QUARENTA E UM

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Então, o que aconteceu afinal? Procuramos por você em toda parte, mas não achamos. Pensei que você estivesse a caminho.

Rolo na cama, dando as costas para a janela e xingando a mim mesma por não ter inventado uma desculpa com antecedência, o que agora me coloca na terrível tarefa de improvisação.

— Eu estava, mas... bom, comecei a sentir cólica. 

Parou, parou. — Interrompe Ian do outro lado da ligação. — Sério, não quero ouvir mais nada. 

— Perdi alguma coisa? — Pergunto e tento ver os pensamentos dele a distância, palavras rolando a minha frente como um letreiro de jornal. 

Fora o fato de que Lillian não apareceu? Não, não perdeu nada. Passei a primeira parte da noite catando ela com Maya, e a segunda, tentando convencê-la de que a festa seria muito melhor sem ela. Olhe, juro por Deus, nunca vi uma amizade tão sinistra assim. — Ele diz. 

Arrastando o corpo, desço da cama e me dou conta de que este é o primeiro dia depois de uma semana que acordo sem ressaca. E mesmo sabendo que essa é uma ótima notícia, isso não muda o fato de que nunca me senti tão mal assim. 

Então, que tal a gente dar uma passada rápida no shopping para umas compras de Natal?

— Não vai dar. — Digo. — Ainda estou de castigo. — Vasculho minha gaveta atrás de um moletom. 

Até quando vai esse castigo? 

— Sei lá. — Jogo o celular na cama e visto um moletom verde, sabendo que tanto faz até quando vai o meu castigo. Se quiser sair, saio, e daí? Basta chegar em casa antes de Alison. Por outro lado, o castigo imposto por minha tia é a desculpa perfeita para ficar quietinha em casa, longe da energia caótica de multidões, e é basicamente por isso que tenho andado na linha. 

Então me avise quando estiver liberada de novo. — Pego o telefone de volta a tempo de ouvir Ian dizer.

Desligo o telefone e vou para o banheiro fazer minha higiene matinal, me arrependendo de ter vestido o moletom, já que vou precisar tirá-lo. Terminando o que preciso fazer, vou para a escrivaninha. Apesar da cabeça latejante, das mãos trêmulas e dos olhos que ardem, estou determinada a passar o dia longe do álcool, de Noah e das viagenzinhas ilícitas para o plano astral. Deveria ter sido mais insistente e exigido que ele me mostrasse como me proteger das intempéries da mediunidade. Quer dizer, por que a solução sempre acaba voltando para Betty?

Depois de um tempo, Alison bate de leve na porta e viro quando ela entra no quarto,abatida e triste, os olhos vermelhos, a aura cinzenta com pontinhos escuros. Logo me douconta de que tudo isso tem a ver com Alex e com o fato de que ela finalmente descobriu amontanha de mentiras do picareta. Mentiras que eu poderia ter desmascarado desde oinício, poupando minha tia de todo esse sofrimento, se não tivesse pensado primeiro em mim mesma.

— Emily — Ela diz, parando ao lado de minha cama. — Andei pensando e... bem, não estou à vontade com essa história de castigo, e você já é quase uma adulta, merece ser tratada como tal, então decidi que...

Que já é hora de acabar com essa bobagem, penso, terminando a frase em minha cabeça. Mas quando percebo que Alison ainda atribui meu comportamento às perdas que tive, fico roxa de vergonha.

— ... que já é hora de acabar com essa bobagem. — Ela sorri, em um gesto de paz que definitivamente não mereço. — Mas quem sabe você não mudou ideia quanto a possibilidade de conversar com alguém, porque conheço um terapeuta que... 

Faço que não com a cabeça antes que ela possa terminar, mesmo sabendo que suas intenções são as melhores possíveis, não quero ouvir falar de terapia. E quando ela se vira para sair, me pego dizendo:

— Tia, que tal a gente jantar fora hoje? — Ela hesita diante a porta, claramente surpresa com a proposta. — Por minha conta. — Abro um sorriso para encorajá-la, já me perguntando o que vou fazer para tolerar uma noite inteira num restaurante cheio de gente. 

— Acho uma ótima ideia. — Ela diz, tamborilando os nós dos dedos na parede antes de sair para o corredor. — Chego em casa por volta das sete. 

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