Aquela estava sendo uma segunda-feira bastante entediante para Daniel. Ele estava preso em sua bolha a quase uma semana, não pretendendo sair tão cedo, mas era obrigado a socializar às segundas, quartas e sextas com o emprego. Por mais que Félix e Martin o importunassem e tentassem arrancar algumas míseras palavras, ele se recusava.
Seu final de semana tinha sido bastante longo e solitário. Tinha deixado a sua guitarra na casa de Julie na semana anterior, e não voltaria lá para pegar. Ele ainda tinha a pretensão de continuar com a banda, já que cortar todas as relações com a garota machucaria ainda mais. Mas isso não o impedia de mergulhar de cabeça na música.
Foram pelo menos três letras de dor e sofrimento, no nível em que a própria caneta deixava lágrimas mancharem o papel, marcando com tudo a volta do Apolo 81. O sucesso humilhação e sofrimento não era nada se comparado àquilo, mas se estava o ajudando a passar o tempo, estava valendo.
Os Insólitos muito provavelmente não teriam músicas novas por um bom tempo se dependesse apenas dos dois vocalistas.
Entediado, Daniel suspirava no caixa da loja de instrumentos. Ele tinha quase certeza que ninguém se atreveria a sair de casa com o temporal que caía do lado de fora. Ele mesmo havia chegado na loja igual a um pinto molhado, com os cabelos escorrendo de água, um estado deplorável.
Ele torcia para não ficar doente no final do dia.
-Tá paradão isso aqui hoje. - Lucas puxou papo, se recostando no balcão junto do colega.
-Eu estranharia caso alguém aparecesse aqui.
-Como você tá? Ainda está brigado com a sua namorada?
-Eu duvido que façamos as pazes tão cedo. Ela está em período de provas até a quinta feira, então não me aproximaria dela até o sábado. Mas com isso... Eu tenho medo. Medo dela terminar comigo.
-Mas o que aconteceu, Daniel?
-Acreditaria se eu dissesse que eu assombrei o ex crush dela quando ainda era um fantasma? - Ele completou com um sorrisinho, dando a entender que era brincadeira.
-Depende, assombrou do tipo perseguir ou....
-Do tipo convencê-lo a não se aproximar dela. Ela era apaixonada por ele, mas ele não dava a mínima, ficava brincando com os sentimentos dela e quando eu percebi que ele poderia começar a sentir o mesmo, tentei impedir. Não queria vê-la mais machucada.
-Acho que entendi o seu ponto. E o dela também. Acha mesmo que ela pode terminar com você?
-É uma coisa que eu não quero descobrir.
A chuva não dava sinais de que melhoraria em algum momento, começando a movimentar os dois rapazes para protegerem as portas e janelas, para que a água não entrasse no ambiente e estragasse os instrumentos. Daniel estava absorto na janela em que havia ajudado Julie a passar quando ouviu o seu chefe o chamar de longe.
-Daniel, meu filho! Tenho a oportunidade perfeita para você!
-O que aconteceu, senhor?
-Acho que é o dia ideal para o seu pocket show!
-Mas.... Mas.... Não tem ninguém aqui....
-Nós temos internet e uma câmera. Podemos transmitir para nossa página no facebook, além de filmar para colocar no youtube. Você deixa, não é?
-Deixo, mas.... Senhor, eu não estou no clima para cantar....
-Ele brigou com a namorada, estão por um fio de terminar. - Lucas passou a fofoca, preocupando o chefe deles.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mais uma chance
FanfictionOnde Daniel, Martin e Félix tem mais uma chance de voltarem a vida e finalmente conseguirem o sucesso tão esperado com a banda. Entre novos empregos e relacionamentos - quando Martin poderia esperar que seria um dos finalistas dos Colírios Capricho...