era a mais velha, e fazia questão de lembrar Davi disso sempre que podia.

_Pare de abusar seu primo e vá brincar, vá. - Carolina deu um tapinha na bunda da filha em tom de brincadeira. A menina riu e logo se juntou aos colegas. - Mulher, queria eu que ela enrolasse pra sair da cama. Acordei ainda tava escuro, fui correr na praia e quando cheguei a bichinha já tava de olho estralado, me deu o maior susto.

_Eles estão é espertos viu, cada vez mais. - Comentou Sérgio.

_E a viagem, tudo pronto? - Carolina perguntou animada. - Amora tá que não se aguenta, não para de falar que vai pro Rio de Janeiro com Tia Clarisse e Tio Sérgio.

O Último EclipseOnde histórias criam vida. Descubra agora