Capítulo Quartoze

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Eu estava inquieta, uma angústia se levantava dentro de mim. Crescia, cada vez mais que eu lembro do que houve agora pouco. Uma mistura de sentimentos remexe meu estômago. Um mal estar se instala, corri pro banheiro, e vomitei. Vomitei até minha alma sair de mim, como se fosse possível.

De joelhos com a cara enfiada na privada com o sentimento da culpa apontando seu dedo acusador para mim.

O que eu fiz? Minha consciência me atormenta. Sinto algo querer sair de dentro de mim, forço ainda mais o vômito e despejo tudo. Quero vomitar até me limpar. Estou sem forças largada no chão, tento ir me arrastando até o chuveiro, ainda me sinto imunda, quero me lavar, lavar todos os meus erros. Consigo abrir o chuveiro e a água cai sobre meu corpo, eu me esfrego, lágrimas inundam meus olhos.

Me encolho sentada no mármore frio no chão do banheiro e choro copiosamente arrependida por ser tão burra. Como eu pude? Mô... Ela merece isso? Sinto uma dor aguda atravessar meu peito. Medo, arrependimento, nojo, vontade de voltar atrás se pudesse.

Sinto alguém me amparar, é Helena. Mas a última pessoa que quero ver é ela. Mesmo assim ela insiste em me agarrar, tentando me por de pé. Ela pega a toalha para me cobrir, eu recuso sua ajuda mas ela é teimosa, invasiva demais.

Ela consegue me fazer chegar até a cama, me jogo sobre o colchão chorando muito. Helena tenta me acalmar, pega água para mim tomar, só depois de um tempo afogada num longo pranto é que ela me faz beber a água. Mantenho minha cabeça baixa, não consigo encará–la. Não depois disso, não depois de tudo!

— Alice... Não fique assim. Foi lindo o que fizemos. Eu gostei muito. — Ela sussurra ao meu ouvido. Mas ouvi–la, me faz chorar ainda mais.

— Porquê? O que você está tentando fazer comigo Helena? —Falo alto.

— Alice... por favor. Não fizemos nada de errado. Você sabe que isso aconteceria. Você sabe!

— Não! Não devia ter acontecido. — Grito. Helena tampa minha boca, eu choro alto também, estou muito nervosa. Assim, vou acabar acordando a casa toda. Mas eu não ligo. Ou ligo? Não sei.

— Shhh minha linda. Vai ficar tudo bem. — Helena me abraça forte passando as mãos em minhas costas na tentiva de me acalmar.

Mas estou muito agitada e  empurro Helena para longe de mim. Ela ainda reluta mas acaba cedendo, estou fazendo um escândalo. Por sorte a casa é gigante e os quartos são acústicos. Os outros não estão ouvindo nada. Por isso Helena está fazendo cara de tanto faz para o barulho que estou fazendo.

— Alice seja flexível por favor? Pense direito.

— O quê quer que eu pense? Que eu traí minha namorada? Que não posso ficar longe dela um dia que a traio com sua melhor amiga?

— Não, não é isso. Nós não...

— Não? Como não? Helena você faz idéia do que fizemos?

— Sim minha linda eu faço idéia e foi lindo. — Helena faz uma cara de conforto enquanto acaricia meu rosto. Eu não estou acreditando que ela está achando isso a coisa mais normal do mundo.

— Helena, isso foi uma traição! Primeiro você me inferniza com aquele assunto ridículo do Instagram. O que houve?

— O que houve Alice? Já que tocou no assunto então vamos falar. Você se aproximou da minha melhor amiga com  a intenção de se aproximar de mim? Ou queria apenas me perturbar mesmo? — Eu olho para ela sem reação.

-— Como assim? Porquê eu faria isso?

— Pois é, isso eu também quero muito saber. Responda! Não foi por acaso seu relacionamento com a Mô, suspeito de que você armou tudo isso.

— Porquê eu faria isso? Não tenho motivos para isso Helena. Isso seria impossível. Seria doentio. — Afirmo.

— Tudo é possível doce Alice. Tudo! Basta querer.

— Não! Definitivamente isso é um pesadelo na minha vida. — Sigo em direção a porta. Preciso sair daqui. Mô, preciso tanto dela agora. Daria tudo para encontrá–la.

— Onde você vai? — Helena segura meu braço quando passo do seu lado.

— Não importa! Pra qualquer lugar longe de você. Quero ir embora. — Digo com a voz chorosa.

— Se acalma Menina!

— Eu quero ir embora. Quero falar com a Mô. Me solta. — Empurro Helena e saio do quarto praticamente correndo.

Desço as escadas tão rápido, houve um momento que eu tropecei e quase cai. Abri a porta da varanda e sai disparada. Tava escuro ainda, o sol não havia nascido.

Eu nem conheço a redondeza mas corro, sem olhar pra trás, quero ir para longe daquele lugar. Sou surpreendida com um banho gelado.

Para meu desespero cai dentro da piscina, que estava com suas luzes todas apagadas, eu estava tão maluca, tao desnorteada que não me lembrei que tinha uma piscina ali, como tava tudo um breu eu não enxerguei, as lágrimas também não deixariam eu ver muita coisa.

Me debato desesperada, estou totalmente submersa a água, eu ainda estico as pernas tentando alcançar o chão mas sem sucesso. Eu não sei o quanto de profundidade, só me debato, mas sinto a frieza da água esmagar meu pulmão, já estou engolindo água demais. Eu vou morrer!

Diante a essa sensação de fim, vejo claramente uma cena de quando eu era criança. Me afogando, sentindo que a vida foi curta demais pra mim. Lembranças de um momento da infância... ruim.

A escuridão me abraça, eu paro de brigar com ela, ouço seu silêncio e aceito que me envolva. Afundo imóvel como uma pedra.

VANILLA O Sabor Mais Doce   (CONCUÍDO)✔Onde histórias criam vida. Descubra agora