SETE

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No caminho para o restaurante tudo que eu consigo pensar é em Lesley, em seus comentários e em como ela foi rude em soltar isso e desaparecer. É de se imaginar que uma pessoa morta seria mais gentil, mas Lesley é tão pirralha, mimada e horrível quanto era quando estava viva.

Alison deixa o carro com o manobrista parado a frente do restaurante e nós entramos. E no momento que eu vejo o grande salão de entrada, os arranjos de flores eu me arrependo de tudo que acabei de pensar.

Lesley tinha razão. Esse era um lugar chique. Muito chique. Como o tipo de lugar que você traria alguém rico para um encontro - e não sua sobrinha triste.

Um garçom nos levou até uma mesa adornada com velas que parecem pequenas pedras prateadas. Quando tomo meu lugar e olho ao redor, não dá pra acreditar quão glamouroso esse lugar é. Não tem nada dos restaurantes que estou acostumada a frequentar - e quando eu digo restaurante, quero dizer lanchonete perto de casa.

Ela pede vinho para ela e suco para mim, então olhamos o cardápio e decidimos o que vamos comer.

— Então, como vai tudo? Escola? Seus amigos? Tudo bem? — Eu amo minha tia e sou agradecida por tudo que ela fez e faz. Mas ela da conta de um júri com 12 pessoas, e não de levar papo comigo. Ainda assim, eu apenas respondo educada.

— Sim. Está tudo bem. Quero dizer, tudo caminhando como deve ser. — Ela coloca sua mão em meu braço e tenta dizer algo a mais, mas antes que ela consiga falar, eu já levantei e saí da minha cadeira. — Eu já volto.

Vou na direção que uma garçonete me indicou, passando por um corredor de espelhos, todos gigantes e emoldurados, alinhados em uma fileira.

Um grupo de pessoas passa por mim, a aura deles brilhando com uma energia de álcool que é tão forte que está me afetando também, me deixando tonta, nauseada e com a cabeça tão perturbada que, quando eu olho para os espelhos, eu vejo uma carreira de Noah's me olhando.

Empurro a porta do banheiro, agarrando o balcão de mármore e lutando para recuperar meu fôlego. Acho que já me acostumei tanto com essa energia aleatória que eu encontro em todo lugar, que eu esqueci o quão cansativa ela pode ser quando eu estou sem meus fones de ouvido e capuz.

Mas o grande choque eu recebi quando Alison colocou sua mão no meu braço. O toque rápido dela veio carregado de solidão e tanta tristeza contida que foi como um soco no meu estômago.

As vezes, eu esqueço que não sou a única com pessoas para sentir falta, que mesmo que ela tenha me acolhido e vem tentando me ajudar, ela se sente tão triste com isso quanto eu.

E por mais que eu queira dar um abraço nela e dizer que vamos passar por isso juntas, eu não posso. O melhor que posso fazer é passar pela escola e ir para a faculdade, para que Alison volte a viver sua vida normalmente. Talvez assim ela possa conversar melhor com aquele cara que trabalha no prédio dela. O que ela não conhece direito. Aquele cujo rosto eu vi no momento que ela me tocou.

Eu passo as mãos pelo cabelo, ajeito bem minha roupa e volto para mesa, determinada a tentar fazer ela se sentir melhor.

— Então, algum caso interessante no trabalho? Algum cara bonito?

E assim iniciamos nossa conversa.

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

Depois do jantar, espero Alison do lado de fora enquanto ela fica na fila para pagar o manobrista. Estou tão distraída com um drama de casal na minha frente, que quase pulo quando sinto uma mão no meu ombro.

— Claro que é você. — Eu digo, com meu corpo inteiro formigando no segundo que meus olhos encontram os dele.

— Você está incrível, Emily. — Noah diz, novamente sem aura. — Eu quase não te reconheci sem o capuz. Gostou do jantar?

— Sim, claro. A comida é realmente muito boa. — Estou impressionada por estar conseguindo fazer isso.

— Eu te vi no corredor. Teria dito olá, mas você parecia estar com pressa. — Eu olhei bem para ele, me perguntando o que ele estava fazendo aqui, sozinho, em um restaurante chique como esse. Vestido com um terno completamente preto e sem gravata. — Visitantes de fora da cidade. — Ele diz respondendo a pergunta que eu não havia feito.

E quando estou pensando no que dizer, Alison aparece.

— Boa noite. — Noah diz, com um sorriso.

— Hum, esse é o meu colega de escola, tia. Ele acabou de se mudar do Brasil, mas nasceu na Itália.

— Fiquei sabendo que é um país com cultura rica. — Alison diz sorrindo, e eu fico tentada a perguntar se ele causou o mesmo efeito nela.

— Alison é advogada. — Murmuro, me focando na direção que o carro irá chegar em dez, nove, oito, sete...

— Estamos voltando para casa, mas você é bem vindo a se juntar a nós. — Minha tia sem noção oferece.

Eu olho para ela, me perguntando como não consegui ver na cabeça dela que isso estava vindo.

— Obrigada, mas eu preciso voltar. — Ele aponta seu polegar por cima do ombro, e meus olhos seguem naquela direção, parando em uma ruiva incrivelmente linda, vestida em preto como Noah.

Ela sorri para mim, mas não é gentil. Só lábios com batom vermelho se curvando. Mas tem algo na expressão dela, a inclinação do queixo, está em uma visível zombação.

Eu viro para olhar Noah, surpresa por encontrar ele parado tão perto. Então, ele passa os dedos atrás da minha orelha e tira uma rosa vermelha de lá.

E então eu estou indo para o carro com Alison, enquanto ele volta para sua companheira. Eu olho para a rosa e me pergunto de onde diabos ela veio.

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

Já é tarde da noite quando estou sozinha em meu quarto oscilando entre dormindo e acordada, quando percebo que a ruiva também não tinha uma aura, o que torna tudo muito mais esquisito.

Eu devia estar em um sono realmente profundo, mas ouço algo se movendo em meu quarto e minha cabeça está tão grogue que não me preocupo em abrir os olhos.

— Lesley? É você? — Mas quando ela não responde, eu sei que ela está prestes a fazer suas brincadeiras de sempre. E já que estou cansada demais para brincar, eu agarro meu outro travesseiro e o coloco por cima da minha cabeça. — Olha, eu estou muito cansada, ok? Desculpe por ter sido maldosa com você. Sinto muito se te magoei, mas não estou com vontade de fazer isso agora.

Só que, agora que eu disse isso tudo, estou completamente acordada. Então jogo o travesseiro para o lado e olho para a sombra dela sentada na minha mesa, me perguntando o que poderia ser tão importante que ela não podia esperar até de manhã.

— Eu disse que sinto muito, ok? O que você mais quer?

— Você consegue me ver? — Ela pergunta, saindo da minha mesa.

— Que diabos Lesley. É claro que eu posso te ver.

Então eu paro e congelo, ao perceber que essa voz não é da minha irmã.

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