Capítulo 19

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O domingo correu tranquilo até a hora de Carolina ter que arrumar as coisas para ir pro Aeroporto. Acordaram cedo, como era costume das duas. Tomaram um café da manhã reforçado e se foram passear pelo Rio. Praia, livraria, shopping, cinema e até fliperama. Fizeram tudo que tinham direito. A tardinha, porém, era hora de voltar para o apartamento e fazer a mala, depois seguir pro aeroporto.

_Ande Pituca, saia daí vá, ajude mamãe. - Carolina pedia com voz macia, mas Amora, sentada dentro da mala da mãe, estava irredutível.

_Não mesmo, minha mãe. Se quiser fechar a mala, vai ter que me fechar junto. - A menina resmungou de braços cruzados, com um bico no rosto. Igualzinha a mãe, pensou Clarisse, observando tudo no canto do quarto.

_Amora, pare com isso, não seja mimada. Você já está bem grandinha pra ficar fazendo birra, e sabe que eu detesto isso. Agora vá, saia daí e ajude sua mãe.- Carolina endureceu a voz e a menina abaixou o olhar. Ela teve que contar até dez para não amolecer com aquela carinha triste, mas se manteve firme.

_Eu só queria que você ficasse aqui comigo mais um diazinho, mamãe... - Ah pronto, ia começar a sessão de tortura via chantagem emocional, pensou. - Que fosse comigo pra escola, assistisse minhas aulas... - A baiana passou as mãos pelo rosto, querendo que aquilo acabasse.

_Minha filha, você sabe que a mamãe tem que cuidar de tudo sozinha lá em Salvador. Não é brincadeira, sabe? É o nosso sustento. Eu gostaria muito de ficar, mas...

_Mas o quê? Deixe eu adivinhar, você está muito brava com Gabi por algo muito feio que ela fez quando vocês eram amigas? Todo mundo já percebeu, mamãe. Mas agora ela é minha amiga, e eu gosto muito dela e ela de mim! - A menina lhe interrompeu, com a voz embargada.

_Amora... - Titubeou e olhou para a irmã, num pedido de socorro. Mas Clarisse estava tão chocada quanto ela.

_Não é justo, sabe, mamãe? Todos os pais dos meus amigos tiraram um dia para visitar a escola. Eu fui a única que tive que levar meus tios! - A menina deixou as lágrimas correrem, os soluços lhe balançando os pequenos ombros. - E tem um menino grande e feioso, que é mau comigo, e disse pra todo mundo que minha mãe não gosta de mim. Agora todo mundo me olha torto, mamãe! Isso não é justo! Não é justo! - A menina saiu da mala, correndo até o quarto dos tios e se enfiou debaixo da cama, aos prantos.

As irmãs Peixinho se olharam. Carolina em pânico e quase chorando, Clarisse sem saber o que dizer a irmã. Davi, que jogava videogame na sala com o pai, logo seguiu a prima e se baixou ao lado da cama.

_Amora, porque você tá chorando? Amora, fale comigo, vá. Eu sou seu amigo, você sabe né? O que te deixou triste? - Ele perguntava, mas a menina nada respondia. Continuava aquele chorinho sofrido, de quem tinha guardado aquilo por mais tempo do que seu coração de criança permitia.

_O que deu em Amorinha? - Perguntou Sérgio quando a mulher e a cunhada passaram pela sala. Carolina já com as duas mãos na cabeça e o choro pendurado nos olhos.

_O que você acha, amor? Ela quer que a mãe fique com ela. - Clara respondeu, vendo o marido suspirar de pena da cunhada.

_Eu sou a pior mãe do mundo, Clarisse, você tinha razão. A pior! - Clarisse sentou no sofá ao lado da irmã, que tinha a cabeça abaixada sobre as mãos, chorando.

_Eu nunca disse isso, mana. - Ela passou o braço ao redor da mais nova, a confortando. Carolina deitou no ombro da irmã, agora fazendo competição com Amora de quem chorava mais.

_Que é isso Carolzinha, você é uma mãe maravilhosa, todo mundo sabe disso. - Sérgio sentou no braço do sofá, e acariciou o ombro da cunhada.

O Último EclipseOnde histórias criam vida. Descubra agora