Capítulo 4

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Sou formado em música pela Universidade de Nova Iorque e devo dizer que nunca me imaginei em outra área. Hoje, trabalho como arranjador a serviço de alguns produtores e empresários de artistas que estão para lançar seus álbuns e, de vez em quando, por tocar alguns instrumentos, participo de shows e gravações de discos quando sou solicitado e tenho disponibilidade. Além dessas duas funções, voluntario pelo menos uma vez por semana em um projeto social que atende crianças em situação de risco, no bairro onde moro. Tem sido ótimo contribuir com a causa. Costumo dizer que os ensino música, enquanto eles me ensinam a ser uma pessoa melhor e, de quebra, dou um descanso ao meu coração da angústia de não ter – pelo menos ainda – Penelope ao meu lado.

Já tem quase duas semanas que nos vimos pela última vez, quando finalmente me declarei, descobri que ela sentia e ainda sente algo por mim e quase nos beijamos. De madrugada, nos falamos rapidamente por mensagens e tomei a iniciativa de ligar e permitir que ela ouvisse a mesma canção que estava ouvindo enquanto pensava nela. Teria dado tudo que tenho para que ela estivesse, naquele momento, escutando a faixa pessoalmente comigo. Desde então, às vezes envio uma mensagem ou outra desejando que ela esteja bem e dizendo coisas carinhosas, que certamente eu diria cara a cara se pudesse.

Estou guardando minhas coisas na mochila, após mais uma oficina com a criançada e sou surpreendido por um aviãozinho de papel atingindo minha nuca.

- Sério, cara, meus alunos são mais maduros que você! Era Nicholas. Havíamos combinado de almoçarmos juntos e ele entrou, sem que eu percebesse e usou uma das folhas que sobraram da aula de artesanato, anterior a minha, depositadas em uma estante próxima à entrada.

- Assim me ofende, Omar! O idiota leva a mão ao peito, fingindo estar insultado.

- Como foi a visitação à Berkley?

Nick foi aprovado como bolsista em TI. Como o campus escolhido por ele fica em Manhattan, ele não precisaria se mudar para mais perto da faculdade, como Penny fez. Para muitos rapazes de 18 anos, não sair da casa dos pais nessa fase seria uma tortura, porém meu amigo não via problema nisso. Perder os mimos da tia Ellen, que incluem achocolatado preparado especialmente para ele pela manhã e roupinha lavada e passada, doeria muito mais para ele que qualquer outra coisa.

- Foi ótima! A estrutura é legal e fica bem localizado.

Fechei a porta da sala e deixei a chave na recepção, dei um beijo na bochecha da Senhora Margot, que administra o centro social e nos encaminhamos para o meu carro, que estava estacionado perto do portão.

- Nenhum comentário sobre as alunas? Bateu com a cabeça no trem?

- O que foi? Não posso comentar sobre o local que vou estudar? Sentou-se no banco do carona, colocou o cinto e ficou passando as mãos pelo cabelo. Conheço Nick o suficiente para saber que ele age dessa forma quando está desconfortável com algo.

- Tudo bem, mas apenas falar sobre isso me causa estranheza. Disse, dando partida no carro.

Meu melhor amigo, desde muito novo, nunca teve dificuldades em se relacionar com o sexo oposto. Tio Brian costuma dizer que ele não é um nerd raiz, pois apesar de amar o mundo dos números, é despachado como Tia Ellen. Nicholas não herdou nada da timidez do pai. Como solteiro que é, sempre está de olho nas meninas ao seu redor e eu só conseguia imaginar um motivo que o impedisse de continuar a ser assim...

Não acredito!

- MEU DEUS, VOCÊ ESTÁ APAIXONADO! Gritei, dando um soco em seu braço, sem tirar uma das mãos do volante e os olhos do trânsito.

- Deixa de ser babaca, Omar!

Claro que está. Nick respeita toda garota com quem fica, preferindo estar com aquelas que tinham o mesmo objetivo que ele: Ter nada sério. Nicholas fala que só pararia pular de ficada em ficada no dia que encontrasse alguém especial. Tenho quase certeza que esse dia chegou.

Hora de aceitarOnde histórias criam vida. Descubra agora