30.

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Felipe narrando...
Estou muito desconfortável aqui com o William, porém não tenho vontade nenhuma de sair daqui. Assim que ele abriu a porta meu coração parecia que ia sair pela boca, engoli em seco.
Emma não me avisou que William estaria aqui, então fico muito sem graça na presença dele.
Neste momento estamos na sala assistindo um filme e bebendo cerveja, evito olhar para ele assim evito constrangimentos. O problema é que Emma de cinco em cinco minutos de uma maneira curiosa precisa sair da sala pra fazer sei lá o que.
Pela milésima vez ela se levanta.

- Vou ao banheiro. - diz e sai da sala me deixando sozinho com ele de novo, foco meu olhar na tv.

- Vai dormir aqui? - ouço William perguntar e então olho pra ele.

- Sim, você vai também ? - tento disfarçar minha insatisfação quando sua resposta vem.

- Claro, a ideia foi minha. - diz e eu não digo mais nada, o que deixa o clima constrangedor.
Emma volta pra sala com seu celular em mãos.

- Eu tô com fome, vamos pedir pizza?

- Por mim tudo bem. - digo e vejo William dar de ombros. - Emma, acho que vou tomar um banho, tudo bem ?

- Claro Lipe, vou pedir nossa pizza enquanto isso. - diz Emma e eu me levanto indo pro quarto.
Pego minha mochila e vou pro banheiro tomar meu banho, tranco a porta por precaução afinal nunca se sabe né.
Tomo um banho demorado, pra falar a verdade nem daqui eu queria sair porém termino meu banho.
Me seco e coloco um shorts de dormir confortável, pego minha mochila e abro a porta do banheiro, quase grito de susto. William está parado na porta do banheiro me encarando.

- O o que foi ? - pergunto e coro por lembrar que estou sem camisa, os olhos de William me examinam e fico constrangido.

- Só vim avisar que a Emma foi comprar a pizza, não estava conseguindo pedir pelo delivery. - diz William e não sai da porta.
Ponho a bolsa nas costas e dou um passo pra sair do banheiro, William não se mexe.

- Será que você pode me deixar passar? - pergunto e ele bufa saindo direto pra sala. Não consigo entender.
Vou para o quarto e largo a bolsa na cama, procuro uma camiseta e a coloco, dou uma arrumada no cabelo e vou para a cozinha pegar uma cerveja. Este apartamento é quente, mesmo acabando de tomar banho já estou com calor. Pego uma cerveja e tomo uns goles.

- Vai com calma, não quero ter que te levar pra cama. - diz William e me viro, ele está encostado na parede me olhando dou um sorriso sem graça em resposta.

- Será que a Emma vai demorar? - pergunto.

- Não está confortável na minha presença Felipe ? - pergunta William, dando alguns passos na minha direção.

- Não é isso, é só que estou com fome mesmo. - digo e saio da cozinha indo pro sofá. William não demora a vir pra sala e se senta também.
Mudo de canal até achar algo que me interesse, está passando um programa de entrevista e o tema é
" relacionamentos abusivos/ dependência emocional."
Enguli em seco e começo a prestar atenção.
Entrevistador: o que no relacionamento você poderia apontar como algo que te machucou mais ?

- Eu diria que todas as vezes em que ele me fez sentir culpada por simplesmente ser eu... - seus olhos enchem d'água e a  moça respira fundo. - Quando ele errava e fazia parecer que a culpa era minha.

Entrevistador: quanto tempo durou?

- Dois anos e meio, eu não conseguia sair daquilo e quando eu tentei sair as coisas pioraram bastante. - sinto um aperto no peito e tento respirar fundo.

Entrevistador: como assim pioraram?

- Uma vez eu estava saindo do trabalho e vi que ele me esperava, mais cedo naquele mesmo dia eu tinha dito que não queria mais. - a moça para e limpa as lágrimas insistentes.
- Ele me disse para entrar no carro e que a gente precisava conversar, eu entrei estava exausta e decidida a terminar tudo. Então ele começou a dirigir e falar que ninguém iria me amar como ele me ama, que se eu não ficasse com ele eu não encontraria mais ninguém, lembro que disse pra ele que não era assim e então começou. Ele começou a correr com o carro e gritar que eu não podia deixar ele, que se eu fizesse isso ele se mataria, eu comecei a chorar e pedia pra ele parar o carro que a gente conversava com calma, isso só o deixava com mais raiva. - seguro a almofada com força e meus olhos enchem de lágrimas, minha mente me leva a tempos atrás quando eu passava por isso. Tento respirar devagar mas, o ar parece não entrar em meus pulmões.
- então ele disse que se eu não ficasse com ele eu devia morrer, na hora eu me desesperei e cada vez mais ele acelerava com o carro. No fim implorei pra ele parar e disse que o amava e que continuaríamos juntos, ele parou o carro me olhou e disse
" Olha o que você faz eu fazer Melissa, sua culpa. " Eu me desculpei e fomos pra casa. - a mulher chora ao terminar de contar.
Desligo a televisão e me encolho no sofá me lembrando daquelas coisas horríveis, não consigo segurar o choro e o ar começa a faltar, ouço a voz de William ao fundo.

- Felipe? o que foi Felipe ? - ele pergunta se aproximando e eu me encolho ainda mais chorando.

- Isso.... eu... - não consigo falar e William se senta do meu lado e me puxa pra um abraço, choro ainda mais quando isso acontece.

- Calma Felipe, respira. Vai ficar tudo bem, eu tô aqui. - ele diz enquanto afaga meu cabelo, ficamos assim por um tempo até eu conseguir falar.

- Desculpa. - digo ainda chorando.

- Não tem que se desculpar, o que aconteceu? - pergunta William e me olha preocupado, vejo seus olhos marejados.

- Eu... eu não quero falar sobre isso. - digo baixo.

- Eu sinto muito Lipe, agora tá tudo bem ele não pode mais fazer isso com você. Eu tô aqui. - William diz isso olhando nos meus olhos e me abraça mais forte, me acalmando. Ficamos assim por um bom tempo, William continua me fazendo carinho mesmo depois de eu ter parado de chorar, não quero sair dali nunca mais.
Me sinto em paz, me sinto calmo.

- Tá melhor Lipe ? - pergunta com um ar preocupado e eu balanço a cabeça que sim e o abraço mais forte. Vejo ele sorrir e sorrio também. - Vem, vamos pegar uma água pra você. - diz William e a gente levanta indo pra cozinha, seu braço está em volta de mim me conduzindo, nós separamos ao chegar na cozinha, William pega um copo de água e me dá, eu bebo devagar e respirando fundo.
William continua me olhando e eu coloco o copo na pia, ele me puxa pra mais um abraço e eu o abraço de volta.

- Obrigada William. - digo e me solto.

- Não precisa agradecer Lipe. - diz e passa a mão em meu cabelo. Ouvimos o barulho da porta e Emma entra.
William pega duas cervejas e entrega uma para mim, tento disfarçar minha cara de choro.

- O que estão fazendo ? - pergunta Emma entrando com duas pizzas e colocando sobre o balcão.

- Pegando cerveja. - digo e sorrio, William me olha de soslaio entendendo que não quero falar nada.

Você pertence a mim (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora