Hora de aceitar

Capítulo 23

Hazel's POV

Desde muito cedo, acostumei-me a comemorar meu aniversário no dia quatro de julho, véspera da data do meu nascimento. O feriado sempre foi uma oportunidade de reunir boa parte dos familiares e amigos que estariam ocupados demais com seus compromissos em um dia útil. Há pouco mais de vinte anos, o dia da independência ganhou um outro significado para mim. Foi quando o amor da minha vida se declarou para mim e tivemos nossa primeira vez, em uma mesma viagem como a que estamos fazendo agora.

Tantas águas passaram por baixo da nossa ponte após isso acontecer: O estremecimento da amizade de Kee e Brian por conta da descoberta do nosso relacionamento por meu irmão, nosso noivado, o ressurgimento de Angelina e a descoberta da paternidade de Omar... Nem tudo foi fácil, mas com pouco mais de quarenta anos, chego à conclusão que tudo foi aprendizado.

Acordei e escorreguei pelo colchão, com cuidado para não acordar meu esposo. De pé, perto da cama, me permiti ficar por uns instantes observando seu sono. Tão lindo... O tempo fez bem a Keenan. Continuava praticamente com o mesmo corpo e com a mesma pegada. Caminhei até o espelho da cômoda e retirei a camiseta que me cobria até a metade das minhas coxas. De lingerie apenas, comecei a fitar meu corpo. Nós, mulheres, somos muito cobradas durante toda a nossa vida, dentre elas, sobre o não envelhecimento. Não basta envelhecer bem, para muitos, não deveríamos envelhecer, o que é uma tremenda injustiça, pois o tempo passa para todos. E devo admitir que, por mais eu tente não me abalar, é o tipo de coisa que me abala às vezes.

- Pequena, deixa de paranoia, você sempre foi e continua gostosa! Se voltar para a cama, prometo te provar isso! – A voz rouca de Kee me desperta dos meus devaneios.

Lembro que no início do nosso casamento, sempre me questionava se um dia perderíamos o fogo que tínhamos. A resposta é que não. Uma filha prestes a entrar na faculdade e parecemos ainda dois coelhos. Foram incontáveis as vezes que meu maninho quase nos pegou no flagra, por exemplo.

- E como você planeja fazer isso? Subi no seu colo, com uma perna para cada lado do seu quadril, me movimentando propositalmente sobre seu membro.

Meu marido apertou minhas coxas com força.

- Vou te pegar tão de jeito que você vai sair trocando pernas desse quarto hoje, Hazel.

Conheço meu esposo. Sei que ele não prometeria o que não poderia cumprir.

Fizemos amor e ficamos um tempo deitados, entrelaçados um ao outro, suados e exaustos. Com muita dificuldade, afinal, não queríamos sair do quarto, fomos tomar banho. Descemos para o café e todos já estavam presentes.

- Está viva, meu anjo? – Devon cochichou em meu ouvido, sentado à mesa.

- E por qual motivo não estaria? Franzi o cenho, respondendo com o mesmo tom baixo.

- Pelos barulhos da cama contra a parede, pensei que no mínimo estaria sem andar, no máximo, estaria desfalecida.

Segurei o riso. Ele e Fynn estavam no quarto ao lado do nosso e deduzi que, para Brian não ter comentado nada, não ter jogado uma piada sequer, deveria já estar acordado e no andar debaixo e não no seu dormitório.

Comemos e não pude deixar de reparar nos olhares fulminantes de Kee para Ava e Henry. Sei que sempre teve ciúmes de nossa menina, e que no fundo ele sabia que o momento dela namorar chegaria. Creio que ele só não contava com que o escolhido fosse justamente o filho daquele que o fazia se sentir ameaçado em relação a mim. Pobre rapaz! Nosso genro está sofrendo ranço de Keenan sem nem entender o motivo direito. Não que isso faça com que ele desanime da sua empreitada. O rapaz parece estar verdadeiramente apaixonado por nossa filha e é o primeiro a não recuar diante da ira do meu marido. Mostra-se bem educado e maduro, um cavalheiro como pouco se vê hoje em dia. O que mais poderia desejar para Ava?