Quarenta e seis

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-BOA NOITE, GALERAAA! - Julie gritou no microfone, levando a plateia à loucura.

A turnê tinha começado apenas a três semanas, mas já tinha sido o suficiente para todos eles terem a constatação de que era aquilo que queriam fazer pelo resto das suas vidas. Toda a energia, pulsação e emoção que conseguiam sentir cada vez que subiam aos palcos era totalmente diferente do anterior - o que os instigava mais e mais a continuar e inovarem.

A dinâmica preparada e montada a cada cidade que chegavam não era diferente: com um palco amplo para caberem todos e com espaço suficiente para pularem de lá para cá, Josias ficava com o teclado na parte da direita, seguido de Martin com o baixo, Félix e sua bateria e um tablado para ser visto, enquanto Daniel com a guitarra na parte da esquerda. Julie não tinha um lugar fixo - e na verdade nem Daniel e Martin, que se movimentavam o máximo permitido pelos instrumentos.

Naquele meio tempo, tinham entendido que se quisessem implementar a dança nos shows ao vivo precisariam de muito mais tempo que o normal, já que era quase impossível para Julie ter controle sobre seus pés e boca ao mesmo tempo, ao menos em uma coreografia. Assim, a melhor tática usada era a de simplesmente apenas andar, correr e pular entre os integrantes - sempre tomando cuidado com fios e cabos pelo caminho.

O público tinha recebido bem Josias - ainda mais por ele não interferir no trio principal de mascarados. Assim como Julie, a sua caracterização se baseava em pintura facial: enquanto ele passava a usar a tradicional faixa nos olhos com linhas pela sua testa, Julie variava entre os mais variados desenhos, mas principalmente tendo preferência por metade do seu rosto ser rosa, em uma linha imaginária passando pelo seu nariz e maxilar - o que resultava em um olho super rosa e o outro maquiado pesadamente. Suas roupas foram substituídas por calças de couro e saias de tule, com jaquetas estilizadas compondo o visual. Já os garotos haviam recebido máscaras mais realistas que ainda impediam que vissem seu cabelo, mas trouxesse um ar mais animal ao rosto deles - mas sem animal print, por favor!

Seu Raul tinha acompanhado eles apenas no show de virada do Rio de Janeiro, sendo obrigado a deixá-los sozinho depois disso, precisando compreender que a sua filha já tinha crescido o suficiente.

-Fica de olho nela, Daniel.

-Com toda certeza, seu Raul. Pode deixar que não vou tirar meus olhos de Julie nem por um segundo.

O que apenas fez Félix e Martin rirem de forma desdenhosa para Julie.

-Acho que seu Raul não sabe bem o que acabou de pedir para Daniel. - Félix riu.

-Ele por acaso já sabe das vezes que você disse que ia pra Shizuko, mas na verdade ia lá para o apartamento? - Martin cutucou a amiga.

-Se você ousar falar disso perto dele, eu juro que conto para os pais de Shizuko que o namorado dela é mais velho!

-Dois anos de diferença não é muita coisa!

-Julie, reparou como Martin não corrigiu o namorado? - Félix alfinetou. - Acho que ele finalmente aceitou que...

-Que corrigir vocês é perda de tempo? É, mas isso não significa que eu e Shizuko estejamos namorando, apenas não me dou mais ao trabalho de provar a vocês que...

-Martin finalmente aceitou que está namorando? - Daniel tinha se juntado aos amigos, que esperavam para embarcar no ônibus em direção ao Espírito Santo quando ouviu o mais velho desistir de tudo.

-EU NÃO ESTOU NAMORANDO!

Ele tinha pouca paciência, aparentemente.

Outra surpresa para eles foi o ônibus de viagem - que ao contrário de um ônibus de viagem comum, nada mais tinha do que dois quartos e uma sala com mesa e cadeira, para que desfrutassem de um pouco de conforto durante a estrada. Ele tinha apenas um pequeno problema de logística: um quarto tinha dois beliches, mas o outro uma cama de casal bem pequena, apenas para alocar quem tinha ficado de fora do sistema de camas duplas. Embora tivessem argumentado para Julie ficar com o conforto maior, ela se recusou, com um esquema de revezamento de cama sendo elaborado, de forma que todos pudessem ter um conforto maior.

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