Cecília se vê numa corda bamba quando começa a servir como empregada na mansão Rousselot. Seus serviços foram contratados pela rica e viúva Margot; uma antiga paixão que a assombra desde a adolescência.
Enquanto tem de engolir o rancor que nutre po...
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Enquanto Cecília areava as panelas de inox queimadas propositalmente por Angeline, ela pensou no que Irene disse na cozinha dias atrás; sobre estar na casa mas não prestar atenção. Cecília estava ali, mas não estava olhando para os lugares certos.
Por isso no decorrer dos dias ela passou a prestar mais atenção, Cecília acompanhou o padrão.
Fazendo isso ela percebeu que Margot saía muito pouco da mansão, sempre estava em seu escritório fazendo coisas ou em seu quarto lendo, e quando saía, era apenas uma vez na semana. Especificamente às quartas, saía às dez manhã e voltava às treze da tarde. Nesses dias ela geralmente estava de mau humor, mas voltava como se estivesse nas nuvens. Angeline sempre a acompanhava, e seguindo o padrão, Angeline saía emburrada e voltava possessa. No final do dia Cecília quem devia aturar a outra empregada e sofria por isso.
— O que está fazendo, leitoa? — Angelina indagou empurrando seu ombro contra o dela e ficando ao seu lado. Cecília se assustou com a aparição repentina, se desconcentrando de sua tarefa e a água que estava dentro da panela foi em direção a sua barriga.
— Merda, merda, merda... — Cecília resmungou, rosnando para Angelina, que sorriu em provocação.
— Um banho surpresa não faz mal a ninguém, se acostume com eles.
A manhã se passou assim, Cecília tentando fazer seus deveres e Angelina dificultando cada um de seus passos.
[...]
— Cecília, por que suas roupas estão molhadas? — Margot indagou, abaixando seus óculos de leitura e fechando seu livro, pousando-o sobre a cama. Ela se levantou da cama e se guiou até a porta, pondo as mãos de cada lado do batente.
Cecília engoliu seco, apertando o cesto de roupa sujas em suas mãos com força. Seus olhos capitaram o fato de Margot estar vestindo apenas uma lingerie de seda rosa e seus óculos de leitura. Suas bochechas se avermelharam suavemente e ela desviou o olhar, dando as costas para a mulher.
Cecília queria dizer. Queria dizer que Angelina a atazanava, que era a segunda vez que era molhada por ela, sem contar as vezes que foi empurrada, cortada e queimada por panelas quentes. Mas Cecília não queria desenvolver inimizades com ninguém, muito menos irritar Margot, por isso ela apenas apressou seus passos e saiu do corredor indo para a lavanderia, ignorando totalmente o chamado de sua patroa.
Margot a acompanhou com o olhar, vendo o jeito que andava, e consequentemente percebendo que a empregada também mancava suavemente. A senhora ouviu passos vindo do outro lado do corredor, se virou, vendo Angelina também com um cesto de roupa suja em mãos. A garota alta tinha um ar satisfeito e orgulhoso.
