TRINTA E QUATRO

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Após o festival, entramos no carro de Maya, fizemos uma parada rápida na casa dela para reabastecer a garrafa de vodka, depois fomos para a cidade e estacionamos na rua.

Sentamos na calçada, com os bolsos cheios de moedas, os três lado a lado, com os braços entrelaçados e cantando a plenos pulmões. Atravessamos a rua até chegar a praia, caindo na areia e passando a garrafa entre nós.

— Merda. — Murmuro quando Ian passa a garrafa para mim, mas está vazia.

— Vai com calma. — Ian me olha. — Só relaxa e aproveita o silêncio.

Mas eu não quero relaxar. E eu estou  aproveitando o silêncio. Com todo o álcool circulando em meu corpo, os meus "dons" sumiram. Se estou bêbada, não leio pensamentos, não vejo auras e não sei de vidas através do toque. Quero me certificar de que continuem assim.

— Querem ir a minha casa? — Digo, esperando que Alison não esteja lá.

— Esqueça isso. — Maya diz. — Estou destruída. Sinceramente pensando em deixar o carro aqui e ir me arrastando até em casa.

— Ian? — O olho de relance, meus olhos implorando, não querendo que a festa termine. Esta é a primeira vez que me sinto tão leve, tão livre, sem compromisso, tão normal desde que Noah se foi.

— Não posso. — Ele balança a cabeça. — Jantar em família às sete e meia em ponto. Gravata e camisa social obrigatórias. — Ele cai na areia, enquanto Maya o acompanha caindo também.

— Beleza, e quanto a mim? O que devo fazer? — Eu cruzo meus braços e olho para os meus amigos que estão me ignorando e rolando de rir juntos.

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

No dia seguinte, mesmo dormindo até tarde, a primeira coisa que percebo quando acordo é que a minha cabeça não está doendo.

Eu rolo de lado, alcanço embaixo da cama e tiro a garrafa que coloquei ali na noite anterior, tomando um longo gole e fechando os olhos quando o entorpercimento toma minha língua.

Quando Alison enfia a cabeça em meu quarto para ver se já acordei, fico extasiada ao ver que sua aura desapareceu da minha vista. 

— Estou acordada! — Digo, escondendo a garrafa embaixo do travesseiro e correndo para abraça-la. Ansiosa para ver se sentirei alguma energia, e me sentindo incrível quando não sinto nada. — Não é um ótimo dia? 

— Se você diz. — Ela olha pela janela e novamente para mim.

Olhando também, eu vejo um dia cinza, nublado e chuvoso. Entretanto, eu não me referia ao clima, estava me referindo a nova Emily.

— Me faz lembrar de casa. — Dou de ombros, tirando a camisola e indo para o chuveiro.

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

— Mas que diabos? — Ian diz no segundo em que entra no carro, olhando minha saia, sapatos e suéter. Não está bonito, eu sei. Mas são lembranças que Alison guardou da minha vida passada. — Desculpe, não aceito carona de estranhos.

— Sou eu. Te juro pela... bem, só acredite em mim. — Rio, lembrando que não tem como jurar pela minha mãe.

— Eu não entendo. — Ian diz, olhando-me sem acreditar. — Quero dizer, quando aconteceu isso? Ainda ontem você estava completamente coberta, e hoje...

Eu sorrio e aperto o pé no acelerador, minhas rodas derrapando na pista molhada, e diminuindo o ritmo ao lembrar que com todo o álcool eu não sei mais quando terá policiais na pista ou não.

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