TRINTA E TRÊS

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— Quem era aquela? — Maya pergunta, mergulhando uma tortilha em um pequeno recipiente com molho, enquanto eu me sento ao seu lado.

— Ninguém. — Respondo, trincando o maxilar quando minhas palavras vibram em meus ouvidos.

— Se parece com a psíquica da festa. — Ian diz, passando para mim um prato e um garfo de plástico. — Não sabíamos o que iria querer, então trouxemos um pouco de tudo. Você comprou a bolsa?

— Muito caro. — Lhe digo, cobrindo a minha boca enquanto mastigo, a trituração ecoando tão forte que meus olhos enchem de lágrimas. — Comprou um jarro? — Mesmo sabendo que ele não comprou, pergunto.

— Ei pessoal, shh! É meu celular? — Maya procura em sua enorme e carregada bolsa, que tem servido de armário.

Tomo um gole do meu sprite, olho para Maya e quando vejo a expressão eufórica em seu rosto, eu sei.

— Oh, meu Deus! Pensei que tinha desaparecido. Eu saí com Ian. Sim, Emily está aqui também. Ok. — Ela cobre o telefone e se dirige até nós. — Lillian está dizendo oi para vocês! — Então ela fica esperando uma resposta, mas como não respondemos, ela revira os olhos e sai. — Eles mandaram um oi para você também.

— Tem algo assustador nessa amizade. — Ian diz, olhando Maya se afastar, falando animada ao telefone.

— Como assim assustador? — Pergunto a Ian, minha cabeça latejando tão forte que não posso ler a mente dele.

— Sei que isso pode soar horrível, não quero que seja assim, mas é quase como se ela estivesse convertendo Maya em uma cadelinha.

Levanto as sobrancelhas.

— Uma seguidora, uma devota, uma clone, uma Lillian 2.0. — Ele dá de ombros. — E isso é tão...

— Assustador. — Concluo.

— Olha como ela começou a se vestir como Lillian, as lentes de contato, a cor dos cabelos, a maquiagem, a roupa e agora também age como ela. Ou pelo menos tenta.

— Não tem mais nada? — Lhe pergunto, querendo saber algo mais específico, ou se apenas é um pressentimento ruim.

— Entre você e eu, esse assunto da tatuagem tomou um novo nível. Quero dizer, que diabos? — Ele sussurra, olhando de relance para Maya, certificando de que ela não pode escutar. — Eu sei o que significa, mas o que significa para ela? A última moda de vampiros? Lillian não é exatamente uma gótica. E aquela inflamação provavelmente a deixou doente.

Afasto o prato sem ter mais fome, e encaro Ian sem ter certeza do que responder a ele. Me perguntando como continuo tão determinada a guardar os segredos de Noah. Mas hesito demais e Ian continua, e eu garanto que o baú continue fechado, pelo menos por hoje.

— Tudo isso é tão... doentio. — Ele estremece.

— O que é doentio? — Maya pergunta sentando-se subitamente ao meu lado e atirando seu celular dentro da bolsa.

— Não lavar as mãos depois de ir ao banheiro. — Ian se esquiva.

— É disso que vocês estão falando? — Ela nos olha. — E espera que eu acredite nisso?

— Eu estou te dizendo, Emily se recusa a usar o sabonete e eu estava tratando de adverti-la dos perigos.

Reviro os olhos, observando enquanto Maya procura em sua bolsa, vagando pelos tubos de batom, pastilhas de menta sem embalagem, até encontrar um pequeno frasco prateado, destampar e colocar em nossas bebidas uma grande quantidade de um líquido transparente.

— Bem, isso é muito divertido, mas é óbvio que vocês estavam falando de mim. Mas quer saber? Não me importo, estou loucamente feliz. — Ela sorri.

Eu alcanço sua mão, determinada e evitar que encha mais a minha latinha de sprite. Desde que eu vomitei até às tripas no acampamento com minhas amigas, jurei ficar longe de vodka. Mas quando minha mão encosta na dela, me encho de terror, vendo um flash de um calendário em minha frente com a data 21 de dezembro circulada em vermelho.

— Deus, relaxa. Deixa de ser tão chata, Emily. É só um pouco de vodka. — Ela revira os olhos. — Não vão me perguntar o motivo da minha felicidade?

— Não. Nos dirá de qualquer jeito. — Ian diz, deixando o prato puro.

— Tem razão, Ian. Mas de qualquer maneira, é bom quando seus melhores amigos parecem se importar. Enfim, Lillian me ligou.

— E então? — Ian diz, espantando uns pombos que pararam na lixeira ao lado dele.

— Ainda está em Nova Iorque desfrutando de uma grande exposição de lojas. Inclusive comprou muitas coisas para mim, se podem acreditar. — Ela espera alguma reação nossa, e quando não vem, ela continua falando. — Ela lhes mandou oi, mesmo vocês não se importando em responder. Ah, ela disse que voltará logo e me convidou para uma festa!

— Quando? — Lhe pergunto, querendo saber se será em 21 de dezembro.

— Sinto muito, não digo. Prometi não dizer nada.

— Por que? — Ian e eu perguntamos ao mesmo tempo.

— É super exclusivo, somente para convidados. — Maya responde, se sentindo especial pela atenção que resolvemos dar ao assunto.

— Isso não está certo. — Ian balança a cabeça. — Nós somos os seus melhores amigos, então por lei tem que nos contar.

— Não desta vez. Jurei guardar segredo. Apenas saibam que estou tão animada que poderia explodir! — Ela toma um grande gole da sua garrafa com vodka.

Eu a encaro fixamente, ali sentada na minha frente, seu rosto em uma felicidade que me irrita, mas minha cabeça me dói tanto, meus olhos lacrimejam tanto e sua aura está tão misturada as outras auras, que não consigo ler nada.

Tomo um gole da minha sprite, esquecendo por um instante que Maya a batizou com vodka. O líquido quente e gasoso por conta do refrigerante faz a minha cabeça girar.

— Ainda está doente? — Maya me olha com preocupação. — Deveria ir devagar.

— Sobre o quê? — Tomo mais um gole e depois outro.

— Se lembra quando se sentiu subitamente tonta aquele dia na escola? Eu disse que era só o começo. Você vai começar a ter sonhos loucos e enjôos.

— Quais sonhos? — Eu tomo outro gole, notando como minha cabeça fica leve. Livre de todas as visões, pensamentos dos outros e tantas cores.

— Não fique chateada, mas Noah esteve em alguns deles. Era como se ele estivesse me salvando, entende? Foi bem bizarro. — Ela ri. — Ah, falando dele, Lillian viu Noah em Nova Iorque.

Eu olho fixamente para Maya com meu corpo sofrendo uma onda de arrepios. Mas quando eu tomo outro gole, o frio vai embora, levando com ele minha ansiedade.

— Por que me disse isso? — Termino de vez a minha lata de sprite batizada com vodka.

— Lillian queria que você soubesse. — Maya responde, apenas dando de ombros.

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