Parque Bibliotecas Móveis.

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Pov. Bárbara
DIA 15 (AINDA ESTOU DESPERTA)

Vou pra casa de Voltan cedo e encontro os pais dela tomando café da manhã. Ele tem barba e é sério e tem linhas de expressão bem marcadas em volta da boca e dos olhos, e ela parece o que Voltan vai ser daqui a uns vinte e cinco anos. todos os traços um pouco mais acentuados. Os olhos são calorosos mas a boca é triste.

Eles me convidam pra tomar café junto, e pergunto como Voltan era antes do acidente, pois só a conheci depois. No momento em que ela desce, eles estão contando da vez em que ela e a irmã iam pra Nova York nas férias, há dois anos, mas em vez disso decidiram seguir o Boy
Parade de Cincinnati a Indianápolis e então até Chicago pra tentar conseguir uma entrevista.

Quando Voltan me vê, diz, como se eu fosse uma miragem:
- Babi ?
- Boy Parede? - questiono.
- Ai, meu Deus. Por que vocês contaram isso?

Não consigo evitar, começo a rir, o que faz com que a mãe dela comece a rir, e o pai também, até que nós três estamos rindo como velhos amigos enquanto Voltan nos encara como
se fôssemos loucos.
Mais tarde, Voltan e eu estamos em frente à casa dela e, como é sua vez de escolher o destino, ela me dá uma ideia de qual vai ser a rota e me diz pra segui-la. Então sai pelo gramado em direção à rua.

- Não trouxe a bicicleta. - Antes que ela responda, levanto a mão como se fizesse um juramento.
- Eu, Bárbara Passos , por não estar em pleno gozo das minhas faculdades
mentais, juro por meio desta não dirigir a mais de sessenta quilômetros por hora na cidade nem cento e dez na estrada. Se a qualquer momento você quiser parar, paramos. Só peço que me dê uma chance.
- Está nevando.
Exagero dela. A neve mal está caindo.
- Não do tipo que escorrega. Olha só, já andamos tudo o que podíamos de bicicleta. Podemos ver muito mais lugares se formos de carro. Quer dizer, as possibilidades são praticamente infinitas. Pelo menos entre. Faz isso por mim. Senta lá e eu fico bem longe, não chego nem perto, até você ter certeza de que não vou encurralá-la e começar a dirigir.

Ela fica parada perto da calçada.
- Você tem que parar de tentar convencer as pessoas a fazer o que elas não querem. Você é simplesmente invasiva e diz "vamos fazer isso", "vamos fazer aquilo", mas não ouve. Você não pensa em ninguém além de si mesma.
- Na verdade, estou pensando em você escondida naquele quarto ou em cima dessa bicicleta laranja idiota. Tenho que ficar aqui. Tenho que ir ali. Aqui. Ali. Vai e volta, mas não chega a nenhum lugar novo nem passa de um raio de cinco ou seis quilômetros.
- Talvez eu goste desses cinco ou seis quilômetros.
- Não acredito nisso. Hoje de manhã seus pais mostraram a pessoa que você costumava ser. A outra Carolina parece divertida e até meio durona, mesmo tendo um gosto musical
horroroso. Agora tudo o que vejo é uma garota morrendo de medo de viver. Vejo as pessoas darem um empurrãozinho de vez em quando, mas nunca forte o suficiente porque não querem contrariar a pobre Carol. Você precisa de um baita tranco, não de um empurrãozinho. Você precisa retomar as rédeas. Ou vai ficar em cima do parapeito que construiu pra si mesma pra sempre.

De repente, ela passa correndo por mim. Entra no carro e senta, olhando em volta. Apesar de eu ter tentado limpar um pouco, o painel está cheio de tocos de lápis e pedaços de papel,
bitucas de cigarro, um isqueiro, palhetas. Tem um cobertor no banco de trás, e um travesseiro, e pelo jeito que está me encarando dá pra perceber que ela viu.

- Ah, relaxa! O plano não é seduzir você. Se fosse, você saberia. Cinto. - Ela coloca o cinto. - Agora feche a porta. - Estou em pé no gramado, braços cruzados enquanto ela puxa
a porta.

Então vou até o lado do motorista, abro a porta e coloco a cabeça pra dentro enquanto ela lê o que está escrito na parte de trás de um guardanapo de um lugar chamado Harlem Avenue Lounge.
- O que me diz, Loirinha?
Ela inspira fundo. Solta o ar.
- Tá bom.

30 Dias  30 Motivos - Babitan G!POnde histórias criam vida. Descubra agora