O último cap de hoje. Amanhã posto mais
Boa Leitura.
POV. VOLTAN MARZIN.
Me olho no espelho e estudo meu rosto. Estou toda de preto. Saia preta, sandália preta e a camiseta preta da Babi, que vesti com um cinto. Meu rosto parece meu rosto, mas diferente.
Não é o rosto de uma adolescente despreocupada que foi aceita em quatro faculdades e tem pais bacanas e amigos bacanas e a vida inteira pela frente. É o rosto de uma garota triste e solitária que passou por algo ruim. Me pergunto se algum dia meu rosto vai ser como antes ou se sempre verei isso em meu reflexo — Babi, Gaby, perda, dor, culpa, morte.Mas as outras pessoas veem isso? Tiro uma foto com o celular, abrindo um sorriso falso, e quando vejo como ficou, ali está Voltan Marzin. Poderia postá-la no Facebook neste momento,e ninguém saberia que tirei Depois e não Antes.
Meus pais querem ir comigo ao enterro, mas não deixo. Estão muito em cima de mim. Toda vez que me viro, encontro seus olhos preocupados, e o jeito como olham um pro outro, e tem mais uma coisa — raiva. Não estão mais bravos comigo, porque estão furiosos com a sra. Passos, e provavelmente com a própria Babi, apesar de não terem dito. Meu pai, como sempre, fala mais que minha mãe, e escuto ele falando sobre “aquela mulher” e sobre como
ele queria dizer umas verdades pra ela, antes de minha mãe dizer pra ele ficar quieto, Voltan pode ouvir você.---------------------------//--*--//-----------------------
A família dela está na frente. Está chovendo. É a primeira vez que vejo o Tio dela, que é alto e tem ombros largos e é lindo como um ator de cinema. A mulher tímida que deve ser Mulher do tio dela está ao lado, com o braço em volta de um garotinho muito pequeno. Perto estão Decca, Milena e a sra. Passos. Todos choram, até o Tio.
O Golden Acres é o maior cemitério da cidade. Estamos no topo de uma colina, ao lado do caixão, meu segundo enterro em um ano, embora Babi quisesse ser cremada. O pregador cita versos da Bíblia, e a família chora, e todos choram, até Amanda e algumas líderes de
torcida. Bak e Nobru estão ali, além de mais ou menos duzentas outras pessoas da escola.Também reconheço o diretor PlayHard e o sr. Black e a sra. Ana e o sr. Jesus da orientação pedagógica. Fico em um dos lados, com meus pais — que insistiram em vir — Isa e Victor. A mãe da Isa está aqui, com a mão no ombro da filha.
Victor está em pé, as mãos cruzadas na frente do corpo, olhando pro caixão. Isa olha pro Nobru e pros outros do bando da choradeira, com os olhos secos e furiosos. Sei o que ela está sentindo. Essas pessoas a chamavam de “aberração” e nunca deram atenção a ela, a não ser pra tirar sarro ou espalhar boatos, e agora estão agindo como carpideiras profissionais, daquelas que se pode contratar pra cantar, chorar e rastejar no chão. O mesmo vale pra família dela.
Depois que a pregação termina, todos vão até a família pra apertar as
mãos e oferecer condolências. A família aceita como se merecesse. Ninguém diz nada pra mim.
Então fico parada com a camiseta preta da Babi , pensando. Em todas as suas palavras, o pregador não mencionou suicídio. A família está chamando a morte de acidente porque não encontrou nenhum bilhete, então o pregador falou sobre a tragédia de alguém morrer tão
jovem, uma vida terminada cedo demais, com tantas possibilidades nunca realizadas. Fico ali, pensando em como não foi um acidente e em como “vítima de suicídio” é um termo interessante. “Vítima” implica que a pessoa não teve escolha. Talvez Babi não achasse mesmo que tinha escolha, ou talvez não estivesse tentando se matar, mas procurando o fundo.Nunca vou saber, não é mesmo?
Então penso: Você não pode fazer isso comigo. Foi você quem me deu um sermão sobre o valor da vida. Foi você quem disse que eu tinha que sair e ver o que estava bem na minha frente e aproveitar ao máximo em vez de só esperar o tempo passar e encontrar minha montanha, porque minha montanha estava esperando, e tudo isso faz parte da vida. E aí você vai embora. Você não pode fazer isso. Principalmente porque sabe o que passei quando perdi Gaby. Eu estou com um bebê dentro de mim, um bebê nosso. Ainda acho que não é você na droga daquela caixa pequena que você está agora, não parece você.Tento lembrar das últimas palavras que disse a ela, mas não consigo. Só lembro que eram palavras de raiva banais. O que eu teria dito se soubesse que nunca mais a veria?
Quando todos começam a se separar e ir embora, Bak vem até mim.
— Ligo pra você depois?
É uma pergunta, então faço que sim com a cabeça. Ele acena de volta e vai embora.Victor murmura:
— Bando de falsos! — Não tenho certeza se está falando dos nossos colegas ou da família de Babi ou de toda a congregação.Isa diz, com raiva:
— De algum lugar, Babi está assistindo a isso e pensando “O que vocês esperavam?”. Espero que esteja mandando eles pra quele lugar.A sra. Passos foi quem identificou o corpo oficialmente. Os documentos dizem que, quando foi encontrada, Babi provavelmente estava morta havia muitas horas.
— Vocês acham mesmo que ela está em algum lugar? — pergunto. Isa me olha intrigada.
— Tipo, qualquer lugar? Quer dizer, prefiro pensar que, onde quer que esteja, talvez não consiga nos ver porque está viva num outro mundo, melhor que este. O tipo de mundo que ela teria criado se pudesse. Eu gostaria de viver em um mundo criado por Bárbara Passos. — E penso: Por um tempo, eu vivi.Antes que Isa responda, a Tia de Babi de repente aparece ao meu lado, os olhos vermelhos fixos em mim. Ela me abraça e me aperta como se nunca mais fosse soltar.
— Ah, Voltan — chora. — Ah, menina, como você está?
Eu a afago como se ela fosse uma criança, e de repente o sr. Fernando aparece ali também, e me abraça com seus braços enormes, o queixo na minha cabeça. Não consigo respirar, e então sinto alguém me puxando e ouço meu pai dizendo:
— Acho que vamos levá-la pra casa. — Sua voz é seca e fria. Deixo que ele me leve pro carro.Em casa, remexo o jantar e ouço meus pais conversarem sobre Tios de Babi em um tom de voz controlado e equilibrado, escolhido cuidadosamente pra não me deixar chateada.
— Eu queria ter dito algumas verdades praquelas pessoas hoje — meu pai comenta.
— Ela não tinha o direito de pedir aquilo pra Voltan — minha mãe diz. Então olha pra mim e pergunta, muito calma: — Quer mais salada, querida?
— Não, obrigada.
Antes que comecem a falar de Babi e do egoísmo que é cometer suicídio, tirar a própria vida sendo que Gaby teve a dela tirada e não pôde escolher — que desperdício, que coisa
mais horrível e burra de se fazer —, peço licença pra levantar, apesar de mal ter tocado na comida. Não preciso ajudar com a louça, então subo e fico sentada no closet. Meu calendário
está jogado em um canto. Abro, estico as páginas e olho pra todos os incontáveis dias em branco, que não risquei com um “X” porque foram dias que passei com Babi .Coloco a mão sobre minha barriga que já está um pouco grandinha, mas não o suficiente para que notem, não ainda. As lágrimas apenas saiem e penso:
Odeio você
Se eu soubesse.
Se eu tivesse sido suficiente.
Eu decepcionei você.
Eu queria ter feito alguma coisa.
Eu devia ter feito alguma coisa.
Foi minha culpa?
Por que não fui suficiente?
Volte.
Eu amo você.
Sinto muito.
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30 Dias 30 Motivos - Babitan G!P
Fanfiction*CONCLUÍDA E EM REVISÃO* " Nunca imaginei que iria me apaixonar por uma garota." "Me dê 30 dias, e te darei 30 motivos para você ficar!" " Porque você se foi ? Porque fez isso? Eu poderia ter feito algo?" Depois da perda de sua irmã Carolina Volta...