QUARENTA E DOIS

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Assim que a porta bate lá embaixo, Lesley berra em minhas costas

— Emily! Emily! Você pode me ver? 

— Caramba, Lesley, você quase me mata de susto! Por que está berrando? — Nem sei porque a recebo com todo esse mau humor, já que é uma grande felicidade ver minha irmã novamente. 

— Para sua informação, estou tentando falar com você faz dias! Achei até que você não podia mais me ver, estava começando a pirar! 

— Eu perdi minha capacidade. Comecei a beber, acredita? E muito. Fui suspensa e tudo mais. Uma confusão. — Balanço a cabeça em reprovação. 

— Eu sei. — Ela senta na cama. — Que diabos aconteceu com você garota?

— Sabe o que é? Essa energia toda ao meu redor começou a me sufocar, eu não estava mais aguentando. E quando descobri que o álcool aliviava isso tudo, quis prolongar a paz que estava sentindo. — Explico para ela.

— Emily... — Lesley evita me encarar. — Por favor, não fique brava comigo, mas acho que você deveria procurar Betty. Acho que ela pode te ajudar. Na verdade, eu tenho certeza. 

— Olha, sei que você está encantada com essa mulher e tal. Tudo bem, é uma escolha sua. Mas essa Betty não tem nada para me oferecer. — Dou de ombros. — Me poupe.

Ela suspira, e eu noto como ela parece estar mais transparente, embaçada e difusa. Também trocou as fantasias por roupas normais. 

— O que aconteceu aquele dia em que você foi a casa de Noah? — Lesley pergunta. — Vocês ainda estão juntos? 

Mas não quero falar sobre Noah, nem saberia por onde começar. Além disso, sei que ela está tentando desviar do assunto, evitar qualquer comentário sobre seu novo aspecto. 

— Não tenho muito tempo. — Ela sacode os ombros, lendo a minha mente. 

— Como assim, ''não tem muito tempo''? Você vai voltar, não é? — Digo, sentindo um frio na espinha quando ela se despede e vai embora, deixando em seu lugar um cartãozinho amassado com o número de Betty. 

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

Antes mesmo de estacionar, vejo que ela já espera por mim a porta. Ou a mulher é realmente vidente, ou está aí desde que desligamos o telefone. 

— Olá, Emily, seja bem-vinda. — Betty sorri, me levando até uma sala muito bem decorada. Correndo os olhos pelo lugar, os porta-retratos, os livros de arte na mesa de centro, o conjunto de sofás e cadeiras, fico espantada com a normalidade de todo o cenário. — Você esperava o quê? Paredes roxas e bolas de cristal? — Ela ri e acena para que eu a siga até uma cozinha bastante arejada, de piso claro e eletrodomésticos de inox. — Vou fazer um chá para gente. — Diz, e coloca a água para ferver. Depois me oferece uma cadeira a mesa. 

Observo a mulher preparando a infusão, colocando biscoitos em um prato e acomodando-se a minha frente. Só então digo:

— Hmm, desculpe por ter sido tão... grossa com você... e tudo mais. — E dou de ombros, envergonhada pela minha falta de jeito. 

— Fico feliz que tenha vindo. — Ela coloca a mão sobre a minha. — Eu estava muito preocupada com você. — Com os olhos voltados para baixo, para a toalha verde da mesa, fico sem saber por onde começar. Mas é Betty quem está no comando, então ela continua. — Tem visto Lesley? — Poxa, ela tinha que começar logo por aí? 

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