TRINTA E SEIS

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Na manhã de 21 de dezembro, desço as escadas com uma ressaca horrível. Me arrumo para dar uma boa impressão, preparando o café da manhã para que Alison vá para o trabalho convencida de que está tudo bem.

No segundo que eu escuto seu carro se afastar pela rua, ponho o cereal na pia e subo as escadas rumo ao meu quarto, tiro uma garrafa debaixo da cama e a destampo antecipando o líquido que acalmará meu interior, apagará toda a dor e afastará meus medos e ansiedades até não restar nada.

Mas por alguma razão não consegui deixar de olhar o calendário que fica sobre minha mesa, a data saltando na minha frente, gritando. Então eu me levanto e caminho até ele, olhando fixamente para o quadrado vazio, em branco, sem nenhuma citação ou lembrete de aniversário. Apenas as palavras solstício de inverno em pequenas letras pretas.

Me jogo na cama outra vez e encosto nos travesseiros, tomando outro gole da garrafa para aliviar minha mente como Noah fazia com apenas um olhar.

Tomo outro gole e depois outro. Muito rápido, muito imprudente. Mas agora que eu tinha ressuscitado a sua memória, a única coisa que quero é apagar. Então eu continuo me embriagando até que finalmente posso descansar, agora que Noah finalmente tinha sumido.

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

Quando acordo, estou cheia de um sentimento mais quente e pacífico, de um amor completamente consumado. Como se estivesse amarrada a um raio de sol, tão a salvo, tão feliz, tão segura, que quero ficar nesse lugar e viver ali para sempre.

Fecho meus olhos com força, me agarrando ao momento, determinada a ficar ali, até que sinto cócegas leves na ponta do meu nariz. Uma vibração no ar quase imperceptível faz com que eu abra meus olhos outra vez.

Coloco a mão no peito, meu coração está batendo tão forte que posso senti-lo, enquanto observo uma pena negra que foi deixada em meu travesseiro. A mesma pena negra que eu usava na noite em que me vesti de Maria Antonieta. Noah esteve aqui.

Olho para o relógio perguntando-me como foi possível que eu tenha dormido por tanto tempo, e quando olho através do quarto, vejo que a pintura que eu havia deixado na mala do meu quarto, agora está apoiada contra a parede, deixada ali para que eu veja.

Mas no lugar da versão de Noah da Mulher com Cabelo Amarelo  que eu esperava, vejo diante de mim uma imagem de uma garota loira e pálida correndo através de um desfiladeiro escuro e cheio de neblina. Um desfiladeiro igual ao do meu sonho.

E sem saber o motivo, agarro o meu casaco, coloco alguma coisa nos pés e corro para o quarto de Alison, recuperando as chaves do meu carro que ela escondeu na gaveta. Chego correndo até a garagem sem ter a menor ideia de pra onde estou indo e por quê. Só sei que tenho que chegar a esse desfiladeiro.

Conduzo para o norte, passando direto pelo centro e desviando de pedestres. No momento de me livrar de todas essas ruas congestionadas, eu aperto o acelerador e dirijo por instinto. Chegando a um parque natural, guardo meu celular e chaves no bolso e corro pela trilha.

A neblina estava avançando, dificultando a visão. Embora exista uma parte de mim que me mande voltar para casa, que estar aqui na escuridão e sozinha é uma loucura, não consigo parar. Me sinto obrigada a continuar.

Escondo minhas mãos no bolso, tremendo de frio enquanto tropeço em todas as partes, sem ter a menor ideia de para onde estou indo, sem nenhum destino em mente. Da mesma maneira que cheguei até aqui.

Meu celular vibra de repente, me assustando e fazendo com o que eu bata o dedo em uma pedra solta no chão, urrando de dor.

— Sim? — Eu digo, tentando manter minha respiração tranquila pela dor que agora sinto em meu dedo.

É assim que atende agora? — Ian diz do outro lado. — Só queria que soubesse que está perdendo uma festa bem selvagem, e como agora você gosta muito de festas, pensei que deveria te convidar. Quer dizer, você deveria ver, tem centenas de góticos lotando o desfiladeiro.

— Maia está aí? — Lhe pergunto, enquanto meu estômago se contrai involuntariamente ao dizer seu nome.

Sim. Ela está procurando por Lillian. Se lembra daquele evento super secreto? Bem, pois é este.

— Eu pensei que ela não gostava mais dessas coisas de gótico. — Desvio de outra pedra no chão. — Você disse que estava em um desfiladeiro? — Pergunto a Ian, pois acabei de chegar em cima de uma colina quando vejo o vale inundado de luzes.

Sim. — A voz do meu amigo agora parece estar longe.

— Eu também. Na verdade falta pouco para chegar aí. — Lhe digo, começando a descer pelo outro lado da colina.

Espera, como sabia onde era? — Eu sinceramente não sei como responder isso.

Acordei bêbada, com uma pena preta fazendo cócegas no nariz e uma inquietante e profética pintura na minha parede, então fiz o que qualquer pessoa ruim da cabeça faria: peguei meu casaco, coloquei sandálias e corri para fora de casa de camisola.

— Eu só suspeitei, estou vendo luzes. De qualquer jeito, estou quase chegando, então eu te verei em um minuto se não me perder na neblina.

Neblina? Não tem nenhuma nebli...

E antes que ele pudesse terminar, o telefone foi arrancado da minha mão, enquanto Lillian sorri.

— Oi, Emily. Te disse que voltaríamos a nos ver.

E aí galera? O que vocês acham que vai acontecer? Quem é a Lillian verdadeiramente? O que aconteceu com a Emily? Onde está Noah? Qual a ligação dele com a Lillian? 👀

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