Na manhã seguinte, enquanto me preparava para o colégio, Lesley estava deitada em minha cama, fantasiada de mulher maravilha e contando fofocas secretas de celebridades.
Ela já estava cheia de ficar vendo os afazeres diários de antigos amigos e vizinhos, agora o foco era a vida dos famosos.
— Não brinca! — Encaro. — O Ian vai pirar quando souber dessa.
— Você não faz ideia. — Ela balança a cabeça. — É tudo uma grande ilusão. A vida pessoal deles é tão falsa quanto o filme que fazem.
— E quem mais você espiou? — Pergunto, ansiosa por saber mais.
— Sobre o quê? — Alison aparece na porta do meu quarto.
— O quê sobre o quê? — Olho de relance para Lesley, que só faz rir. — Eu não disse nada. Precisa de alguma coisa? — Dou as costas a minha irmã, e me concentro em Alison, que foi convidada para passar o fim de semana fora e não sabe como me dizer isso.
Ela caminha pelo quarto, com a postura muito reta, se perguntando como deve me dizer que vai me deixar sozinha por uns dias.
— Alex me convidou para passar o fim de semana fora. — Ela enruga sua testa. — Mas pensei que deveria falar com você primeiro.
— Quem é Alex? — Mesmo que eu saiba de quem se trata, ainda assim sinto que deveria perguntar.
— Você o conheceu na festa. Ele veio fantasiado de zumbi. — Alison está confusa. Enquanto sua aura é um brilhante cor de rosa, sua mente está nublada. — Se lembra disso, querida?
— Claro. — Coloco os livros na mochila, tentando pensar no que eu vou fazer. Alex não é a pessoa que ela pensa, mas ele realmente gosta dela. E eu não sei como contar isso a minha tia, e de qualquer forma, como eu o faria? — O que eu posso dizer tia? Divirta-se! — Acabo por finalmente dizer, mais cedo ou mais tarde ela descobrirá a verdade sobre ele.
— Nós iremos hoje depois do trabalho. — Ela se levanta da minha cama e sorri aliviada. — Ele tem uma casa na praia que fica não tão longe daqui. — Alison diz entusiasmada, e eu só consigo pensar que essa casa não é dele, e sim da mãe.
— Tudo bem, eu te vejo no domingo. — Digo descendo as escadas.
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— Eu juro que ele é do seu time. — Paro no estacionamento do colégio, contando a Ian a fofoca de celebridades que Lesley me contou.
— Eu sabia que ele era gay! — Ian diz estalando os dedos. — Onde você escutou isso?
— Eu não me lembro. — Eu paro, sabendo que não posso divulgar que minha irmã morta está por dentro das fofocas. — Só sei que é verdade.
— O que é verdade? — Noah se aproxima, beijando minha testa.
— Nada. Só estávamos colocando o nosso papo em dia. — E assim eu inicio uma conversa sem sentido, até que Ian nos dê adeus e vá para dentro do colégio.
— Vamos tomar café da manhã? — Noah atravessa em minha frente, antes que eu atravesse o portão.
— Não podemos. E eu já tomei café da manhã. — Minto para me livrar dessa loucura de Noah, de furar mais um dia de aula.
— Emily, por favor! — Ele cai de joelhos, e mãos juntas. — Não me faça entrar aí. Se tem alguma bondade em você, não me faça sentar em uma sala com adolescentes chatos, com suas vidas chatas, ouvindo aulas chatas.
— Vamos, levante. O sinal já está a ponto de tocar, o portão será tran... — E antes que eu termine a frase, o sinal já soou.
— Você sabe o que eles dizem, melhor não aparecer do que chegar atrasado. — Ele se levanta, limpando a calça e sorrindo.
— Quem são eles? — Pergunto, balançando a cabeça. — Isso parece mais uma frase sua.
— Há melhores maneiras de passar uma manhã. E eu te garanto, você não precisa disso. — Ele tira meu capuz. — Vamos começar o fim de semana.
E assim, tomamos carros separados. Mesmo que não tivéssemos dito isso, não tínhamos planos de voltar. Enquanto sigo Noah, olho para a dramática extensão do litoral, com o céu limpo e a água azul marinho. E então, me recordo de como terminei aqui.
Ele guia o carro para a direita rapidamente, e eu observo que paramos em frente a uma ajeitada lanchonete.
— Eu sei que você disse que já tomou café, mas esse lugar é o melhor. — Ele vem abrir a minha porta. — Você tem que experimentar o milkshake de amendoim, ou o de avelã.
— Milkshake de avelã? Sinto te dizer, mas isso não soa tão bom. — Mas ele apenas ri e me puxa para o balcão, pedimos um de cada e sentamos na praia.
— Qual é o seu favorito? — Pergunta.
— Ambos são realmente bons. — Digo, tirando as tampas e usando uma colher nos copos. — Mas surpreendentemente, o de avelã é melhor.
Eu levo uma colher até ele para que assim possa provar também, mas Noah balança a cabeça e rejeita. E esse pequeno gesto me deixa incomodada.
Há algo nele, além dos truques de mágica e estranhos desaparecimentos, que me intriga. Esse cara nunca come.
Mas assim que eu penso isso, ele pega o canudo e toma um grande gole.
— Você surfa? — Pergunta, colocando os copos um dentro do outro. — Gostaria de uma lição? — Noah diz, quando eu balanço a cabeça em resposta a primeira pergunta.
— Não, obrigada. A água deve estar um gelo, e eu prefiro ficar aqui seca. Mas ele pega minha mão e me conduz para longe, entrando em uma gruta natural. — Eu não fazia ideia de que isso estava aqui.
Era um lugar de tamanho mediano, com pranchas de surf em um canto, toalhas e roupas de mergulho em outro canto.
— Por isso minhas coisas ainda estão aqui, as pessoas vêem esse lugar mas nunca tiveram curiosidade de entrar. — Ele diz, sentando em um cobertor verde no meio da gruta. — Você parece cansada. Quer dormir um pouco?
— Como assim? Dormir aqui? — Digo.
— Eu já fiz isso inúmeras vezes. — Noah me puxa para deitar com ele no cobertor. — O que poderia acontecer? Tudo bem. É sério. Agora durma. — Ele diz, depois que eu deito me acomodando em seu ombro.
✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶
— Noah? — Me viro, piscando na pouca luz, enquanto minha mão tateia pelo espaço vazio ao meu lado. — Noah? — Chamo novamente, tendo o som distante das ondas como resposta.
Me enrolo no cobertor e sigo para fora, olhando por toda a área, esperando encontrá-lo. Mas quando não o vejo em nenhuma parte, volto para dentro, vendo um bilhete solto pelo chão.
Estou surfando.
Volto logo.Volto para fora, com o papel em mãos, andando de uma ponta a outra da praia, procurando por um surfista em particular. Mas os dois únicos que estão lá, são tão loiros e pálidos, que está claro que não é Noah.
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All for us
Mystery / ThrillerEmily, de 18 anos, sobreviveu a um acidente de carro que matou toda a sua família. Agora ela vive com sua tia na Carolina do Sul, sendo atormentada não só pela culpa de ter sido a única sobrevivente, mas também pela sua nova habilidade: ouvir os pen...