TRINTA E SETE

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Sei que deveria gritar, correr, fazer alguma coisa. Mas ao invés disso eu fiquei congelada, minhas sandálias presas ao chão como se tivessem criado raízes.

— O amor não é uma cadela? — Ela sorri, sua cabeça inclinada para o lado enquanto me olha. — No momento que você conhece o homem dos seus sonhos, ele é bom demais para ser verdade. Pelo menos bom demais para você. — Lillian diz. — E no momento seguinte você sabe que é uma miserável e está sozinha, e bêbada a maior parte do tempo. Emily, eu me diverti tanto ao vê-la caindo no vício adolescente. Tão previsível, tão... literário. Cada garrafa de vodka que você secava, tornava sua mente mais frágil e fácil de manipular. — Ela pega o meu braço fortemente.

— O que você quer? Eu não namoro mais com Noah. Ele foi embora. — Digo a ela, tentando me soltar, mas Lillian é extremamente forte.

— Vocês mortais. — Ela estala os lábios em prazer. — São tão divertidos de provocar, alvos fáceis. Acha que eu demorei tanto tempo planejando isso para acabar tão cedo? Se eu quisesse, teria acabado com você em seu quarto enquanto eu ajustava o cenário.

Eu a olho, assimilando seu rosto sem imperfeições, seu brilhante cabelo, seu perfeitamente ajustado vestido preto, tudo exaltando sua incrível beleza, e quando ela passa a mão pelo cabelo vermelho, eu vejo sua tatuagem de ouroboros.

— Vejamos, você achou que Noah estava te chamando para cá? Desculpa te desapontar, Emily, mas fui eu. Eu amo 21 de dezembro, você não? Todos esses estúpidos góticos festejando em um estúpido desfiladeiro qualquer. — Ela da de ombros, sua tatuagem sumindo e reaparecendo em minha visão.

— Agora digamos que eu te deixe ir. — Ela enterra as unhas em meu pulso, fazendo arder a minha carne. — O que você faria? Correria? Eu sou mais rápida. Procuraria por seu amigo? Eles nem sequer estão aqui. Parece que eu a enviei para a festa errada, no desfiladeiro errado. Ops. Ela deve estar por aí procurando por mim em meio a ridículos que querem virar vampiro. — Lillian sorri. — Eu pensei que poderíamos desfrutar de uma reunião mais íntima.

— O que você quer? — Eu repito, apertando os lábios enquanto ela enterra mais as unhas.

— Não me apresse. — Ela estreita seus olhos verdes. — Onde eu parei antes de ser interrompida tão grosseiramente? Ah, estávamos falando de você e como chegou aqui. Veja só, Noah e eu nos conhecemos a muito, muito, muito, muito, muito, muito tempo. E apesar de todos os anos juntos, apesar da longevidade, você continua aparecendo e se metendo no meio. — Lillian diz.

Eu olho para o chão, me perguntando como posso ter sido tão estúpida, tão inocente. Nada disso tinha a ver com Maya, era tudo a ver comigo.

— Não seja tão dura com você mesma. — Ela interrompe meus pensamentos. — Não é a primeira vez que comete esse erro. Você tem sido responsável pela sua morte, por, vejamos... muitas vidas?

E de repente lembro o que Noah disse no estacionamento, sobre não poder me perder de novo. Mas quando eu olho para ela e vejo seu rosto endurecer, trato de esquecer dessa lembrança.

Ela caminha em torno de mim, balançando meu braço enquanto isso, fazendo-me girar.

— Vejamos, se não me falha a memória, e nunca me falha, as últimas vezes jogamos um pequeno jogo chamado doces ou travessuras. E acho que é justo informar que realmente não funciona bem para você. Mas, você gostaria de tentar novamente?

Eu a encaro, enjoada pelas voltas, os resíduos de álcool aderindo-se as minhas veias, diluindo sua ameaça.

— Alguma vez você já viu um gato matar um rato? — Lillian sorri, seus olhos brilhando, enquanto passa levemente a língua pelos lábios. — Você já viu como brincam com sua presa até que se cansam e terminam o trabalho? Emily, eu amo gatos.

— Não consigo imaginar o quanto. — Digo a ela, pensando que se eu entrar nesse jogo, ela me deixará ir.

— Bem, essa seria a parte doce. — Ela ri.

— E a travessura? — Pergunto.

— Eu gosto da sua curiosidade. — Ela suspira. — Veja bem, a travessura é... eu pretendo te deixar ir, então fico aqui observando como você corre em círculos, até que você se canse e eu prossiga com a parte doce. Então, o que será? Morte lenta? Morte agonizante e lenta?

— Por que você quer me matar? — Olho para ela. — Por que você não pode me deixar ir em paz? Noah e eu não somos um casal, eu não o vejo faz semanas.

— Não é nada pessoal, Emily. Mas Noah e eu sempre parecemos ficar muito melhores uma vez que você tenha sido... eliminada.

E mesmo pensando que eu quero uma morte rápida, agora mudei de opinião. Recuso a render-me sem lutar. Mesmo estando destinada a perder.

— Você escolheu a travessura, certo? Muito bem, então vá!

Ela solta meu braço e eu fujo para o desfiladeiro, sabendo que ali não há nada que possa me salvar, mas ainda assim eu tenho que tentar.

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