Quarenta e cinco

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Quando menos esperavam, finalmente a segunda semana de dezembro tinha chegado, e com ela o dia em que Julie e todos os garotos passavam a ser exclusivamente da gravadora, em tempo integral. Com a formatura, a única vez que Julie precisaria voltar na escola seria dali a duas semanas, para a festa de formatura - onde a sua banda tinha sido convidada a se apresentar em um show particular, em homenagem aos primeiros shows deles no ano anterior.

Mas passando tempo integral no estúdio, uma questão muito importante precisava ser levantada - o que já tinha sido protelado por bastante tempo.

-Eu preciso que vocês pensem na possibilidade de outro integrante, rapazes. - Rick tinha levantado a pauta no primeiro dia. - É uma nova era de vocês, e é totalmente inviável continuarmos a terceirizar os outros instrumentais sem que eles conheçam vocês. Os shows serão mais frequentes a partir de agora e precisaremos de pelo menos mais um com vocês no palco.

-Mas acrescentar outro mascarado? Não iriam dizer que perdemos a nossa essência? - Félix foi o primeiro a se pronunciar.

-Fora que o lance das máscaras é sobre ser um significado, não um capricho. Se existir outro fantasma disposto a enfrentar Demétrius apenas para tocar na banda, beleza, mas... - Daniel tinha ficado nervoso, na verdade, enciumado.

-Não necessariamente mais um mascarado, isso é com vocês, mas Julie também está no palco e apenas usa pintura facial. Olha, não estou dizendo para colocar a nova pessoa em evidência junto com vocês, mas ter outro instrumentista facilitaria muito as samples exibidas ao vivo. E ele não precisa necessariamente conhecer vocês agora, podem se acostumar com a sua presença....

-Acho que eu tenho uma ideia. - Julie se pronunciou. - Precisamos de mais um instrumentista, certo?

-Exatamente.

-E o requisito é ser um fantasma, certo?

-Julie, Demétrius não.... - Martin tentou avisar, mas foi cortado.

-Não Demétrius, mas Josias. Ele é tecladista, fez parte da banda original e era para ele ter sido o fantasma, não vocês. Ele cumpre todos os requisitos.

-Julie.... - Daniel alertou a namorada, com temor e cautela nos olhos.

-Demétrius mesmo prometeu que nada aconteceria com ele, e não vai ser a presença dele que vai matar vocês de novo. Qual é, gente! O maior sucesso dele foi no final dos anos 80, ele merece mais uma chance, assim como vocês.

-Mas Julie, entenda...- Martin tentou se explicar. - Nós três morremos juntos, no lugar dele, e permanecemos juntos por trinta anos. A Apolo 81 continuou viva na gente, mas para ele não.

-Justamente, não somos a Apolo, mas os Insólitos. Se vocês puderam tentar mais uma vez aqui, eu voto para que ele também possa. Metade dessa banda estava morta até o final do ano passado, porque estão implicando tanto com isso? Ele também era amigo de vocês, não era?

Aquilo fez Félix ficar pensativo, acertando em cheio o seu ponto fraco. Josias, Daniel e Martin tinham sido a sua tábua de salvação em forma de melhores amigos, e se eles tinham tido uma segunda chance, nada mais justo do que compartilhar o mesmo com o amigo a tanto esquecido pelo tempo, que também compartilhou do mesmo sonho que eles nos momentos bons e ruins de antes. Olhando para Daniel, Félix perguntou silenciosamente o que ele achava de tudo aquilo, percebendo que o mais novo sentia o mesmo.

-Ah, gente... É sério? Não é que eu não goste dele, mas ele não vai ter a menor ideia de quem a gente é, se esqueceram? Não acham que vai ser doloroso demais? - Martin usou os últimos argumentos que tinha, sendo completamente ignorado.

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