TRINTA E CINCO

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Se alguém me dissesse que eu estaria estendida no banheiro, nocauteada com Natalie Hall, eu jamais acreditaria. Mas foi exatamente o que aconteceu. Nos arrastamos para um canto e acabamos com uma garrafa cheia de vodka.

— Que diabos? — Maya entra de repente, com seus olhos saltando ao ver aquela cena.

— Betida garrota fantaszma. — Eu rolo de rir, enquanto Natalie embola a língua para falar.

— Eu perdi alguma coisa? — Perguntou Maya, seus olhos nos fitando com desconfiança. — Era para parecer engraçado?

E pelo jeito que ela olha, pela maneira como fica parada ali toda autoritária, tão direta, tão séria, me faz rir ainda mais. Então, quando a porta de fecha e Maya sai, começamos a beber novamente.

Mas ficar bêbada no banheiro com Natalie, não te assegura um lugar na mesa VIP. E estando certa disso, sem sequer tentar, me dirijo a mesa habitual com meus amigos. Minha cabeça tão tonta que eu levo um momento para perceber que não sou bem vinda lá também.

Deixo-me cair em uma cadeira, olho para Maya e Ian, e logo começo a rir sem razão aparente. Pelo menos nenhuma que seja aparente para eles. Mas se pudessem ver suas caras, sei que estariam rindo também.

— O que acontece com ela? — Pergunta Ian, olhando por cima do seu celular.

— Está bêbada. Totalmente e completamente bêbada. Eu a vi no banheiro, bebendo com Natalie. — Maya arqueia uma sobrancelha.

— Sério Emily, está louca? Deus, desde que Noah foi embora, você mudou muito. — Ian me belisca até que eu pare de rir. — Beba isso aqui. — Ele me passa sua vitamina. — E me dê as chaves do seu carro. Você não vai me levar em casa assim.

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Ian estava certo. Eu não o levei para casa. Ele foi sozinho e quem me levou foi Alison. Ela me acomodou no banco do passageiro e volta para o seu assento.

— Expulsa? Como você vai de uma estudante exemplar para expulsa? Pode me explicar? — Minha tia balança a cabeça, saindo do estacionamento.

Eu fecho os meus olhos e pressiono minha testa contra a janela, o vidro liso e limpo esfriando minha pele.

— Suspensa. — Murmuro. — Olha, agora eu sei porque ganha tanto dinheiro. Me defendeu de maneira impressionante, lembra? — Eu a olho de relance. 

Mesmo sabendo que deveria sentir-me mal, envergonhada, culpada e pior. O fato é que, não é como se eu tivesse pedido que ela me defendesse. Alison alegou circunstâncias extraordinárias. Dizendo que eu havia bebido na escola porque "estava claramente triste pela gravidade da minha situação, o terrível drama de perder a minha família."

E mesmo que ela tenha dito isso de boa fé, mesmo que ela acredite que isso é verdade, não quer dizer que seja. A verdade é que eu preferia ter sido expulsa.

Os eventos do meu dia voltaram a minha mente, como um trailer de um filme que eu preferia não ver. Pausando na cena em que me esqueci de fazer com que Natalie apagasse aquela foto.

Então mais tarde, quando me dei conta de que era o telefone de Spencer que ela havia usado, e que ela havia ido para casa alegando dor de estômago, mas não antes de mandar Spencer compartilhar a minha foto.

Mesmo com os problemas que tenho, não só na escola, mas com Alison. Natalie não só cumpriu com sua promessa de me destruir, como também ganhou trezentos dólares e a tarde livre.

Graças a ela, Spencer e o diretor, não tenho que ir a escola amanhã. Nem no dia seguinte. Ou no dia após o dia seguinte. O que quero dizer é que terei a casa do para mim, o dia todo, todos os dias. Agora que encontrei meu caminho da paz, nada ficará no meu caminho.

— Emily, há quanto tempo isso vem acontecendo? — Pergunta Alison, insegura de como me afrontar. — Preciso te colocar de castigo? Tenho que esconder todas as bebidas? — Ela balança a cabeça. — Emily, eu estou falando! O que está acontecendo com você?

Posso sentir seu olhar em mim, sentir a preocupação dela, mas só fecho os olhos e tento dormir para ignorar. Não tem forma de explicar, não posso descarregar toda a verdade sobre auras, visões, espíritos e um ex-namorado imortal.

Alison trabalha com o lado esquerdo do cérebro, é organizada, trabalha com a lógica do branco e preto, ignorando o cinza. E se eu fosse em algum momento suficientemente tola para confiar nela, ela me internaria.

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Exatamente como disse, Alison escondeu todas as bebidas antes de ir para o trabalho. Mas é só esperar ela sair sozinha, para que eu desça e me dirijo para a dispensa, tirando todas as garrafas de vodka que sobraram da festa.

As levo para o quarto e me jogo na cama, animada com a possibilidade de três semanas inteiras sem ir a escola. Vinte e um gloriosos dias espalhados diante de mim, como um prato de ração para um gato gordo. Uma semana de suspensão e duas pelas férias de inverno.

Me encosto no travesseiro e tiro a tampa da garrafa, determinada a limitar cada gole, deixando que o álcool siga todo o caminho pela minha garganta e pela corrente sanguínea antes de tomar outro.

Nada de goles grandes ou excessivos. Só goles lentos e constantes até que minha cabeça comece a acalmar e o mundo se torne mais brilhante. Fundando-me em um lugar mais feliz. Um mundo sem memórias. Um lugar sem perdas. Uma vida onde eu só vejo o que supostamente vejo.

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A seguir, capítulo essencial para a história! 👀

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