Gritos no silêncio

535 94 29
                                    

ー Siyeon, por favor fale comigo.

Implorou Gahyeon, ao ver sua prima encostar o veículo em uma vaga livre, perto de uma praça com pouca movimentação.

A mesma se soltou dos cintos de segurança em silêncio, e se encostou no estofado do Ranger Rover, com uma expressão exaurida.

ー Siyー

ー Estou tão cansada Gah.

Suspirou a mulher de cabelos negros, enquanto observava a movimentação a frente, sem ânimo para lutar contra seus próprios pensamentos.

Mesmo a ferida em seu peito nunca tendo cicatrizado, Siyeon ignorava o melhor que podia no decorrer de seus dias.
Era tantas lutas perdidas, tantas noites sozinha em seu quarto chorando, a ponto de suas lágrimas cessarem.

A ferida profunda em seu peito, embora parecesse costurada, a verdade era que os pontos sempre se rompiam, sempre a tragava diante a dor esmagadora, de tentar ser forte, de ser suficiente, sem realmente ser.

ー Os pensamentos são tantos, que me sinto afogar neles. E quando penso em lutar contra, me vejo ter perdido uma batalha sem nem ao menos me dar o luxo de tentar.

A voz da Lee saiu trêmula, conforme se sentia esmagada pelo peso que sempre esteve a carregar, e não houve um momento sequer, que ela o deixasse.

ー E isso dói, dói tanto. ー Confessava, ao ponto de pôr a mão em seu peito e o apertar, para conter a dor, para conter os pontos de se romperem.

Siyeon estava perdida, tão quebrada, tão cansada de tudo.

Que embora ousasse tentar, a dor sempre a encontrava, seu pai sempre a encontrava, e a Lee se via praticamente rendida, ao pensamento de que ela nunca seria suficiente, nunca cessaria aquela dor, nunca seria ninguém, nunca teria paz.

Tanto tempo lidando com tudo sozinha, longe de sua antiga vida, longe do olhar indiferente de seu pai, e de suas ordens.

E mesmo assim, se o mesmo a encontrasse cara a cara, Siyeon sabia que seu corpo entraria em um estado automático, rendido e oprimido pelo o simples olhar frívolo e vazio, de seu progenitor.

ー Sing, eu preciso que você me deixe voltar a se aproximar, ー começava Gahyeon tendo olhos opacos sobre ela. ー quero saber de você, quero notícias suas, e saber se está bem.

Falou Gahyeon calorosamente tentando alcançar aquela mulher, que se deixava perder diante tantas cicatrizes e pensamentos, mesmo esperançosa, a mais nova se deparou com a antiga e distante Siyeon.
Quase inalcançável, até para a própria Lee em questão.

Tanto tempo tendo se passado, e Siyeon se perguntando todos os dias como era está bem.
E mesmo que fizesse tal questionamento repetidas vezes, ela nunca obtinha uma resposta.

Como se nunca pudesse responder, algo tão simples, e tão pouco, com sinceridade.
Pois omitir e esconder o que te tira o sono, e te mata silenciosamente, é mais fácil, quando muitos te perguntam, e tão poucos se importam sem te julgar.

Já bastava ter que lidar com seus próprios problemas, e deixar pessoas se aproximarem, Siyeon sabia que seria pior.

Mesmo seu próprio irmão, Gahyeon, Yoohyeon e Bora, seria como os privar de viver suas vidas, para ter que tomar conta de alguém igualmente crescida, mas tão pouco responsável por si.

Afinal, eles também tem suas batalhas, seus medos, suas responsabilidades, suas feridas, seus demônios, e sobre pôr sua batalha nas pessoas que querem o seu bem, não é algo que Siyeon queira e tão pouco busque.

Ela queria ser alguém necessária, alguém que pudesse se permitir ser ajudada.

Mas como?
Como você ajuda alguém, que não acha que deve ser ajudada?

Pensamentos assim, fazia a Lee passar horas olhando a escuridão do seu abismo, enquanto o único retorno que tinha era o silêncio.
O sufocante silêncio que era mais alto, do que qualquer voz, em uma nota harmônica com a dor pulsante em seu peito.

ー Siyeon, me fala o quー

ー A peça. ー Disse a interrompendo, e tentando focar em questões presentes. ー De quem foi essa idéia estúpida?

Gahyeon sentiu seu corpo arrepiar diante o tom frívolo de seu tio.
E vê-lo em sua prima, era algo que fazia o seu coração doer.

ー Do meu pai. ー Sussurrou cabisbaixo, diante ao olhar indiferente. ー Ele usou o que vivenciou como uma forma de punir seu pai. Como uma forma de se punir também.

Afinal, sendo convivente com as ações de seu irmão, o pai de Gahyeon se via com um alinhenado telespectador.

Embora pudesse interferir com mais precisão e a tempo, ele preferiu acreditar que seu irmão estava agindo de tal maneira, por simplesmente está tão machucado, que não pensou em duas vezes em descontar em seus próprios filhos, ainda mais em Siyeon, já que Matthew seu irmão, vivia no exterior aprendendo medicina.

Enquanto a própria Lee, suportava todos os maus tratos com um sorriso no rosto, acreditando que seu pai estava sendo assim com ela, por que a amava.
Por que precisava a culpar, pela perda de sua esposa.
De sua querida esposa.

Na qual a memória que Siyeon tinha de sua mãe, era algo turva, perdida diante tanta dor, diante o quanto ela teve que parecer forte, e firme enquanto escutava seu pai a chamar dos piores nomes possíveis.

E por mais que seu tio, seu irmão e Gahyeon soubessem sobre o que Siyeon estava passando.
Ainda sim, não era nada comparado ao que ela enfrentou e enfrentar sozinha.
Com medo de ser barulhenta, e chamar a atenção deles para si.

Eles a viam, mas não foram precisos.

E seu abismo só crescia, a engolindo, a silenciando, a fazendo lidar com seus temores e dores, a levando cada vez mais ao limite.
Conforme sua platéia, a assistia.
Sentia pena, se preocupava, queria fazer algo, mas nunca chegavam a tempo.

E depois que o vazio do abismo se instalava em seu ser, era preciso de uma força imensurável, precisa, abraçadora e reconfortante para te tirar de lá.

Embora parecesse rendida, inalcançável como demonstrava, conforme era sufocada pelo silêncio, Siyeon implorava, implorava para ser resgatada.
Para ser encontrada, para ser tirada daquela escuridão, daquele vazio.

Ela precisava ter fé, precisava encontrar a luz que todos falavam que há na escuridão.

Ninguém precisava saber o que acontecia nos bastidores.
Contanto que ela fosse resgatada.
E o pesadelo de seu passado, de sua vida, que ela ao menos conseguisse lidar com eles.

Lidar com o peso de suas batalhas intermináveis, sem que as colocassem como prioridade máxima.

Por quê até o momento em questão, Siyeon não estava vivendo a vida como deveria ser, ela estava perdida, trilhando e trazendo consigo seu passado.

Em vez de se dar chances, de viver o presente.

Eu Vejo Você. - ( Suayeon.)Onde histórias criam vida. Descubra agora