Capítulo 22

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Carolina acordou com o som leve de gotas batendo contra a madeira da janela. A tempestade da noite anterior agora tinha virado uma chuva calma, como se o céu tivesse se acalmado junto com a saudade delas. Olhou para Gabriela, dormindo pacíficamente virada para si. Suas pernas ainda estavam entrelaçadas e a paulista tinha um biquinho nos lábios, como sempre fazia quando estava em um sono profundo. Lembrou de todas as vezes em que se pegou vendo-a dormir dentro do BBB, mesmo que de relance.

Seu peito se inundou de uma felicidade dolorosa e insegura, assim que as lembranças da noite anterior lhe invadiram. De repente sua cabeça se encheu de milhões de perguntas, todas ao mesmo tempo: Como ela faria para voltar pra Salvador sem Gabriela? Como seria a relação delas agora? O que Maria Laura faria quando descobrisse, e será que a percussionista cairia em si, como da primeira vez, e voltaria correndo para a ex mulher, a deixando despedaçada? Ela não aguentaria outro baque daqueles. 

Deu uma última olhada em Gabriela, seus olhos ardendo com as lágrimas, e resistiu a vontade de beijar-lhe os lábios. Transtornada, achou suas roupas espalhadas pelo apartamento, e se vestiu. O vestido ainda estava meio úmido da chuva e amassado por ter passado a noite embolado no chão. Seus cabelos também não estavam lá grande coisa, e ela tinha deixado as malas todas no apartamento onde a irmã estava ficando. Mas o medo cego de se machucar de novo, fez com que ela tomasse um Uber direto para o aeroporto, do jeito que estava. 

Seu vôo marcado por Clarisse era apenas as 18:00 daquele dia, mas ela não poderia esperar. Não depois de tudo que disse, sentiu e mostrou. Não depois de ter se desnudado inteira daquela forma, de corpo e alma. Se sentia exposta, frágil e vulnerável ao extremo, e para ela, aquela era a pior sensação. 

Pediu a moça do balcão que lhe desse uma passagem para o próximo vôo para Salvador. Ela pagaria uma fortuna se precisasse, só para se sentir segura e no controle de sua vida novamente. Em casa, longe da tempestade de sentimentos que Gabriela lhe causava.Por sorte, o próximo vôo era as 07:20 da manhã, exatamente a 13 minutos de agora. Pegou a passagem e, sem bagagem nenhuma para despachar, correu para o embarque.

Apenas quando estava sentada na poltrona e o avião já tinha decolado, se deu conta da besteira que havia feito. "Eu não me despedi da minha filha. Meu deus, eu sou a pior mãe do mundo!" - pensava. Se culpava por não ter lembrado de Amora nenhuma vez naquela manhã toda. Afinal já era costume, há sete anos, ela ter a filha como prioridade. É isso que mães fazem, não é? Mas não era o que ela havia feito agora. 

A culpa lhe comia viva quando pegou o celular pela primeira vez naquele dia. 37 chamadas perdidas de Clarisse. Meu deus, se ela não morresse de culpa, com certeza a irmã a mataria antes. Mandou uma mensagem para Victor avisando o horário que chegaria e pedindo para buscá-la no aeroporto, avisando que explicaria tudo quando chegasse. Porém, a única coisa que ela conseguiu fazer quando enxergou o amigo naquele aeroporto, foi abraçá-lo forte e cair no choro.

_Ô minha linda, o que aconteceu? - Ele perguntou segurando-a firme nos braços e fazendo um carinho confortante em suas costas. Carinho esse que lhe lembrou do jeito que tinha dormido na noite anterior, o que só piorou o choro.

_Me leva pra casa, por favor. - Ela pediu, num fio de voz. E assim foram. Victor entendeu que a amiga precisava de seu silêncio confortante enquanto colocava pra fora o choro que lhe restava, sem perguntas, sem julgamentos. Carolina chorou o caminho inteiro enquanto ele dirigia com uma mão, a outra segurando firme a mão dela. Chegaram em seu apartamento e Victor preparou um chá de camomila, enquanto ela tomava um banho. 

Parecia que todas as tentativas de esquecer a noite passada estavam saindo pela culatra, pois assim que a água quase gelada lhe atingiu o corpo, lembrou dos beijos de Gabriela se espalhando por seu corpo. Os gemidos e risadas se misturando, o encaixe perfeito e o calor gritando sua ausência, enquanto a única mistura que ela tinha agora era a de suas lágrimas com a água do chuveiro. Chorou até ficar zonza, lavou o cabelo e colocou um pijama de seda confortável, indo até a sala agora com os cabelos já penteados.

O Último EclipseOnde histórias criam vida. Descubra agora