TRINTA

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— O que você fez? — Eu encaro todos os corpos mole. — Meu Deus, você os matou!

— Emily, você está louca? Eles só estão dormindo. — Ele diz, tranquilamente como se nada estivesse acontecendo.

Deslizo para a ponta da minha cadeira, olhos fixos na porta, pensando em fugir desse cara louco.

— Você pode tentar, mas não vai chegar muito longe. Eu sai do estacionamento depois de você, mas cheguei aqui na sala de aula primeiro. — Ele cruza as pernas e olha para mim, o rosto calmo e a voz firme.

— Você pode ler minha mente? — Eu sussurrei, lembrando de alguns dos meus mais embaraçados momentos.

— Normalmente. — Ele dá de ombros.

— A quanto tempo? — Eu o encaro, parte de mim querendo aproveitar a chance para escapar, enquanto a outra parte quer algumas perguntas respondidas antes da minha quase certa morte.

— Desde o primeiro dia em que te vi. — Noah sussurra.

— E quando foi isso? — Digo com a voz tremendo, lembrando da foto na mesa dele, me perguntando a quanto tempo ele está me vigiando.

— Não estou vigiando você. — Ele ri. — Não do jeito que você pensa.

— Por que eu deveria acreditar em você? — O encaro, sabendo que não devo confiar mais nele.

— Eu nunca menti para você.

— Você está mentindo agora!

— Eu nunca menti para você sobre algo importante. — Ele desvia o olhar.

— E quanto ao fato de você ter uma foto minha, muito antes de você sequer estudar aqui? Me diz onde isso cai na sua lista de coisas importantes para dividir em uma relação? — Eu encaro.

— E onde ser psíquica que anda com sua irmãzinha morta, cai na sua lista? — Ele suspira, parecendo cansado dessa conversa, mas me pegando de surpresa ao dizer isso.

— Você não sabe nada sobre mim. — Levanto com as mãos trêmulas, coração batendo forte no peito, enquanto olho todos os corpos dormindo. — Você fez isso na escola toda ou apenas nessa sala?

— Não tenho certeza, mas acho que é a escola toda. — Noah sorri parecendo satisfeito com seu trabalho.

E sem qualquer outra palavra, saio da sala e passo pelo corredor, pela quadra e pelo escritório. Passo voando pelas professoras e coordenadores dormindo em suas mesas, até chegar no estacionamento e correr até o meu carro, onde Noah já está me esperando com a minha mochila.

— Eu te disse. — Ele dá de ombros, devolvendo a mochila.

Eu fico parada diante dele, suada, frenética, completamente apavorada. Todos aqueles longos momentos esquecidos passando diante de mim — o rosto dele coberto de sangue, Maya caída e com dor, aquele estranho quarto — e eu sei que ele fez algo com a minha mente, algo para me impedir de lembrar.

— Você acha que fiz tudo isso para tentar matar você? — Os olhos dele estão cheios de lágrimas?

— Não é esse o plano? — Respondo. — Maya acha que tudo é um gótico sonho por conta da febre, mas eu sei a verdade agora. Eu sei o monstro que você é. Por que manipular minha memória e me deixar viva?

— Eu nunca te machucaria, Emily. Você entendeu tudo errado, eu estava tentando salvar Maya, não matar ela.

— Por que ela parecia a beira da morte? — Pressiono meus lábios para os impedir de tremer.

— Ela realmente estava. — Noah soa incomodado. — Aquela tatuagem no pulso dela estava infeccionada. Estava matando ela. Quando você apareceu, eu estava tirando a infecção dela, como você faz com uma picada de cobra.

— Eu sei o que eu vi. — Balanço a cabeça.

— Eu sei o que parece, sei que você não acredita em mim. — Ele respira fundo antes de prosseguir. — Mas eu tentei explicar e você não deixou.

— Tudo que eu sei é que eu quero que você volte para o seu caixão, ou seu esconderijo, ou onde quer que você vivia antes de vir aqui. — Arfo por oxigênio, me sentindo presa a um terrível pesadelo. — Apenas me deixe em paz. Vá embora!

— Eu não sou um vampiro, Emily. — Ele fecha os olhos, e reprime uma risada. — Não seja ridícula, isso não existe.

Imagino todo o sangue, Maya, aquele estranho quarto, sabendo que se eu pensar nisso, ele também verá. Me pergunto como ele poderá explicar sua amizade com Picasso, Van Gogh e William Shakespeare, quando eles viveram séculos de diferença.

— Eu também era um bom amigo de Leonardo da Vinci, Albert Einstein e companhia. — Ele diz, olhando para mim. — Eu não sou um vampiro, eu sou um imortal.

— Que seja, vampiro e imortal não tem diferença. — É ridículo discutir por um rótulo.

— Vale a pena discutir sim. Tem uma grande diferença. — Ele sorri. — Um vampiro é uma criatura fictícia, que existe apenas em livros e filmes. Enquanto eu sou um imortal. Eu ando pela terra a centenas de anos, mas minha imortalidade não está ligada a sugar sangue ou qualquer coisa que você tenha imaginado.

— Suco da imortalidade. — Ele ri, ao ler minha mente imaginando o que seria aquele líquido vermelho que ele toma. — Também não existe suco da imortalidade, e o que eu tomo não é. Você não precisa ter medo de mim, eu não sou perigoso.

— Isso é loucura! — Me afasto quando ele se estica para me abraçar. — Você está maluco! Está mentindo!

— Lembra da primeira vez que você me viu? — Ele dá um pequeno passo em minha direção. — Lembra como no segundo em que seus olhos encontraram os meus, você sentiu uma onda imediata de reconhecimento? Lembra quando você se sentiu tonta, e quando abriu os olhos e olhou direto nos meus, você esteve tão perto de lembrar mas Maya atrapalhou?

— Não. — Eu murmurei, dando outro passo para trás, sentindo exatamente o que ele estava prestes a dizer.

— Eu encontrei você na floresta. No dia do acidente dos seus pais, eu te trouxe de volta. — Noah diz, fazendo meus joelhos ficarem fracos, e meu corpo ir perdendo o equilíbrio.

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