Capítulo 52 - De albergueiro a chofer

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Adam

No dia seguinte, Adam acordou cedo. Tomou banho, arrumou-se e desceu as escadas devagar. De modo que não provocasse algum barulho. Mas não adiantou muito, porque ao chegar à cozinha, pronto para devorar algum pão açucarado e partir para o treino matinal de futebol, o rapaz deparou-se com as três bem ali, grudadas como pão e mel: a mãe, a ex-namorada e a ex-sogra. A combinação perfeita para enlouquecer qualquer homem.

Ambas estavam ajudando a empregada Abigail Mendler na preparação da refeição.

— Olha só quem acordou! — Exclamou a ex-sogra, pondo uma falsa entonação de felicidade na voz, enquanto Abigail Mendler ensinava-a a mexer numa frigideira inox.

— O café está quase pronto, querido. — Prosseguiu a mãe, desorganizando todo o armário de pratos e copos. — Tiffany, eu já disse! Não tem necessidade em ajudar. Pode descansar na nossa segunda sala de refeições que fica na varanda..., acho que sabe onde é.

— Ah não, Louise. Se minha filha e eu ficarmos aqui, ajudaremos como puder. — Respondeu a Sra. Waldorf, fingindo proatividade.

— Eu já levo os seus ovos mexidos, benzinho. — Disse Selena, chamando Adam pelo apelido que costumava adotar quando ainda estavam juntos. Como um casal.

Parecia uma dança. Uma dança agressiva. As mulheres dominando a cozinha. Uma passando do lado da outra, sem ao menos tropeçar ou esbarrar-se.

A empregada Abigail Mendler era a única que parecia descontente com o furdunço. Afinal, estranhas estavam invadindo a cozinha. O seu lugar. O seu espaço de trabalho. Estranhas achando que sabiam cozinhar.

Louise Craig, apesar de proprietária da mansão, apenas pisava na cozinha para apanhar um pouco de água no meio da noite. Fora isto, e o bom coração que tinha, a mãe de Adam era apenas uma madame rica que não sabia fazer uma omelete.

Após perder a paciência, mesmo não demonstrando — e atendo-se ao seu papel de empregada —, Abigail andou pela zorra que se transformou o ambiente, até então calmo, e descansou perto de Adam:

— Socorro... — Cochichou Adam a Abigail.

— Se vira, garoto! Eu já tenho problemas demais. — Respondeu a senhora, com as mãos na cintura (em cima do avental). — Adivinhe só quem limpará tudo isso depois?

Adam riu, silenciosamente.

— Não sou ingênua de pensar que elas vão me ajudar. — Continuou a empregada.

Abigail Mendler era como uma segunda mãe para Adam. E ela amava-o como se fosse o seu filho de sangue — já que não pudera gerar algum quando jovem, devido aos vários problemas das cinco gestações. Sendo, logo depois, abandonada pelo marido que enxergava-a como uma péssima genetriz.

— Quando eu disse à sua mãe que queria ajuda, não era desse tipo de ajuda que eu me referia. — Sussurrou Abigail, olhando para a bagunça de panelas, pratos e copos. — Eu esperava que ela contratasse outro profissional.

— Acredite, até ela foi pega de surpresa. — Cochichou Adam, olhando a mãe quase cortar o dedo com uma faca. — Hum, ... — Ele tossiu, tomando coragem. — Estou sem fome. Acho que já vou indo. — Disse ele, altivamente. Agora todas podendo ouvi-lo.

— Mas não pode sair, e muito menos treinar, sem comer nada. — Choramingou a mãe de sangue. Conseguindo finalmente tirar a casca de uma laranja.

— Tem lanchonetes perto da escola, mãe. — Explicou Adam, e com a mochila ainda nas costas, ele ameaçou sair em disparada:

— Vai me deixar aqui? Sozinha? — Cochichou Abigail a ele.

Adam se inclinou para a frente, baixando o tom de voz para que apenas Abigail Mendler pudesse escutá-lo.

— Se vira! Eu já tenho problemas demais. — Caçoou ele, imitando-a. Provocando a mãe postiça.

— Ingrato. Traidor. Desertor. — Sussurrou Abigail de volta. E quando Adam já estava perto da porta de saída da cozinha, que dava para o hall de entrada da mansão dos Craigs, ela sugeriu:

— Poderia oferecer uma carona à moça, Adam! — Falou Abigail, referindo-se a Selena Waldorf. — Vocês estudam na mesma escola, não?

Adam fuzilou-a com os olhos, repreendendo-a por sugerir algo tão cruel. Abigail era a única pessoa para a qual Adam contara sobre a traição — embora todos da escola soubessem.

— Seria adorável. — Comentou Selena, feliz com a ideia. Todas as mulheres encarando Adam, esperando por sua benevolência. — Eu nem estou com fome. E se me der vontade, posso comer algo em uma das lanchonetes perto da escola.

— Mas... — Pigarreou ele. —... Ainda está muito cedo. Quando chegarmos lá, faltará mais ou menos duas horas até a aula começar.

— Ah, não esquenta, benzinho. Eu posso te ver treinar, não posso? — Perguntou Selena, os olhos brilhando. Ela não parecia mais a menina cruel de antes, no jantar.

— Não pode, não.

— Não? — Todas (Tiffany, Selena, Louise e Abigail) perguntaram juntas. Como um coro. Uma única voz.

— E que... — Adam tentou explicar-se. — E que... E que eu absorvi uma timidez recente em relação aos treinos. — Mentiu ele. — Acabo ficando nervoso quando percebo que tem alguém na arquibancada me observando. Como se fosse algum olheiro de uma universidade famosa.

— Tipo a Princeton? — Perguntou Selena, acreditando na mentira.

— Isso. — Gritou ele, animado. Feliz da conta. — Como um olheiro da Princeton, ou até mesmo Harvard.

— Ah, não esquenta, benzinho. Eu fico na biblioteca, então. Ela já deve estar aberta, e tenho algumas pesquisas do trabalho de geografia para fazer.

— Então, está resolvido, né, Adam? — Indagou Louise ao filho. Não era uma pergunta. Mas uma pergunta disfarçada de ordem. — Ela vai com você.

— Tchau, mãe! — Gritou Selena, apanhando a bolsa que estava sob o balcão. Para depois correr até ao lado de Adam. — Tenha um ótimo dia, Sra. Craig. Obrigada mais uma vez por tudo.

— Magina! — Respondeu a Sra. Craig, assentindo rapidamente.

— Vai lá, garota! — Instigou Abigail, virando-se para Adam com uma expressão divertida e travessa. Que só ele pode ver e entender.

O garoto por sua vez encarou Abigail, a mulher que provocou tudo aquilo. Então, sutilmente, ela cochichou algo a ele. O rapaz lendo os seus lábios:

— Menos uma para eu me preocupar na minha cozinha. Agora restam apenas duas.

Em outras circunstâncias, e se fosse qualquer garota menos Selena, Adam teria achado graça. Mas agora só conseguia sentir desânimo (e o gosto do puro amargor da derrota).

— Vamos, benzinho. Ou irá se atrasar para o treino. — Disse Selena, entrelaçando sua mão na dele e o puxando para o hall de entrada. Em direção a garagem de carros.

Selena já fora muitas vezes à casa de Adam, nos dois anos que foram namorado e namorada. Ela estava calejada. Sabia das armadilhas e atalhos da mansão.

— Tenham um bom dia, crianças. — Disse Louise, torcendo para que o filho fosse educado com Selena durante a viagem de carro.

— Minhas queridas, vamos até a varanda! Deixem que eu preparo tudinho para as senhoras. — Adam pôde ouvir a voz de Abigail no fundo, tentando domar as feras. Tentando fazer o controle de danos.

— O que seria de mim sem você, Abigail? — Perguntou a Sra. Craig, melancolicamente grata.

A  Série Stay With Me: In Love (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora