_Shhh, já passou. - A baiana murmurou acariciando as costas da outra, vendo sua respiração ofegar no que parecia ser o início de uma crise de pânico. - Já passou, respire.
_Me desculpa, Peixinho, eu-
_Oxente? Não se desculpe, você não tem culpa das loucuras da sua ex não. - Agora ela se afastou delicadamente de Gabriela, se desvencilhando de seus braços, mas ainda lhe olhando nos olhos. Mal sabia ela que não era só por Maria Laura que a outra se desculpava.
A paulista sentiu imediatamente a falta do calor, como se seu corpo não funcionasse direito separado do da outra.
_ Você botou ela nos eixos, até demais. - A baiana continuou. Nunca tinha visto Gabriela tão irada daquele jeito.
_Fiz o mínimo do que eu já deveria ter feito. - Elas sorriram-se, contidas. Gabriela tomou coragem de dizer o que lhe apertava o peito.
_Peixinho, eu queria tanto... Eu preciso conversar com você, esclarecer tanta coisa... - Ela se aproximou, mas a outra se afastou, como que com medo do que poderia acontecer se seus corpos não se controlassem. Na mesma hora, um trovão ensurdecedor ecoou pela Reconvexo, fazendo as duas se darem conta do vendaval que rolava lá fora.
_Eu tenho que ir pra casa, acalmar Amora... - A soteropolitana divagou, mas a outra segurou sua mão, como num pedido para que ficasse. Quando ia fugir de novo, seu celular tocou. Salva pelo iphone. Era Clarisse.
_Mana, tá o maior vendaval lá fora, nem sei como conseguimos chegar em casa. Tá tudo inundado e interditado, não tem mais como chegar na Barra. Nossa sorte foi que chegamos antes da água subir. - A mais velha contava tudo, preocupada.
_Mas e agora? Como eu vou fazer? - Carolina perguntou, assustada.
_Não sei, Carolina, mas nem tente vir pra Barra. Fique aí na Reconvexo mesmo, ao menos até isso passar. Eu vou ter que desligar agora, mana, minha bateria tá quase indo e Davi sumiu com meu carregador. Assim que pegar uma carga, te ligo ok? Se cuide.
_M-mas...- Quando ia protestar, a mais velha desligou.
_O que? O que houve? - Perguntou a paulista, assustada.
_A Barra tá interditada. Tá tudo inundado, não tem como passar. Ou seja, me lasquei. - Ela bufou.
_Não, calma, peraí. Deixa eu ver se Ipanema tá interditado também. - Gabriela mexeu no celular. - Olha, se a gente sair agora, dá tempo de chegar lá em casa.
_Não... - A baiana riu de nervoso. - Não, nem pensar, Gabriela, eu não vou pra sua casa, mas nem fodendo. - A paulista riu do nervosismo da baixinha. Aquilo tudo era medo de não resistir?
_Ah, qual é Carol, não é como se eu fosse te agarrar no meio da noite. - Gabriela coçou a cabeça, dando uma risadinha sem graça.
_Claro que não! Não é isso é que... - A percussionista lhe fitou, esperando concluir a frase - Gabriela, você já viu sua ex? A mulher com raiva fica a própria Carrie, a Estranha. - Gabriela riu alto. - Não ria! E se ela resolve, sei lá, vir atrás da gente e surtar porque eu dormi na sua casa, vandalizar seu carro, ou pior, maltratar Amora e Davi.
_Ela é doida, mas não é burra, Peixinho. - A paulista respondeu sorrindo, no mesmo instante em que outro trovão rasgou seus ouvidos e as duas pularam de susto.
_Ah, meu Senhor do Bonfim... - Choramingou Peixinho, jogando as mãos pro céu, num ato exagerado - Carrie a Estranha, tempestade da Hora do pesadelo, isso aqui tá o próprio Cine Trash. Agora só falta nascer o bebê de Rosemary. - Reclamou, cruzando os braços, e Gabriela gargalhou.
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O Último Eclipse
RomanceQuando duas almas predestinadas se encontram, é como se houvesse um Eclipse. Uma explosão de faíscas em um abraço, contagiam até quem está assistindo de muito longe. Em pouco tempo são muitas pessoas compartilhando do mesmo sentimento: o frio na bar...