QUARENTA E CINCO

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Assim que Lesley se vai, não me contenho e começo a chorar, mesmo sabendo que fiz o que tinha de fazer, mas ainda achando que seria ótimo se não doesse tanto. Fico assim por algum tempo, enroscada no sofá, o corpo dobrado numa bolota, relembrando tudo o que ela disse sobre o acidente, que não tinha sido realmente minha culpa. Quem dera se eu pudesse acreditar nisso, mas sei que não é verdade.

Quatro vidas foram tiradas naquele dia, e tudo por minha causa. Tudo por causa de um maldito suéter azul de líder de torcida.

"Compro outro pra você", papai disse, olhando-me nos olhos pelo retrovisor do carro, "Se a gente voltar, vamos pegar o engarrafamento da cidade."

"Mas é meu suéter favorito", choraminguei. ''Não tem pra vender em loja nenhuma!", resmunguei, sabendo que estava a poucos segundos de convencê-lo.

"Você realmente quer esse suéter?"

Fiz que sim com a cabeça, sorrindo ao ver que ele balançou a cabeça, respirou fundo e fez o retorno. Então, novamente olhou pelo retrovisor, no exato momento em que o cervo cruzou a estrada.

Minha vontade é de acreditar em Lesley, reprogramar meu cérebro para pensar igual a ela, mas saber a verdade garante que eu nunca vou conseguir.

Enquanto seco as lágrimas do rosto, novamente me lembro das palavras de Betty. E raciocino: se me despedi da pessoa errada, segundo ela disse, e a pessoa certa era Lesley, então talvez ela estivesse falando de Noah.

Pego o pirulito que havia deixado em cima da mesa e quase caio para trás quando ele se transforma em uma rosa. Uma grande, enorme e reluzente rosa vermelha.

Então corro para o quarto, abro o laptop sobre a cama e faço uma busca rápida no significado das flores, rolando a página até que leio: No século XVIII, as pessoas muitas vezes comunicavam suas intenções por meio das flores que enviavam, uma vez que significados específicos eram atribuídos a cada tipo de flor. Aqui estão alguns dos mais tradicionais:

Vou descendo pela lista alfabética até encontrar as rosas, e mal consigo respirar quando leio:

Rosas vermelhas — Amor eterno.

Em seguida, só por curiosidade, vejo qual é o significado das rosas brancas e dou uma bela risada ao ler:

Rosas brancas — Um coração que não conhece o amor e, portanto, é incapaz de amar.

Agora sei que Noah estava me testando. O tempo inteiro. Guardando para si esse segredo enorme, sem fazer a menor ideia de como dividi-lo comigo, sem saber qual seria minha reação. Flertando com Natalie só para me provocar, para depois bisbilhotar meus pensamentos e ver se eu me importava ou não. Admito, comportamento babaca.

E agora, caso eu queira vê-lo novamente, basta dizer seu nome em voz alta para que ele se materialize à minha frente. Porque a verdade é que amo Noah; e venho amando-o a cada dia de minha vida. Desde o primeiro dia em que o vi. E mesmo depois de jurar a mim mesma que não. Não há nada que eu possa fazer, amo o garoto e pronto. E apesar das dúvidas que ainda tenho sobre essa história de imortalidade, devo confessar: Summercity foi muito, muito legal. Além disso, se Lesley estiver certa quanto àquilo que disse sobre o destino, sobre os fatos acontecerem porque têm de acontecer, então quem sabe isso não se aplica também a esse novo capítulo de minha vida?

Fecho os olhos e imagino o corpo perfeito e quentinho de Noah enroscando-se contra o meu, o hálito saindo pelos doces lábios que vão roçando minha orelha, meu pescoço, meu rosto, até que finalmente encontram os meus. E procuro fixar essa imagem na cabeça, a sensação do nosso amor perfeito, do nosso beijo perfeito, enquanto sussurro as palavras que venho refreando durante todo esse tempo, aquelas que tanto temia dizer, aquelas que o trarão de volta para mim.

Vou repetindo essas palavras não sei quantas vezes, cada vez mais alto, até que minha voz ecoa por toda a sala. Mas quando abro os olhos novamente vejo que estou sozinha.

E me dou conta de que esperei demais.

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