TRINTA E NOVE

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De início ela apenas me encara com os olhos verdes arregalados, incrédula, mas depois ergue o queixo e sorri. Antes que possa me atacar, estou determinada a dar o primeiro golpe, a derrubá-la enquanto é tempo. Antes de alcançá-la, vejo a poucos metros de distância um círculo de luz dourada, uma espécie de véu cintilante, como em meus sonhos. 

Mesmo sabendo que foi Lillian quem fabricou esses sonhos, e que decerto estou diante de uma armadilha, não consigo me conter e ando em direção a luz. 

Saio correndo da presença de Lillian, tropeçando na neblina até chegar ao véu de claridade amável, deixando a mulher para trás por um pouco. Atravessando o círculo, chego a um campo de relva muito verde, a queda amortecida pela grama. 

Olhando ao redor, vejo pétalas que parecem iluminadas por dentro, cercadas de árvores altas, os galhos cedendo ao peso de frutos grandes. E enquanto admiro a paisagem, deitada em silêncio, lentamente digerindo cada detalhe, tenho a estranha sensação de que já estive aqui antes. 

— Emily. — A voz de Noah rompe o silêncio. Me ponho de pé no mesmo instante. — Emily, fique tranquila. Está tudo bem. — Ele me oferece a mão, sorrindo. — Ela não está aqui, somos só nós dois. 

— Onde estamos? — Pergunto. Mas na verdade o que quero saber é: Estou morta? 

— Posso te garantir que não está morta. Está em Summerville. — E percebendo a interrogação em meu rosto, ele explica. — É um tipo de lugar intermediário. Como se fosse uma sala de espera. Uma dimensão entre dimensões. 

— Dimensões? — Aperto os olhos sem entender. 

Ele dá de ombros e acena para que eu o siga através de uma campina onde todas as flores, árvores e gramas balançam suavemente. 

— Feche os olhos. — Ele sussurra. E diante da minha recusa, ele insiste. — Por favor. — Então eu obedeço, mas sem deixar uma pequena fresta aberta. — Emily, confie em mim. Pelo menos desta vez. 

— E agora? — Fecho os olhos completamente. 

— Agora imagine algo. 

— Como assim? — No entanto, mesmo sem entender, imagino a figura de um elefante. 

— Imagine outra coisa, rápido! — Assustada, abro os olhos e dou de cara com um elefante de proporções titânicas vindo em nossa direção. E fico maravilhada quando, também por obra da minha imaginação, ele se transforma em um passarinho. 

— Como foi que... — Olho confusa para Noah.

— Vá, tente de novo! — Ele encoraja. — Nunca me canso desta brincadeira. 

— Quero que você me explique tudo agora. — Quero muito ver coisas se materializando em minha frente, mas preciso de respostas. — Como tudo isso é possível? 

— Vamos dar um passeio. — Ele diz, fazendo aparecer um cavalo para ele e outro para mim. 

Cavalgando lado a lado, atravessamos um vale salpicado de flores e árvores. Continuamos em silêncio, apreciando a paisagem. Mas as perguntas não demoram a fervilhar em minha mente. 

— Aquele véu de luz que você viu, lembra-se? — Ele interrompe o silêncio. — Eu o coloquei ali. E em seus sonhos também. 

— Mas Lillian me disse que ela produziu aqueles sonhos. — Olhando para Noah, não posso deixar de notar a segurança que ele cavalga, a postura elegante. 

— Lillian mostrava o desfiladeiro. Eu mostrava a saída. — Ele dá de ombros. 

— Então você e Lillian criavam os meus sonhos juntos? 

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