Capítulo 18

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_Gabi, mamãe, olhem o castelo que eu e Lolô fizemos! - A paulista, que jogava mais uma partida de vôlei, agora com Bruno e Mirela, se aproximou do monte de areia, juntamente de Carolina.

_Que legal, Pituca! Vocês duas fizeram? - Gabriela deixou escapar o apelido e quando viu Carolina torcer a boca, se arrependeu quase imediatamente. A baiana, porém, não disse nada.

_Foi, Lolô me ajudou, né neném? - A pequena beijou o rosto do bebê.

_Ai, Amorinha tem tanto amor por Lolô, seria uma irmã mais velha incrivel. - Patrick comentou, deitado na canga de Gabriela, tomando sol.

_Oxente, Deus me livre de casamento e mais filho viu, amigo? Sou muito feliz só eu e minha Pituca. - A baiana beijou a cabeça da filha. Nisso, viu um rosto conhecido se aproximar ao longe. Era Clarisse,  de biquíni e com sua bolsa de praia.

_Ó quem vem vindo aí. - Anunciou Carolina. 

_E aÍ, gente linda, tudo bem? - A Peixinho mais velha se aproximou, sorrindo.

_Ô mulher, cê não tava de castigo? - Gabriela brincou.

_Ai nega, não aguentei não. - Ela comentou, tirando os óculos escuros e abrindo sua cadeira ao lado da de Carol. - Deixei Davi com Sérgio, acho que eu tava muito chata, porque foi ele quem me mandou vir. Filhote acha que fui na farmácia, então não posso demorar. - Ela riu.

_Minha mãe, tô com calor! - Amora reclamou. 

_Não seja por isso, vamo pra água! - Disse Gabriela, pegando Eloá no colo. - Bora Lolô? Lolô tá a milanesa. Vamos lavar ela, pingo, vem. - As duas riram e correram pro mar. Clarisse não pôde deixar de notar o sorriso sorrateiro que se fez no rosto da irmã, sem que nem percebesse. Gabriela pulava as ondas com Eloá no colo e Amora pela mão, e as três gargalhavam. Depois de um tempo, Carolina não aguentou e foi até o mar, sem dizer nada, sorrindo. Era como se algo lhe puxasse.

Clarisse e Patrick se olharam sorrindo, cúmplices. Olhares de quem sabia o que estava para acontecer e torcia para que tudo desse certo. O dançarino levantou da canga e sentou na cadeira de Carolina, ao lado da mais velha. Ficaram observando assim, em silêncio.

Carolina chegou por trás e levantou a filha, lhe enchendo de beijos, fazendo Amora rir de surpresa. 

_Também vim tomar um banho. - Disse ela, sorrindo, vendo a paulista sorrir contida, sem lhe olhar.

_Mamãe, faz balancinho na água? - A menina pediu, a voz doce como açucar.

_O que é balancinho? - Gabriela olhou pra Peixinho e seu coração derreteu. Os olhos sorrindo junto com a boca, como ela gostava. De repente ela decidiu deixar a raiva de lado, só por um instante, e aproveitar o momento. Só por aqueles segundos, pensou, enquanto o sol tocava a pele das duas, e o mar lhes banhava na altura das canelas. Só naqueles segundos.

_Eu faço isso com ela desde que nasceu, mas com duas pessoas é mais fácil. Pegue a mão dela aí, vá. - A menina deu a outra mão para a percussionista, ficando no meio das duas. Gabriela ainda tinha Eloá no braço esquerdo - No três, a gente levanta ela e balança.

_Um, dois, três, e... - Gabriela contou, em coro com Peixinho, e as duas levantaram Amora, que gritou animada e logo deu uma gargalhada.

_De novo! - A menina pediu, e lá se foram outra vez. E depois outra, e outra... Até estarem as três gargalhando.

Clarisse e Patrick continuavam observando de longe. O dançarino enquadrou a imagem das três com os dedos e cutucou a baiana.

_Ô amiga, diz aí se não parece uma família linda e feliz: As mamães e suas duas filhinhas. Ainnn... - Ele colocou a mão no peito.

_Patrick, se Gabriela lhe vê falando essas resenha aí, ela lhe tira o côro viu? Tome tento! - Ela brincou.

_Amiga, não dá pra evitar, eu shippo demais meu gafish. - Os dois caíram na gargalhada.

_Deixe de coisa rapaz! - Disse a baiana.

_Ai Clara, mas assim... Você acha que não tem nenhuma chancezinha das duas... sei lá, se pegarem, pelo menos? - Perguntou o dançarino, esperançoso.

_Olhe amigo... Do jeito que minha irmã é rancorosa, eu acho que conseguirem ser amigas já vai ser muita coisa, viu? - Ela viu o carioca bufar em frustração.

O dia transcorreu tão tranquilo, que voou. Logo Clarisse teve de voltar pro apartamento, mas Carol e Amora ficaram, claro. Peixinho até jogou umas partidas de vôlei, almoçaram churrasco, fizeram castelos de areia e riram de coisas da vida. Agora o sol começava a se pôr, mas ninguém ali tinha pressa de ir embora. Eloá dormia tranquilamente em cima da canga da mãe. A temperatura estava começando a baixar, e a brisa era morna. Gabriela viu Amora bocejar e coçar o olho.

_Alguém tá começando a ficar com sono... - A menina assentiu - Quer um colinho, quer?

Amora nem pestanejou. Deitou no colo da paulista, como se fosse um bebê. Carolina agora assistia tudo, mas sem a famosa dor no peito de rancor. Apenas um aperto e uma vontade de chorar, como se fosse aquilo que lhe tivesse faltado a vida toda.

_Não vai fechar o olhinho não, Pituca? - A menina fez que não, sorrindo de leve.

_Canta aquela que eu gosto? -Pediu.

_A bruma? - Viu a menina assentir e as duas riram. Carolina sorriu, involuntariamente. Gabriela começou a cantar Anunciação, num tom de canção de ninar, enquanto a menina acariciava seu rosto e as duas se olhavam nos olhos. Cena de filme, pensou Patrick, que assistia tudo com o coração na boca. O melhor filme que ele já tinha visto.

Não demorou para Gabriela ver os pequenos olhinhos se fechando, lentamente. Amora dormiu com a mãozinha em seu rosto, e ela a pegou e beijou delicadamente, ainda a embalando. Seu coração estava explodindo de amor, e se aquela não era a sensação de ninar um filho, não sabia como seria. Afastou esses pensamentos, assim que cruzou o olhar da mãe de verdade de Amora, e como de costume, seus olhos se prenderam.

_Obrigada, Gabi. Me poupou um trabalhão. - As duas se sorriram.

_Eu que tenho que te agradecer, por deixar ela cruzar meu caminho, Carol. Ela é minha luz, sabe? - De repente aquela frase lhe lembrou outra, muito semelhante, de tempos distantes dali. "Você me lembra o sol". E soltou seus olhos do da outra, fitando o chão. A dor do rancor agora voltava, lhe corroendo por dentro. A fantasia havia acabado.

_Acho melhor eu levar ela pra casa. - Disse a baiana, seca.

_Eu dou uma carona pra vocês, e depois passo pra pegar o pessoal. - Bruno ofereceu.

_Que isso amigo, não precisa. - Carolina retrucou.

_Claro que precisa, Carol, não me custa nada. O que vai custar é você atravessar a rua com ela colo, mochila, bolsa, cadeira... - Ele riu.

_É, tem razão. Sou obrigada a aceitar. - A baiana se rendeu, levantando para pegar a filha dos braços da outra. Gabriela lhe beijou a testa antes de soltá-la nos braços da mãe, quase relutante. Ela estava tão bem ali, aninhadinha...

Foram para casa e a única pessoa que dormiu bem naquela noite, foi Amora. Carolina procurava na cama um calor que sabia que não poderia ter nunca mais, e com Gabriela, não foi diferente. A vida adulta era tão complicada, que a paulista desejou secretamente voltar a ser criança. A baiana, porém, só desejou uma coisa: A bênção de poder nunca ter conhecido Gabriela.

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