57 - Inimigo

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"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo. "Friedrich Nietzsche

POV MARI

Rapidamente os outros criminosos foram abatidos mas eu não prestei atenção ou me importei .

A ambulância que estava a postos não demorou a chegar, foram necessários cinco homens para me tirarem de cima de Manoela. Eu deveria saber melhor que ficar em cima de alguém que precisava de cuidados não era sensato , mas eu não estava racional na hora.
Seu corpo estava pálido, gelado e frágil. Minhas lágrimas escorriam pelo meu rosto, iam até o colete e caiam em todo o seu corpo.
Havia muito sangue ali, uma morte vermelha escura que se fundia com minhas lagrimas. Seus cabelos, Ah seus cabelos cheirosos e brilhantes que vi colados ao seu pescoço pelo suor delicioso pós sexo de hoje de manhã foi substituído pelo empapado e espesso liquido escuro que os grudavam na sua garganta alva e esguia que eu beijei por dois dias e queria beijar sempre.

Por um momento achei que tinha sido atingida também, sentia dores excruciantes e ao constatar que eu estava inteira, pelo menos fisicamente, tive a certeza que se a bala tivesse me atingido, doeria menos, bem menos do que a dor que sentia agora.

Minhas mãos estavam suando e o coração, acelerado. Acho que era o princípio de uma parada cardíaca. Meu estomago embrulhava, enquanto eu tentava convencer os outros agentes que ela não iria na Ambulância sozinha de Jeito nenhum e que eu não sairia nem um minuto do seu lado.
- Deixem que façam o trabalho deles Gonzales, temos que fechar tudo aqui. - alguém ousou me dizer enquanto eu espremiam os olhos e com dificuldade colocava um pé a frente do outro para seguir a maca que levava seu corpo embora.

- Agente Gonzalez, é melhor ... - não deixei que mais um deles me ditasse o que deveria ser feito.

- Onde diabos vocês estavam que não fizeram o trabalho de vocês? HEIN? - gritei me virando para alguns agentes já do lado de fora do galpão.

- Ela sal... - as palavras não saíram da minha boca e eu tive que forçar elas para fora no mesmo momento que forçava as lágrimas para dentro - Ela salvou minha vida , seus incompetentes , onde vocês estavam, onde todos vocês estavam?

Eu gritava enquanto Manu era colocada na ambulância. Não deveria estar culpando eles mas o momento não ajudava. Resolvi entrar e sentar ao seu lado na traseira da ambulância que começou a se movimentar, deixando vários agentes para trás. Uns com pesar nós olhos , outros com a boca aberta de susto pelos meus gritos.

Enquanto os paramédicos cortavam sua blusa e tiravam seu colete eu rezava.  Maldito colete que deixou a bala ultrapassar seu ombro,  o ângulo de cima para baixo , poderia ter atingido algo vital.
Nunca fui de rezar, nem ir muito a igreja, mas era incrível o que o desespero podia fazer com alguém.
Me lembrava do Pai nosso e da Ave Maria. Quando pequena eu sempre rezava antes de dormir, era um habito e minha mãe ficava feliz, achava que eu era muito religiosa. Realidade? Eu rezava antes de dormir por que me fazia bocejar e instantaneamente me dava sono. Não fazia por mal, mas era uma tática que usava desde pequena.

Mas ali, naquele momento, vendo aquelas pessoas enfiando tubos e aparelhos no corpo delicado e gelado de Manu, o mesmo corpo que passei minha língua e minhas mãos horas atrás, que tinha um calor que combinava tão bem com o meu, naquele momento minhas orações não eram táticas, pelo contrário, era uma imperícia, um grito desesperado para que de alguma forma ela sobrevivesse, era a única coisa que eu podia fazer naquele momento. Então fechei meus olhos enquanto ouvia os aparelhos e os paramédicos de fundo, juntei minhas mãos próximas ao peito e comecei.
Pai nosso que estais no céu...

Autor

Rafaella Brincava descontraída no grande jardim da fazenda, Alfredo com sua pelagem amarela brilhante, corria feito louco tentando alcançar a barra de sua calça.
Luna e Jack Bacon estavam em sua própria brincadeira, correndo um atrás do outro, também em volta da Agente. Quem passava por eles, vislumbrava uma mulher adulta, correndo e sorrindo igual uma criança com três cães imensamente felizes.

Máscaras (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora