aquele do festival

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Novamente, o dia começou mais cedo que o normal.
Ao nascer da aurora, Crivel ganhou animação com os toques do sino da abadia. Significava o início das atividades. O início do evento.
Iniciamos o feriado ouvindo as palavras do sacerdote. Estávamos todos na praça por falta de lugar na abadia. Embora fosse cedo, Crivel estava incrivelmente cheio de pessoas que vieram para prestigiar o festival.
Eu estava um pouco mais afastada de todos. Estava encostada em uma árvore na boca da floresta, ouvindo atentamente as palavras sobre destino e futuro que eram ditas pelo sacerdote.
Eu pensei em quem eu estaria sendo agora se eu não fugisse no dia do duelo. Uma princesa casada com um príncipe herdeiro de um trono. Estaria prestes a me tornar a rainha de Suntowrrigan ou Snoctum, mas não do meu próprio reino. Eu também me perguntava como estariam os meus pais e Fousvin.
Será que estava tudo bem por lá?
Eu fechei os olhos e fiz uma prece silenciosa, pedindo pelos meus pais e por Fousvin. Pedir para que tudo estivesse bem.
E então ouço umas passadas leves e cautelosas se aproximar de mim, e ao abrir os olhos, me deparo com o Dric de pé em minha frente me olhando com a mesma seriedade de sempre.

— Te atrapalho? — Perguntou-me ele.

— Não. Eu já estava terminando de fazes as minhas preces. — Respondi.

— Quer companhia? — Perguntou ele e eu assenti, então Dric sentou-se ao meu lado.

— Para quê estava rezando? — Perguntou ele me olhando.

— Para algumas coisas que eu deixei para trás. — Respondi abaixando o olhar e ele fez o mesmo, como se não soubesse o que me dizer.

— Você já fez as suas preces? — Perguntei o encarando.

— Eu não sou um religioso como vocês. — Respondeu ele me encarando.

— Minhas crenças são um pouco diferentes. Algumas situações fazem com que você mude de hábito. — Continuou ele olhando a multidão a nossa frente que ainda se encontravam na praça.

"Algumas situações fazem com que você mude de hábito."
Eu entendia muito bem o significado dessa frase.
Quando eu fugi de Fousvin para me aventurar em Crivel com Jaquelyn, eu tive que mudar os meus hábitos e a minha vida.
Os sinos da abadia novamente tocaram anunciando o fim das palavras do sacerdote e também aproveitando para nos informar sobre o início do café da manhã.

— Vamos? Eles já devem estar nos esperando na estalagem. — Falei me pondo de pé e então ele assentiu, fazendo o mesmo.

Quando chegamos na praça, tivemos que enfrentar uma multidão de pessoas até chegarmos na estalagem. E como eu previa, todos já estavam lá, acomodados em suas cadeiras.
Juntamos-nos a eles a mesa, que nos encaravam desconfiados. Eu pude ver perguntas que rolavam por trás dos olhos de todos e para variar, o Dean nos encarava com uma raiva que ele não estava sabendo disfarçar, ou simplesmente não queria. Então Adelaide tomou a frente.

— Onde vocês estavam? Procuramos vocês por toda a praça. — Perguntou ela e todos nos olhavam de relance, desconfiados.

— Quando a praça começou a encher eu me senti um pouco desconfortável e fui para a boca da floresta. Fiquei por lá enquanto meditava em paz com as palavras do sacerdote. — Respondi.

— Então Dric apareceu e me fez companhia até o toque dos sinos da abadia, apenas isso. — Continuei pondo fim em qualquer que fossem as suspeitas deles.

— Ah, tudo bem. Venham, sentem-se e comam conosco. — Falou Adelaide se sentando em uma das cadeiras e então, eu e o Dric fizemos o mesmo.

Eu me servi dos preparos a base de morangos e amores que Adelaide prepara especialmente para o festival. Pão de amora com geleia de morando foi o meu primeiro prato. Isso antes de experimentar o seu famoso bolo com calda de morango. Que estava divinamente incrível.
Em seguida nos preparamos para um dia repleto de atrações e festividades.
Havia várias barracas ornamentadas. Algumas delas, com a minha ajuda, incluindo a da senhora que eu ajudara a noite passada. As barracas continham exposições de jarros feito de barro, quadros de pinturas com as vistas mais lindas de Crivel, tapeçarias produzidas pelas costureiras mais famosas da cidade, além de comidas, como a barraca de Adelaide.
Eu estava atentamente ouvindo uma mulher contar a história de Crivel e como os deuses a abençoou por ter sempre estado ao lado de Fousvin, quando Dean se aproximou de mim, também encarando a mulher que dramatizava a cada palavra dita. Era inevitável não prestar atenção na moça.

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