VINTE E NOVE

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Quando Noah para em frente a minha casa, pulo para fora e corro para dentro, subindo dois degraus de cada vez, e esperando que Lesley esteja em meu quarto.

Preciso vê-la, preciso falar sobre todos os pensamentos malucos que estão se formando dentro de mim. Ela é a única para qual eu posso tentar explicar, a única que talvez possa entender.

Fico no meu quarto, chamando o nome dela, me sentindo estranha, abalada, em pânico, de um jeito que eu não consigo explicar direito.

Mas quando ela não aparece, eu me arrasto para a cama, decidida a deixar essa tristeza me invadir por completo, revivendo toda a morte da minha família de novo.

— Emily, você está bem? — Alison entra no quarto, se ajoelhando ao lado da minha cama, e deixando uma mochila no chão. — Eu estava na cozinha quando você subiu rápido, me preocupei.

Eu fecho os olhos e balanço a cabeça. Apesar da minha tontura, eu não estou doente.

— Às vezes, isso me atinge de repente, sabe? — Uso um travesseiro para secar minhas lágrimas.

— Não tenho certeza que ficará bem, querida. — Ela me olha, com o rosto suavizando. — Eu acho que você simplesmente se acostuma com o sentimento, a solidão e a perda.

E quando ela se deita ao meu lado, eu não me afasto. Só fecho os olhos e me permito sentir a dor dela, a minha dor, até que nós duas estejamos misturadas.

— Olha o que encontrei no porta malas do meu carro. Eu peguei emprestado anos atrás, logo quando você se mudou para cá. Eu não sabia que ainda o tinha. — Ela levanta para fazer o jantar, mas antes pega a mochila e me mostra um moletom.

Um moletom cor de pêssego, aquele que eu tinha esquecido. O que eu não usava desde a primeira semana de aula. O que eu estava usando na foto que estava na mesa de Noah, embora ainda não tivéssemos nos conhecido.

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

No dia seguinte, na escola, eu passo direto por Noah e aquela vaga idiota que ele sempre guarda para mim, e estaciono no que parece ser o outro lado do estacionamento.

— O que diabos? — Ian diz, olhando para trás. — Você passou direto! Olha o quanto temos que caminhar agora.

Bato a minha porta e caminhei pelo estacionamento, passando direto por Noah que está apoiado no carro, me esperando.

— Ei, olá! Alto e bonito ali encostado, você passou por ele. Emily, o que está acontecendo com você? — Ian diz, agarrando meu braço. — Vocês estão brigados?

— Não tem nada acontecendo. — Respondo, me afastando e indo em direção ao prédio.

Da última vez que chequei, Noah estava atrás de mim, mas quando eu cheguei na sala ele já estava lá. Ergo o meu capuz, e aumento os fones, fazendo questão de ignorar ele enquanto o professor faz a chamada.

— Emily. — Ele sussurra, enquanto eu olho diretamente para a frente, esperando a minha vez de responder. — Eu sei que você está chateada, mas eu posso explicar. — Continuo olhando para a frente, como se não houvesse ninguém falando comigo.

— Presente. — Respondo ao professor quando ele chama o meu nome.

— Tudo bem. — Noah suspira. — Mas lembre-se, você que pediu.

Em seguida, um horrível barulho ressoa pela sala, enquanto dezenove pessoas batem suas cabeças em suas respectivas mesas. Todos menos eu e Noah.

Olho ao redor, tentando entender o que aconteceu com as pessoas que estão com o corpo mole e de cabeça baixa.

— Era exatamente isso que eu não queria fazer. — Ele diz, tranquilamente como se nada estivesse acontecendo. — Agora vamos conversar.


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