Eu vejo pessoas mortas. O tempo todo. Na rua, na praia, no shopping, em lanchonetes, nos corredores da escola, na fila dos correios, esperando no consultório do médico, mas nunca no dentista.
Mas diferente dos fantasmas que você vê na TV e no cinema, eles não me incomodam, não querem minha ajuda e não param para conversar. O máximo que eles fazem é acenar quando percebem que foram vistos.
Mas a voz em meu quarto não era de um fantasma e também não era de Lesley. A voz no meu quarto pertencia a Noah. E foi assim que eu soube que estava sonhando.
— Hey. — Ele sorri, sentando ao meu lado segundos depois do sinal tocar. — Sua tia parece legal. — Ele olha para mim, batendo a ponta da caneta na mesa, fazendo um click click insuportável.
— Sim, ela é ótima. — Eu murmuro, mentalmente xingando o professor por demorar tanto no banheiro, esperando que ele só dê descarga e venha fazer o seu trabalho.
— Eu também não moro com minha família. — Noah diz, com a voz dele aquietando a sala e os meus pensamentos, enquanto ele desliza a caneta pelos dedos, fazendo ela dar a volta sem deixar cair.
— Onde está a sua família? — Eu pressiono meus lábios e tateio pelo meu celular no compartimento do meu moletom, me perguntando se seria rude ouvir música para bloquear ele também.
— Sou emancipado. E onde a sua família vive? — Ele pergunta, se divertindo.
— Eles estão mortos. — Respondo, quando o professor entra.
✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶
Noah olha para mim da mesa de almoço dele, enquanto eu olho todo o pátio esperando que Maya e Ian apareçam logo.
Eu acabei de abrir o meu almoço, encontrando uma rosa vermelha entre meu sanduíche e batatinhas - uma rosa! Igual a de sexta a noite. E embora eu não faça ideia de como ele fez isso, tenho certeza que Noah é responsável.
— Sobre a sua família. Eu não sabia...
Como ele veio parar aqui tão rápido? Meu Deus do céu! Como de repente ele está do outro lado do pátio, e agora está aqui na minha mesa?
— Eu não gosto de falar sobre isso.
— Eu sei como é perder alguém que amamos. — Ele se esticou através da mesa e colocou sua mão sobre a minha, me trazendo um sentimento tão bom, tão calmo e seguro que eu me permito. Não consigo dizer como sou grata por ouvir o que ele diz, não o que ele pensa.
— Desculpe interromper. — Olhei para Maya na ponta da mesa, os olhos estreitos e fixos em nossas mãos.
— Onde está Ian? — Eu afasto minha mão de Noah e a coloco no bolso como se fosse algo vergonhoso, algo que ninguém pudesse ver.
Maya revira os olhos e se senta ao lado de Noah, os pensamentos dela transformando a aura dela de um amarelo brilhante para um vermelho terrivelmente escuro.
— Ian está mandando mensagens para a sua paixão na internet, um tal de: escondidojovem259. — Ela diz, evitando me olhar enquanto se ocupa com seu bolo. Estou me sentindo horrível. — Como foi o final de semana de todos?
Eu dou de ombros, sabendo que ela não está realmente perguntando para mim. E fico surpresa por ver Noah dar de ombros também, mesmo sabendo que ele teve um final de semana muito melhor que o meu.
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All for us
Mystery / ThrillerEmily, de 18 anos, sobreviveu a um acidente de carro que matou toda a sua família. Agora ela vive com sua tia na Carolina do Sul, sendo atormentada não só pela culpa de ter sido a única sobrevivente, mas também pela sua nova habilidade: ouvir os pen...