Setenta e Um

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O Capítulo Contém 3.187 palavras⚠️

O transtorno pela decisão descabida de Carla, não foi dos piores por que não tínhamos gasto com praticamente nada, ainda sobre a cerimônia, e não passei pela vergonha de ter que comunicar os padrinhos, madrinhas e convidados pelo fato de que essa parte da lista, seria a última a ser concluída.

Só quem sabia desse casamento era Helena, Julia, Rogério, Caio, Rumy, seu esposo Tomás, os pais de Carla, e também, a minha mãe, que não concordava muito por causa de seus dogmas religiosos mas que, a essa altura, parecia já ter se conformado com a minha decisão e orientação sexual. Então, já não estava sendo tão oposta em relação a mim.

Eu chorei por duas semanas, mas já estava me consolando, visto que chorar não é tomar atitude e nem resolve os problemas. Afinal, chorar, já chorei demais nessa vida.

O bom é que minhas lágrimas tinham secado de repente, acredito que as experiências da vida já me tiraram lágrimas demais para ficar remoendo tudo o que acontece comigo.

Chega uma hora que o choro deixa de ser algo presente na nossa vida. Isso é bom. Embora, o choro sirva para lavar as coisas ruins da nossa vida. Lavar a alma, como dizem.

Depois do almoço, eu tive uma visita inesperada. Carla apareceu na casa da minha mãe para me buscar. Ela queria me levar a um lugar mas que eu não saberia de imediato onde era. Eu estava com raiva por tudo, ainda, mais do que raiva, eu ainda estava magoada, ela sabia, mas mesmo assim, foi até lá.

Além do mais, ela queria me ver, saber como eu estava. Desde que Carla decidiu acabar com os nossos projetos ela ainda me ligou todos os dias para acompanhar meu estado, afinal, ela sabe muito bem como lido com os tombos da vida. Ela disse que estava preocupada comigo e ia se manter por perto como sempre me prometeu que faria, eu querendo ou não.

Fizemos a viagem caladas, ou melhor, eu me mantive calada, Carla me fazia diversas perguntas, sobre como eu estava lidando com a situação, se eu voltaria a Portugal na data que estava marcado para voltarmos, mas que agora, eu iria sozinha.

— Te quero tanto bem que você nem imagina, minha cacheada linda. — Carla toca minha perna. — Contou a Rumy sobre nossa decisão de não casarmos?

— Nossa decisão, Carla? Sua decisão, você quer dizer, né? — Eu a olho indignada. — Ela quer matar você. E quando te matar, vai jogar seu corpo para a correnteza do Rio Douro levar sua carcaça embora, para longe. — Digo fechando a cara e dando de ombros como quem não dá a mínima se Rumy fizer isso mesmo.

— Já esperava essa reação de Ru. — Ela ri.

— Sabe que Rumy não está brincando, né? Isso que você fez é muito sério, Carla. Eu devia nem olhar mais na sua cara.

— Eu sei. Não estou dizendo que não é sério. É muito sério mesmo, por isso, tomei essa decisão de dar esse tempo para pensar mais um pouco.

— Eu não precisava de tempo algum, Carla. Eu já estava mais do que decidida. — Digo, com raiva.

— Alice, você ainda vai ficar aliviada por esse casamento não acontecer, vai por mim. E sobre Rumy, ela também, brevemente, verá que foi melhor assim.

— Não sei não, acho que ela vai te matar de qualquer forma.

Digo séria. Carla ri divertida. Eu ainda penso de como ela parece leve, não está triste, nem nada. Isso me deixa ainda mais irritada e confesso que magoada, também. Ela está lidando com isso tão bem. Vejo mesmo que ela não queria esse casamento.

VANILLA O Sabor Mais Doce   (CONCUÍDO)✔Onde histórias criam vida. Descubra agora