Capítulo 44

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A quarta-feira chegou relativamente rápido e agora Gabriela terminava de aplicar uma maquiagem relativamente leve, comparando com os quilos de base e glitter que Patrick trazia no rosto quando saltitou até o seu lado.

_Tá ficando ótimo, só esfuma um pouquinho mais o olho esquerdo. - Palpitou o dançarino. Eles se arrumavam para ir à tal boate lgbt, mas na cabeça de Gabriela, inevitavelmente só existia espaço para Carolina e Amora.

Aonde estavam, o que jantariam e onde iriam, se dormiriam as 8 ou a meia noite, se Amora tinha comido tudo no almoço e do que havia brincado naquele dia. Qualquer detalhe corriqueiro que a fizesse se sentir um pouco mais perto das duas e tornasse a saudade um pouco mais suportável.

_Ei, terra chamando! Amiga, sai da Bahia e volta pra cá, que eu ainda preciso de companhia pra balada. - Patrick estalou os dedos na sua frente e ela deu uma risadinha sem graça.

Não era preciso ser vidente para saber O que se passava em sua cabeça naquela última semana. E sendo seu melhor amigo, ele claramente sabia.

_ Desculpa, migo. É que tá difícil. Deixa eu dar só uma ligadinha pra falar com elas e prometo que volto pra ficar aqui e só aqui. - Ela disse, num pedido quase infantil e o mais novo lhe acariciou a bochecha.

_Nós temos tempo ainda, não precisamos chegar lá no começo. - Gabi se surpreendeu. Logo Patrick, que era a pessoa mais festeira, rato de balada, que ela havia conhecido em 43 anos de vida? - Eu vou deixar vocês sozinhas. Se precisar de mim, tô lá contando os azulejos do chão da sacada.

Ela o olhou achando graça e dando uma risada nasal. Ele apenas sorriu, mexendo os ombros, com todo deu jeito diva de ser.

_Que foi? Acredite ou não, contar azulejos é relaxante, baby. - Disse, e a percussionista lhe deu um beijo no rosto antes que ele saisse em direção à sacada.

Em Salvador, Carolina terminava de secar o cabelo de Amora para irem dormir. O cheiro do shampoo infantil trazia lembranças do Rio. Era o mesmo que Gabriela havia comprado para Amora, e a menina insistiu para comprarem um frasco assim que chegaram na Bahia.

Como em transmissão de pensamento, seu celular vibrou. "Pretinha", dizia o visor, e o rosto culpado de uma Gabriela maquiada na tela.

_Gabi! Gabi! - Comemorou Amora, avançando para atender.

_Oxe minha filha, se acalme. - Disse Carolina, atendendo a ligação.

_Oi, amores da minha vida! - Disse a paulista, derretida.

_Oi, amor da nossa vida. - A baiana respondeu sorrindo.

_Gabi, mamãe não deixou eu te atender! - A pequena denunciou com a voz carregada de manha.

_Oxente? Mal viu Gabriela e já vai começar a manha é? Barril você, viu menininha? - Carolina bronqueou doce, enchendo a filha de cócegas enquanto ela se contorcia rindo.

_Tadinha da minha bebê com essa mãe ciumenta. - Gabriela provocou com um sorriso no canto da boca, ja antecipando a cara de indignação que viria do outro lado. E dito e feito, a baiana abriu a boca em incredulidade, o que a fez gargalhar.

_Ah, então é assim, é? Coitadinha dela? - Apertou os olhos, em indignação e riu logo depois - Coitada de mim com vocês duas grudadas desse jeito!

_Mamãe ciumenta! - Provocou Amora, recebendo mais cócegas e beijos da mãe.

_Vá logo escolher seu bichinho pra trazer pra cama, vá, sua macaquinha. - Carolina pediu.

_Eu já sei qual, o Uni. Deixe Gabi pelo menos encomendar meu sonho, mamãe! - As duas riram da esperteza da menina.

_Ok, eu busco o Uni então e você deita pra Gabi encomendar o sonho. - A baiana disse levantando da cadeira da penteadeira, sabendo que antes de qualquer coisa, a filha ainda contaria detalhe por detalhe do seu dia à percussionista.

O Último EclipseOnde histórias criam vida. Descubra agora