QUARENTA

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— Meu pai era um grande sonhador. — Noah começa. — Um artista, doido por ciência e alquimia.

— Que época? — Pergunto, ávida por nomes, datas, lugares... qualquer informação concreta que possa ser pesquisada depois, não apenas uma ladainha filosófica de ideias abstratas.

— Meu pai, assim como os amigos alquimistas dele, acreditava que tudo podia ser reduzido a um único elemento, e que se você conseguisse isolar esse elemento poderia criar o que quisesse com ele. — Ele diz, ignorando a minha pergunta. — Ele se dedicou a essa teoria por anos, criando fórmulas, abandonando fórmulas, e mais tarde, quando ele e minha mãe... morreram, dei continuidade a pesquisa até aperfeiçoá-la.

— Você ainda pode envelhecer? — Cortei a explicação dele.

— Sim. Envelheci até certo ponto, depois parei. Sei que você prefere a teoria dos "congelados no tempo", dos vampiros, mas isso é fantasia. — Ele diz, como se ser imortal fosse normal.

— Tudo bem, e então... — Falo, ansiosa por mais.

— Então, meus pais morreram. Passando um tempo, conheci Lillian. Éramos tutelados pela igreja. Mais tarde, ela ficou doente, achei que não fosse suportar perdê-la, então a fiz tomar

— Ela disse que vocês eram casados. — Franzi os lábios, sabendo que ela não disse exatamente isso, mas sugeriu quando deu seu nome completo.

— Eu já estou na estrada há séculos. Tempo mais que suficiente para cometer alguns enganos. — Ele me olha sério. — As coisas eram diferentes naquele tempo. Eu era diferente. Era vaidoso, superficial e materialista. Mas assim que conheci você tudo mudou, e quando a perdi, bem.. não sabia que uma dor tão grande seria possível. Mas depois, quando você reapareceu... — Noah para de repente e olha ao longe. — Reencontrei você, mas logo em seguida a perdi novamente. Uma vez, duas vezes, três vezes... um eterno ciclo de amor e perda, até agora.

— Quer dizer então que a gente... reencarna? — Digo, estranhando a palavra assim que ela sai da minha boca.

— Você, sim. Eu, não. — Ele dá de ombros. — Estou sempre aqui, sempre o mesmo.

— E quem fui eu? — Pergunto, mesmo sem saber se acredito nisso tudo, acho fascinante o conceito da reencarnação. — Como não lembro de nada? 

— É como se na viagem de volta, você passasse por um rio do esquecimento. — Ele explica, parecendo aliviado com a mudança de assunto. — Não é para lembrarem de nada. Estão aqui para aprender, para evoluir, para quitas as dívidas. Sempre recomeçando do zero até encontrar o próprio caminho. 

Me pergunto como ele sabe de tudo isso, se nunca passou pela experiência. 

— Então, depois de anos a sua procura, finalmente consegui reencontrá-la... e o restante você já sabe. 

Respiro fundo e olho para o abajur ao meu lado, o acendendo e apagando várias vezes, tentando digerir essa avalanche de informações. 

— Faz muitos anos que me afastei de Lillian, mas ela tem o péssimo hábito de reaparecer. Naquela noite no restaurante, quando você nos viu juntos, eu estava a mandando ir embora e me deixar em paz. E sim, sei que ela matou Eva. Aquele dia na praia, quando você acordou sozinha. — Eu sabia que ele não estava surfando! — Eu havia acabado de encontrar o corpo dela, mas era tarde demais para agir. Felizmente, pude ajudar Maya. 

— Isso tudo parece ser demais para mim. — Digo, o olhando nos olhos.

— E quanto ao meu quarto sinistro, como você chama não é? Aquele é o meu lugar feliz. As lembranças da minha vida. Deixa eu te confessar, ri muito quando você achou que eu fosse um vampiro. 

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