É estranho não ter Noah sentado ao meu lado na aula de inglês e agindo como meu botão de desligar. Acho que me acostumei tanto a tê-lo ao meu lado, que me esqueci de quão detestável Natalie e Spencer podem ser.
Mas posso ver a ironia. Posso ver o lado cômico, para alguém que chorou em um estacionamento, implorando para seu namorado desaparecer para que ela pudesse sentir-se outra vez normal, a parte cômica sou eu.
Agora, na minha vida sem Noah, todos os pensamentos aleatórios, as confusões de cores e sons são tão insuportáveis, tão terrivelmente esmagadores, que meus ouvidos vibram constantemente, enxaquecas são frequentes, me deixando nauseada e tonta, que nem meus fones e capuz estão funcionando.
Mas é engraçado como eu estava tão preocupada por mencionar a Ian e a Maya sobre nosso rompimento, que passou uma semana completa antes que eu mencionasse o seu nome.
— Só para vocês saberem, Noah e eu terminamos. — Disse a eles durante o almoço. — E ele se foi.
— Se foi? — Disseram, olhos arregalados, bocas caídas, e sem acreditar. Mesmo sabendo que eles talvez merecem uma explicação, me recuso a dizer mais alguma coisa.
Mas com a professora de artes não foi nada fácil. Uns quatro dias depois que Noah foi embora, ela andou até o meu lugar, e fez o possível para evitar a minha desastrosa tela.
— Eu sei que você e Noah eram próximos, então pensei que deveria ter isso. Creio que vai achar extraordinário. — Ela empurra uma lona para mim, mas eu coloco no canto do meu cavalete, e continuo trabalhando. Não tenho dúvida nenhuma de que está extraordinário; tudo que Noah fazia era extraordinário. Mas quando se vaga pela terra por séculos, tem muito tempo para aperfeiçoar habilidades. — Não vai olhar? — Ela pergunta, confusa pelo meu desinteresse na obra de Noah, cópia de outra obra.
— Não. Mas obrigada por me dar. — Forço um sorriso, e quando o sinal finalmente toca, carrego a lona até o meu carro, e jogo no porta-malas.
— O que é isso? — Ian pergunta quando eu bato a porta com força.
— Nada. — Me limito a responder, colocando a chave na ignição do carro.
✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶
Uma coisa que eu não esperava era me sentir tão sozinha. Acho que não percebi o quanto dependia de Noah e Lesley, para fechar as rachaduras em minha vida. E mesmo Lesley me avisando que não seria por muito tempo, não pude evitar o pânico quando se passaram três semanas.
Dizer adeus a Noah era mais difícil do que eu gostaria de admitir, mas não ser capaz de dizer adeus a Lesley é mais do que posso suportar.
No sábado, quando Maya e Ian me convidaram para ir com eles a festa anual de fantasia, aceitei pois está na hora de sair de casa. E como é a primeira vez que estou indo para isso, eles estão animados para me mostrar todos os cantos.
— Olha, não está tão bom quanto o ano passado. — Ian diz logo que compramos nossos ingressos e nos dirigimos a entrada.
— Está muito melhor! — Disse Maya, saltando em nossa frente.
— Tem sopradores de vidro. Essa é a minha parte favorita. — Ian diz, se referindo aos artesãos que sopram através de tubos, dando forma aos vasos de vidro.
— Que surpresa. — Maya ri, entrelaçando seu braço com o de Ian, enquanto eu sigo ao lado deles. Minha cabeça começa a girar por causa da energia gerada pela multidão, todas as cores, visões e sons em torno de mim, desejando ter tido a sensatez de ficar em casa onde tudo é tranquilo e seguro.
— Você vai realmente fazer isso? — Maya diz, quando eu estou a ponto de colocar meus fones de ouvido. Então eu paro e guardo de volta no bolso. Mesmo querendo me desligar daqui, não quero que pensem que estou tentando afastar eles.
— Vamos, você tem que ver os sopradores de vidros, é incrível. — Ian nos guia até um belo rapaz criando vasos coloridos usando só a boca, um tubo e fogo. — Tenho que aprender como fazer isso. — Ele suspira, hipnotizado.
Eu paro ao lado dele, observando como as cores líquidas se moldam e tomam forma, então vou para a próxima bancada onde estão vendendo bolsas realmente bonitas.
Pego uma e afago, pensando que seria bom dar de presente de natal para Alison. Embora seja algo que ela nunca compraria, talvez ela deseje em segredo. Quem sabe?
— Quanto custa? — Pergunto, me encolhendo de leve quando minha voz ecoa em minha cabeça com um eco interminável.
— Cento e cinquenta. — Eu olho para a mulher que me respondeu, observando seus jeans desbotados e um colar com o símbolo da paz, sabendo que ela está disposta a baixar mais o preço. Mas meus olhos estão ardendo tanto e a pressão em minha cabeça está tão severa, que só quero ir logo para casa.
— Obrigada. — Coloco a bolsa de volta onde estava e começo a andar.
— Mas para você, cento e trinta. — E embora eu saiba que ela ainda pode abaixar muito mais, apenas aceno e me afasto.
— Você e eu sabemos que o limite dela é noventa e cinco. Por que se rendeu tão fácil assim? — Quando me viro para ver quem disse isso, vejo uma mulher pequena, de cabelos castanhos, rodeada por uma brilhante aura roxo. — Betty. — Ela estende a mão para mim.
— Eu sei. — Respondo seca, ignorando sua mão.
— Como tem passado? — Ela pergunta, sorrindo como se eu não tivesse acabado de fazer algo rude, o que me faz sentir mal por ter feito.
Eu dou de ombros, observando o soprador de vidros, procurando por Ian e Maya e sentindo frio na barriga ao não ver nenhum dos dois.
— Seus amigos estão na fila do restaurante de tacos. Mas não se preocupe, eles também pediram algo para você.
— Eu sei. — Digo, embora não seja verdade. Minha cabeça doendo demais para ler a mente de qualquer um.
— Quero que saiba que minha oferta ainda está de pé. Eu realmente quero te ajudar a lidar com isso. — Betty sorri, agarrando meu braço quando começo a me afastar.
Meu primeiro instinto é de ir embora, me afastar dela o mais rápido possível, mas quando ela coloca a mão em meu braço, minha cabeça deixa de doer por um instante, meus ouvidos deixam de zunir e meus olhos param de lacrimejar.
Mas quando eu olho em seus olhos, recordo de quem realmente é — a mulher horrível que roubou a minha irmã — e me liberto da sua mão.
— Não acha que já ajudou o suficiente? — Pressiono os meus lábios. — Já me roubou Lesley, o que mais quer?
— Ela nunca foi tirada de ninguém. Ela sempre estará com você. — Ela diz, tentando pegar o meu braço novamente.
— Me deixa em paz. Lesley e eu estávamos bem até você aparecer. — Me recuso a escutar o que ela tem a dizer, e não importa quanto seu toque seja calmo, eu não o quero.
— Eu sei sobre as dores de cabeça. — Ela sussurra, me fitando com esse irritante olhar de quem realmente me entende e sabe o que eu sinto. — Não tem que viver assim, Emily. Eu realmente posso te ajudar.
E mesmo que eu fosse amar ter um momento de paz e deixar de ter essas avalanches de dor e ruído, me viro e afasto depressa, esperando não voltar a vê-la.
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All for us
Mystery / ThrillerEmily, de 18 anos, sobreviveu a um acidente de carro que matou toda a sua família. Agora ela vive com sua tia na Carolina do Sul, sendo atormentada não só pela culpa de ter sido a única sobrevivente, mas também pela sua nova habilidade: ouvir os pen...