Foi Lesley quem me ajudou a recuperar as minhas memórias. Me guiando através das histórias da nossa infância e da vida que tínhamos.
Ela também me ajudou a apreciar a minha nova vida no Sul da Califórnia. Ver ela tão animada com meu quarto legal, meu carro novo, as incríveis praias e minha nova escola, me fez perceber que embora não fosse a vida que eu preferia, ainda tinha certo valor.
Ser capaz de ver ela de novo me dá uma pessoa a menos para sentir falta. E o tempo que passamos juntas é a melhor parte de cada dia. O único problema é que ela sabe disso.
Então sempre que eu toco em assuntos que ela declarou restritos, coisas como: quando eu vou poder ver a mamãe, o papai e o Manteiga? Aonde você vai quando não está aqui? Ela me pune se afastando por dias.
— Você nunca vai arrumar um namorado vestida desse jeito. — Ela disse, rindo na minha cara enquanto me apresso em minha rotina matinal, tentando me arrumar para a escola e sair pela porta, mais ou menos ao mesmo tempo.
— Ah, que pena! Nada de namorados para mim então. — Disse, ironicamente. — E nem todos nós podemos ir a casa de artistas e sair assaltando guarda-roupas.
— Como se Alison não fosse entregar o cartão de crédito dela se você pedisse. E qual é a do capuz? Você está numa gang?
— Eu não tenho tempo para isso. E deixa meu capuz em paz. Você vem? — Eu viro para olhar ela, minha paciência se acabando enquanto ela leva tempo para decidir.
— Ok. Mas só se você abaixar as janelas. Eu amo a sensação de todo mundo passando pelo carro e não tendo ideia de que estou ali.
Minha irmã não é um fantasma. Quero dizer, ela é, mas não transparente nem nada. Lesley parece ser real, um corpo com massa e tudo o mais. Então passa a sensação de ela estar realmente ali, embora só eu possa ver.
— Só saia quando o Ian chegar, ok? Me apavora ver você no colo dele sem permissão.
✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶
Quando Ian e eu chegamos na escola, Maya já estava no portão, os olhos escaneando todo o campus enquanto ela diz:
— O sinal vai tocar em menos de dez minutos e ainda nenhum sinal do Noah. Vocês acham que ele desistiu? — Ela olha para nós, os olhos — com lentes amarelas dessa vez — bem abertos.
— Por que ele desistiria? Ele acabou de começar. — Eu digo, indo em direção ao meu armário enquanto Maya caminha ao meu lado, a sola de borracha das botas dela estalando no chão.
— Uh, não valemos a pena. Ele é bom demais para ser verdade.
— Mas ele tem que voltar. Emily emprestou a ele a cópia dela de O Alto dos Vendavais, então significa que ele tem que devolver. — Ian diz, antes de eu poder impedir ele.
Balanço a minha cabeça e viro a combinação do meu armário, sentindo o peso dos olhos de Maya quando ela diz
— Quando isso aconteceu? Você sabe que eu o reivindiquei, certo? Da última vez que eu te ouvi você nem tinha visto ele.
— Oh, ela o viu muito bem. Eu quase tive que ligar para a ambulância, ela surtou. — Ian diz rindo.
Eu fecho meu armário e vou andando pelo corredor sozinha.
— Então deixa eu ver se entendi direito; você é mais um problema do que uma ameaça? — Maya vai andando atrás de mim, com o ciúme dela transformando a aura em um tedioso verde.
Eu respiro fundo e olho bem para os dois, pensando em como se eles não fossem os meus únicos amigos, eu despensaria os dois. Desde quando se reinvidica outra pessoa? Além do mais, não é como se eu estivesse disposta para encontros com minha situação atual.
— Sim, eu sou um problema. Eu sou um horrível problema. Mas eu não sou uma ameaça, principalmente porque eu não estou interessada. E pode ser difícil de acreditar com Noah sendo tão lindo, mas a verdade é que eu não tenho interesse em Noah Auguste, e eu não sei de que outra forma te dizer isso Maya!
— Hum, eu não acho que você precise dizer mais nada.
Entro na sala e vou em direção a minha mesa, evitando por pouco a mochila que Natalie coloca no meu caminho.
Jogo minha mochila no chão, sento no meu lugar, ergo meu capuz e coloco os meus fones, esperando o barulho de mentes diminuir.
Mas quando eu começo a relaxar, eu sinto um choque devastador. Uma carga elétrica que invade minha pele, bate em minhas veias, e fazendo meu corpo todo formigar. E é tudo porque Noah colocou sua mão sobre a minha.
É difícil me surpreender. Desde que eu me tornei estranha, Lesley é a única que consegue fazer isso. Pois ela está morta.
— Eu só queria devolver isso. — E então ele me entrega a minha cópia de O Alto dos Vendavais.
— Não quer ficar com ele? Eu não preciso, eu já sei o final.
— Eu já sei como termina também.
Quando estou prestes a recolocar meus fones de ouvido, para bloquear o som dos comentários de Natalie, Spencer e Caleb, Noah coloca sua mão de volta na minha.
— O que você está ouvindo?
E a sala inteira fica em silêncio. Por aqueles breves segundos, não existe onda de pensamentos e embora as pessoas ainda estivessem fazendo tudo que fazem normalmente, tudo está completamente bloqueado com o som da voz dele.
— É só uma playlist velha que minha amiga Maya fez para mim.
— Oh, você gosta bastante de coisas altas. — Ele diz olhando para a tela do meu celular.
E quando estou prestes a responder, o professor entra na sala, as bochechas vermelhas, mas não pela caminhada como todos pensam.
E então Noah se senta atrás de mim e eu respiro fundo e coloco o meu capuz, me afundando de volta no som familiar dos outros de angústia, preocupação com provas, e problemas com imagem corporal, e os pensamentos questionativos de Natalie, Spencer, Caleb e todo o resto se perguntando o que Noah poderia ver em mim.
Esse é o grande problema, eu também não sei.
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All for us
Mystery / ThrillerEmily, de 18 anos, sobreviveu a um acidente de carro que matou toda a sua família. Agora ela vive com sua tia na Carolina do Sul, sendo atormentada não só pela culpa de ter sido a única sobrevivente, mas também pela sua nova habilidade: ouvir os pen...