Ainda desaparecida/Grávida?!

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POV. BÁRBARA
DIA 80
(UM P*TA RECORDE MUNDIAL)
No poema "Epílogo", Robert Lowell pergunta: "Mas por que não dizer o que aconteceu?".
Respondendo, sr. Lowell, não sei ao certo. Talvez ninguém saiba. Tudo o que sei e que fico pensando: Quais sentimentos são reais? Quais dos meus eus sou eu? Só há um eu de que
realmente gostei, e esse eu, ficou bem e desperta o máximo possível.

Não pude evitar a morte do passarinho, e isso fez com que me sentisse responsável. De certa forma, eu fui - nós fomos, minha família e eu -, porque nossa casa foi construída onde a árvore dele costumava ficar, a árvore pra onde ele tentava voltar. Mas talvez ninguém pudesse ter evitado.
Você foi, sob todos os aspectos, tudo o que alguém poderia ser.[...] Se existisse alguém capaz de me salvar, seria você.

Antes de morrer, Cesare Pavese, crente no Grande Manifesto, escreveu: Não nos lembramos de dias, nos lembramos de momentos.

Lembro de correr por uma estrada a caminho de um viveiro cheio de flores.
Lembro de seu sorriso e sua risada quando eu estava no meu melhor, e de ela me olhar como se eu não pudesse fazer nada de errado e fosse completa. Lembro de ela me olhar desse jeito mesmo quando não estava no meu melhor.
Lembro de sua mão na minha e dessa sensação, de que alguma coisa e alguém me pertenciam.

POV. VOLTAN MARZIN
A primeira mensagem vem na quinta-feira. A verdade é que todos aqueles dias foram perfeitos.
Assim que leio, ligo pra Babi, mas ela já desligou o celular e cai na caixa postal. Em vez de deixar uma mensagem de voz, escrevo de volta:
Todos estamos muito preocupados. Eu estou preocupada. Minha namorada desapareceu. Por favor, me ligue.

Horas mais tarde, ela escreve
Babi : Não desapareci. Me encontrei.
Respondo imediatamente : Onde você está? Mas ela não responde.

Meu pai mal fala comigo, mas minha mãe consegue conversar com a sra. Passos, que diz que a sobrinha tem mantido contato pra avisar que está bem, pra ela não se preocupar, e que promete mandar notícias toda semana, o que significa que vai ficar fora um tempo. Não há necessidade
de chamar um psiquiatra (mas obrigada pela preocupação). Não há necessidade de ligar pra polícia. Afinal de contas, às vezes ela faz isso. Parece que minha namorada não está desaparecida.
Mas ela está.
- Ela disse pra onde foi? - Quando pergunto, vejo que minha mãe parece preocupada e cansada e tento imaginar como seria se fosse eu a desaparecida, não Babi. Meus pais fariam com que todos os policiais de uns cinco estados diferentes me procurassem.
- Se ela disse, ela não me contou. Não sei o que mais podemos fazer. Se nem os Tios não estão preocupados... Bom, acho que precisamos confiar que Babi está falando a verdade e está bem. - Mas ouço tudo o que ela não está dizendo: Se fosse minha filha, eu mesma estaria atrás dela pra trazê-la de volta pra casa.

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Na escola, sou a única que parece sentir sua falta. Afinal de contas, ela é só mais uma causadora de problemas que foi expulsa. Nossos professores e colegas já se esqueceram dela.
Então todos agem como se nada tivesse acontecido e tudo estivesse bem. Vou pra aula e toco em um concerto da orquestra. Faço a primeira reunião da Semente, somos vinte e duas, só garotas, com exceção de Gs e Jordan. Tive resposta de duas outras faculdades - Stanford, um não, e UCLA, um sim. Pego o celular pra contar pra Babi, mas a caixa postal está lotada. Nem tento mandar mensagem de texto. Sempre que escrevo, ela leva um tempão pra responder, e quando responde nunca é uma resposta real a alguma coisa que eu mandei.
Começo a ficar brava.

Dois dias depois, Babi escreve : Estou no galho mais alto.
Na manhã seguinte : Fomos escritos a tinta.
No mesmo dia a noite : Acredito em sinais.
Na tarde seguinte : O seu brilho.
No dia seguinte : Um lago. Uma prece. É tão adorável ser adorada em Particular.
Então tudo fica quieto de novo.

30 Dias  30 Motivos - Babitan G!POnde histórias criam vida. Descubra agora