Quando eu cheguei na mesa do almoço Maya e Ian já estão prontos. Vejo Noah sentado com eles e estou prestes a fugir quando Ian diz
— Você pode se juntar a nós, mas só se você prometer não encarar ninguém. É muito rude, ninguém te ensinou?
Reviro os meus olhos e sento ao lado de Maya, determinada a fingir não me importar com a presença de Noah ali.
— Eu fui criada por animais. O que posso dizer? — Dou de ombros, me ocupando com o zíper da minha mochila.
— Eu fui criado por uma drag queen. — Ian diz, se esticando para roubar um pedaço de bolo de Maya.
— Desculpe, esse não foi você. Foi o Chandler de Friends. — Maya ri. — Eu, por outro lado, fui criada por vampiros. Eu era uma linda princesa que também era uma vampira, admirada e adorada por todos. E não faço ideia de como acabei nessa odiosa mesa de vidro com vocês perdedores. E você? — Ela aponta para Noah.
— Itália, França, Inglaterra, Espanha, Canadá, Egito, Oregon, Índia e Brasil. — Ele sorri. — Mas nasci na Itália.
— Emily viveu em Oregon. — Ian diz.
— Onde? — Noah sorri, os olhos dele nos meus.
— Eugene. — Murmuro, focando no meu lanche.
— Como você acabou aqui? — Ele se inclina para frente, fazendo com que Maya vá para mais perto dele.
— É uma longa história. — Eu consigo sentir o olhar pesado de Noah, tão pesado que acaba me deixando nervosa.
Ian pergunta sobre o Brasil e Maya fica tão perto dele que me deixa sem graça por ela.
Quando o sinal finalmente toca, pegamos nossas coisas e vamos para as aulas, e no segundo em que Noah está fora de alcance para ouvir, eu viro para os meus amigos e pergunto
— Como ele foi parar na nossa mesa?!
— Ele queria sentar na sombra, então oferecemos um lugar. — Ian dá de ombros, depositando sua garrafa na lata de lixo reciclável.
— Que merda de comentário foi aquele sobre encarar? — Eu pergunto, sabendo que estou soando ridícula.
Por que um cara como Noah andaria com a gente? De todos os garotos dessa escola, de todos os grupos que ele poderia se juntar, por que diabos ele escolheu se sentar com a gente?
— Relaxa, ele achou engraçado. — Ian diz me empurrando de leve. — E outra, ele vai na sua casa hoje. Eu pedi a ele para passar lá.
— Desculpe, você o quê?! — Eu olho para ele, me lembrando de como Maya passou o almoço todo pensando sobre o que ia usar e como isso só veio fazer sentido agora.
— Aparentemente, Noah odeia futebol tanto quanto eu. O que ficamos sabendo durante o jogo de perguntas e respostas de Maya. E já que ele é novo, e não conhece mais ninguém, achamos bom pegar ele antes que ele faça novos amigos.
— Então convidasse ele para a sua casa. Não quero o Noah em minha casa, nem hoje a noite, nem nunca.
— Eu apareço perto das 20:00. — Maya diz, com a mente finalmente decidindo o que vai usar. — Minha reunião acaba pelas 19:00, o que me dá bastante tempo para ir em casa me trocar.
Maya adianta em nossa frente e acena sobre o ombro antes de entrar na sala de aula.
— Qual reunião é hoje?
— Sexta para os comilões. — Ian abre a porta da sala para mim e sorri.
Maya é o que você chama de viciada em grupos anônimos para tratar vícios. Ela já foi a reuniões com 12 pessoas para alcoólicos, narcóticos, dependentes de relações, jogadores, viciados em internet e pessoas com medo da vida social. Até onde eu sei, hoje é a primeira vez que ela vai nos viciados em comida.
Ela não é alcoólatra, não está endividada, não é uma jogadora ou nenhuma dessas coisas. Ela só é ignorada por seus pais egoístas, o que faz ela procurar amor e aprovação de qualquer lugar.
Como isso de ser gótica. Não é que ela realmente goste disso, mas Maya aprendeu que o jeito mais rápido de se destacar entre um bando de loiras usando Gucci é se vestir como uma princesa da escuridão - como ela mesmo gosta de se chamar.
Só que não está funcionando tão bem quanto ela esperava. Na primeira vez em que a mãe a viu vestida desse jeito, apenas suspirou e saiu. E o pai dela não fica em casa tempo o bastante para realmente olhar bem.
Mas acontece que eu sei o que está por trás dos crânios e maquiagem de roqueira, é apenas uma menina boba que quer ser vista, não importa quem se machuque para isso.
Na minha antiga vida eu não andava com pessoas como Ian e Maya. Não que eu tenha sido malvada com ninguém que não fosse parte do meu grupo, não é como se alguma vez eu realmente tivesse notado eles.
Eu tinha uma melhor amiga chamada Erika, e um namorado chamado Lucas. No dia que eles foram me visitar, foram tão gentis e me deram apoio externamente, enquanto seus pensamentos me diziam outra coisa.
Estavam apavorados com as bolsas colocando líquidos em minhas veias, meu cortes e machucados e os gessos que cobriam meus membros. Sentiam muito pelo que havia acontecido, mas o que queriam de verdade era sair dali.
Eu observei enquanto a aura deles se ligava, se misturando no mesmo marrom, sabendo que estavam se afastando de mim e se aproximando.
Então, quando cheguei na escola nova, eu fui direto para Ian e Maya, que aceitaram minha amizade sem perguntas. Eu não sei o que faria sem eles. Ter a amizade deles me faz sentir quase normal de novo.
Eu não vou arriscar ferir minha amizade com Maya.
Então não posso me arriscar me aproximar demais de Noah.
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All for us
Mystery / ThrillerEmily, de 18 anos, sobreviveu a um acidente de carro que matou toda a sua família. Agora ela vive com sua tia na Carolina do Sul, sendo atormentada não só pela culpa de ter sido a única sobrevivente, mas também pela sua nova habilidade: ouvir os pen...