Capítulo 52

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Gabriela ainda tinha os olhos cheios de lágrimas quando viu Carolina entrar em sua sala sem pedir licença, seguida por Rízia. O cachorro havia sido deixado as pressas no pet hotel, antes mesmo de que a cuidadora se esquecesse de seu focinho pintado. Ambas tinham semblantes preocupados, quando a paulista se levantou de supetão e se agarrou ao corpo pequeno e malhado da namorada, como se sua vida dependesse daquilo. Aquele encaixe, aquele cheiro e aquelas mãos pequeninas passeando por suas costas, como quem acalmava uma criança, eram tudo que ela precisava naquele momento. Desabou como quem sabia que estava em segurança, em casa. Carolina era sua casa.

_Meu amor, pelo amor de Deus, o que foi que aconteceu? - Perguntou a baiana, num tom explícitamente angustiado.

_Eu sou uma idiota, Peixinho. Uma burra, você me avisou e eu...- Ela atropelava as palavras, quando seus olhos encontraram o da alagoana. - Rízia, me perdoa. Você vai me odiar.

_O que foi, Gabriela? Tu estragou meu lip tint da Boca Rosa Beauty? Ai não, foi minha paleta da Fenty, eu sabia! Sabia que não devia ter deixado minhas maquiagens com você. Agora mulher, isso também não é motivo pra tu quase matar Carol do coração e chorar desse jeito. - Rízia falava sem parar, a seu modo. Obviamente estava tão segura e deixar o filho com Maria Laura, que nem cogitou que fosse algo a seu respeito. Para ela, Yaweh estava almoçando com a tia, provavelmente enfiado até os cotovelos num prato de sobremesa.

_Não, Ri, não... - A paulista a interrompeu. Ainda chorava, e Carolina sentiu que precisava acalmá-la antes dela contar qualquer coisa.

_Calme, Neguinha, olhe pra mim. Sente aqui, vá. - A mais nova obviamente obedeceu e o que a baiana viu em suas orbes foi puro desespero. Gabriela a puxou para sentar em seu colo, precisava daquele contato. Por isso, as duas pouco ligaram que Rízia estivesse ali, meio "de vela". Seguiram por quase um minuto abraçadas, a percussionista com o rosto escondido no pescoço da menor, que a embalava balançando a cadeira e de vez em quando lhe dava beijinhos no rosto.

_Eu preciso falar antes que Patrick chegue com as crianças. - Ela disse, erguendo o rosto, mas ainda abraçada na baiana. - E quando eu digo "as crianças", quero dizer Amora e Yaweh.

A expressão de Rízia, sentada a sua frente, era de pura confusão. Foi com dificuldade imensa que Gabriela contou o que havia acontecido, e Carolina logo se apressou em ligar para Patrick e pedir para que levasse os meninos para almoçar no refeitório da escola. Ela era a única pessoa calma ali no momento, e com certeza não seria bom nem para Amora nem para Yaweh ver Gabriela chorando e Rízia querendo sangrar Maria Laura e Eliara.

_Eu vou rancar a língua dessas duas filhas da puta, quem elas pensam que são? Ah, mas eu pego essa palmita do cranco e mostro pra ela o que acontece quando se ameaça o meu filho.- Praguejava a alagoana.

_Ri, amiga, eu te entendo. E eu te dou toda a razão, eu também sou mãe. - Carolina ponderou. - Até te ajudaria a dar uma surra nelas e ia adorar, SE isso não fosse prejudicar o processo que Gabriela vai tacar na fuça das duas. Temos que ser racionais.

_Eu vou? - A percussionista perguntou, parando de chorar pelo choque. Até tinha pensado em processo, mas não tinha prova nenhuma do desvio de capital, a não ser a palavra de um menino de 11 anos. Além disso, detestava conflitos. Imagine então uma treta judicial.

_Oxente, e não vai?! - A baiana perguntou, indignada. - Por que se não vai, nós temos um problema nesse relacionamento.

_É Gabriela, sua burra do caralho. Vai deixar essa vaca te roubar assim? - Rízia se manifestou. - Se tu não for processar avisa, mas avisa agora, que eu tô é doida pra fazer picadinho de palmito e comer com cuscuz.

_Para gente, por favor. Cês tão certas, eu sei. Eu já levei numa boa tempo demais, mas ao mesmo tempo ela ainda é minha sócia, eu...  - A paulista tentava articular um argumento, mas a cara de decepção de Peixinho não ajudava.

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